A razão pela qual fiz esse trabalho é mostrar o outro lado da moeda, afirmou o diretor partidário de Duterte (Romeo Ranoco/Reuters)
AFP
Publicado em 5 de abril de 2018 às 11h01.
A sangrenta guerra contra as drogas do presidente Rodrigo Duterte pode ser controversa, mas não deixa de ser necessária, afirma o diretor filipino Brillante Mendoza, que fez deste o tema de uma série para Netflix.
"Amo", cujo primeiro episódio vai ao ar em 9 de abril, conta a história de Joseph, um estudante do ensino médio que mergulha no mundo de pesadelo de traficantes de drogas e agentes corruptos.
Dotado de um "realismo social", Brillante Mendoza, que se afirmou nos últimos anos como uma voz singular do cinema asiático e foi premiado no Festival de Cannes, tem explorado com sua câmera os aspectos mais sombrios da sociedade filipina.
Ele também é partidário de Rodrigo Duterte, que sofre com a ira das organizações de direitos humanos. Ele filmou duas obras defendendo a "guerra às drogas" lançada pelo presidente filipino quando chegou ao poder dois anos atrás.
"Sim, a guerra contra as drogas é necessária, não apenas para os filipinos, mas também para outros países com problemas com drogas", declarou o diretor de 57 anos à AFP em entrevista por telefone.
"A razão pela qual fiz esse trabalho é mostrar o outro lado da moeda", acrescenta, do ponto de vista das "vítimas".
A polícia filipina afirma ter matado em situações de legítima defesa mais de 4.000 pessoas suspeitas de serem traficantes de drogas ou viciados.
Milhares de outras mortes continuam sem explicação, e as organizações de direitos humanos e observadores no terreno afirmam que mais de 12 mil pessoas foram mortas, acusando as autoridades de abrir fogo contra moradores da periferia desarmados.
"Amo" - uma gíria filipina que significa "mestre" - explora o problema das drogas a partir de uma infinidade de pontos de vista, incluindo a do estudante do ensino médio e do seu tio policial.
Brillante Mendoza argumenta que a série "não é" propaganda do governo, apesar de defender a ação das autoridades contra as drogas.
A Netflix não respondeu aos pedidos de entrevista da AFP.
Em uma indústria cinematográfica filipina dominada por obras insípidas, Mendoza é uma figura que contrasta por seu interesse em temas controversos, como a prostituição, corrupção, sempre tentando ficar o mais próximo possível a vida das "pessoas comuns".
Premiado em Cannes em 2009 por "Kinatay", um filme sobre um assassinato sórdido cometidos por policiais corruptos, o cineasta já havia explorado a questão do flagelo das drogas antes mesmo da eleição de Duterte com "Ma Rosa".
Primeiro diretor filipino de ser nomeado, em 2014, Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras, Brillante Mendoza se recusou a comentar diretamente sobre a "guerra contra as drogas" ou a decisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) de abrir uma "análise preliminar", uma fase de pré-investigação, sobre esta campanha de drogas.
"Acredito que o meu trabalho, especialmente as séries, é eloquente", diz ele.
"Amo", explica, foi filmado originalmente para a televisão filipina, mas ele a convenceu a sondar outras plataformas de streaming e enviar dois dos episódios para a Netflix.
"Acredito que minha maneira de filmar é uma das razões pelas quais eles se interessaram. Parece muito realista, como um documentário, e é diferente das séries clássicas", aponta.
"Muitas pesquisas foram feitas e a polícia também desempenhou um papel", acrescenta. "Nossa história é baseada em eventos reais".