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O blues perde seu rei, B.B. King

BB King foi o último herói de sua geração na estrada e sua despedida começa a apagar uma era

B.B. King durante apresentação em 1996: "eu serei um garoto até o dia de minha morte", afirmou (REUTERS/Laszlo Balogh/Files)
DR

Da Redação

Publicado em 15 de maio de 2015 às 10h03.

São Paulo - Uma noite de inverno definiu quem era BB King. Foi no Arkansas, em 1949, quando ele tocava músicas de Pee Wee Crayton para animar o baile.

Era então um garoto de 24 anos com sua guitarra Gibson L-30 que havia acabado de comprar e turbinar com um captador a mais.

Estava feliz e realizado mesmo na noite fria, aquecida pelos rodopios dos casais que um dia chamariam aquilo de rock and roll e pelo querosene que queimava dentro de um latão de lixo colocado no canto do salão.

As vozes então ficaram mais altas do que os solos e dois rapazes se agarraram aos socos. Saíram rolando pelo salão, derrubaram o latão e só pararam quando as chamas se alastraram pela casa. King, seus músicos e todos os dançarinos saíram quase juntos pela única porta do bar. Mas Lucille, não.

O fim de Lucille, escreveu BB King em seu livro de memórias batizado Corpo e Alma do Blues, lançado em 1996, seria seu fim também.

Desnorteado, ele livrou-se dos amigos que tentavam contê-lo e correu pelas chamas para buscá-la. As vigas da casa já caíam quando ele a avistou.

E assim descreveria o episódio, quase 50 anos depois: "Salto a viga no momento em que a parede desmorona atrás de mim... Abaixo a cabeça, abraço a guitarra e parto como um raio para fora. A noite é uma visão maravilhosa. Minhas pernas estão chamuscadas, mas minha guitarra está bem."

A história se tornou um clássico e Lucille, o nome da mulher pela qual os dois rapazes se engalfinharam naquele bar, ficou para sempre.

"Com a possível exceção do sexo de verdade com uma mulher de verdade, nada me traz tanta paz de espírito quanto Lucille", diria depois.

BB King foi o último herói de sua geração na estrada e sua despedida começa a apagar uma era. Dos bluesmen em atividade, destes que salvam guitarras de incêndios, só sobrou Buddy Guy, hoje com 78 anos.

Desde o resgate de Lucille, ele não mais saiu da estrada por uma questão de sobrevivência.

Quando lhe perguntaram se não acreditava que o fim da estrada estaria próximo, esta foi sua resposta.

"Quero ser melhor, muito melhor do que sou hoje. Não se está morto até morrer. E eu serei um garoto até o dia de minha morte."

Lenda do blues, B.B. King morreu na madrugada desta sexta-feira, 15, aos 89 anos, em Las Vegas, nos Estados Unidos. A informação foi confirmada pelo advogado do artista.

O músico, que inspirou gerações de guitarristas, de Eric Clapton a Stevie Ray Vaughan, foi hospitalizado em abril por alguns dias por causa de uma desidratação.

Ele tinha diabetes tipo 2 e, neste mês, recebia cuidados médicos em casa, segundo informou em uma publicação em uma rede social.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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São Paulo - Uma noite de inverno definiu quem era BB King. Foi no Arkansas, em 1949, quando ele tocava músicas de Pee Wee Crayton para animar o baile.

Era então um garoto de 24 anos com sua guitarra Gibson L-30 que havia acabado de comprar e turbinar com um captador a mais.

Estava feliz e realizado mesmo na noite fria, aquecida pelos rodopios dos casais que um dia chamariam aquilo de rock and roll e pelo querosene que queimava dentro de um latão de lixo colocado no canto do salão.

As vozes então ficaram mais altas do que os solos e dois rapazes se agarraram aos socos. Saíram rolando pelo salão, derrubaram o latão e só pararam quando as chamas se alastraram pela casa. King, seus músicos e todos os dançarinos saíram quase juntos pela única porta do bar. Mas Lucille, não.

O fim de Lucille, escreveu BB King em seu livro de memórias batizado Corpo e Alma do Blues, lançado em 1996, seria seu fim também.

Desnorteado, ele livrou-se dos amigos que tentavam contê-lo e correu pelas chamas para buscá-la. As vigas da casa já caíam quando ele a avistou.

E assim descreveria o episódio, quase 50 anos depois: "Salto a viga no momento em que a parede desmorona atrás de mim... Abaixo a cabeça, abraço a guitarra e parto como um raio para fora. A noite é uma visão maravilhosa. Minhas pernas estão chamuscadas, mas minha guitarra está bem."

A história se tornou um clássico e Lucille, o nome da mulher pela qual os dois rapazes se engalfinharam naquele bar, ficou para sempre.

"Com a possível exceção do sexo de verdade com uma mulher de verdade, nada me traz tanta paz de espírito quanto Lucille", diria depois.

BB King foi o último herói de sua geração na estrada e sua despedida começa a apagar uma era. Dos bluesmen em atividade, destes que salvam guitarras de incêndios, só sobrou Buddy Guy, hoje com 78 anos.

Desde o resgate de Lucille, ele não mais saiu da estrada por uma questão de sobrevivência.

Quando lhe perguntaram se não acreditava que o fim da estrada estaria próximo, esta foi sua resposta.

"Quero ser melhor, muito melhor do que sou hoje. Não se está morto até morrer. E eu serei um garoto até o dia de minha morte."

Lenda do blues, B.B. King morreu na madrugada desta sexta-feira, 15, aos 89 anos, em Las Vegas, nos Estados Unidos. A informação foi confirmada pelo advogado do artista.

O músico, que inspirou gerações de guitarristas, de Eric Clapton a Stevie Ray Vaughan, foi hospitalizado em abril por alguns dias por causa de uma desidratação.

Ele tinha diabetes tipo 2 e, neste mês, recebia cuidados médicos em casa, segundo informou em uma publicação em uma rede social.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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