National Geographic se rende aos reality shows
De obcecados com o fim do mundo que constroem bunkers até polígamos mórmons ou pescadores de atum, os reality do canal exploram vários perfis
Da Redação
Publicado em 20 de maio de 2013 às 12h28.
Washington - De obcecados com o fim do mundo que constroem bunkers até polígamos mórmons ou pescadores de atum: para o desgosto dos puristas, o canal de televisão National Geographic parece ter deixado de lado seu tradicional perfil científico e didático para abrir espaço aos reality shows .
Um dos programas mais vistos, com uma média de 800 mil espectadores, é o apocalíptico "Doomsday Preppers", em que pessoas que aguardam o fim do mundo contam suas experiências. Nele é possível assistir, por exemplo, como um homem se prepara para um ataque terrorista que considera iminente.
"Wicked Tuna", de grande sucesso e já na terceira temporada em produção, aborda a rivalidade entre as equipes de pesca em Gloucester, no noroeste de Massachusetts, que depende economicamente da pesca do atum.
Outros exemplos são o "Polygamy USA - protagonizado por uma seita mórmon dissidente que segue a poligamia -, o "Ultimate Survival: Alaska" - que tem como temática a sobrevivência em um deserto gelado - e muitas outras séries de "docu-reality", que se dedicam a personagens raros ou situações mais ou menos estranhas.
Segundo Hamish Mykura, diretor de conteúdo internacional do National Geographic Channel, a atitude do canal pode se definir como "antropologia contemporânea".
"Queremos mostrar o mundo em que vivemos, como vivemos, ver gente fazendo trabalhos perigosos, interessantes, com programas agradáveis, que as pessoas queiram assistir. É mais interessante contar a história de uma pessoa a partir de sua própria perspectiva, com suas próprias palavras, do que ter um narrador invisível, dando sua opinião atrás de uma câmera", disse à AFP.
A credibilidade em jogo
Na opinião dos puristas, não há dúvidas de que os programas de reality show do National Geographic - de propriedade majoritária da News Corporation, de Rupert Murdoch - não honram a herança de 125 anos da admirável revista da qual surgiu.
Para eles, a famosa publicação mensal de capa amarela da National Geographic Society (NGS), uma das maiores organizações científicas e educativas sem fins lucrativos do mundo, é, antes de tudo, uma revista acadêmica, a primeira a falar da pequena cidade inca de Machu Picchu, no Peru, por exemplo.
É uma revista que "sempre lutou pela verdade", defende Alan Mairson, ex-jornalista da publicação que criou um blog crítico, o societymatters.org.
O canal de televisão "quer entreter, a revista tem como objetivo educar", disse à AFP.
"Estes programas diminuem gravemente a credibilidade da NGS. Alguns programas são excelentes, mas a maioria não tem nenhuma conexão verdadeira com a realidade. São comédias bobas. Outros são ofensivos, zombam das pessoas", completou Michael Parfit, documentarista de animais selvagens e ex-colaborador da revista, em uma referência a uma série sobre os huteritas, uma comunidade protestante isolada, que exigiu desculpas do canal por se sentir humilhada.
"Os piores são os pseudocientíficos", acrescentou Parfit, citando uma série sobre óvnis.
Mairson suspeita que o fator Murdoch está em jogo, já que a News Corporation fechou seu canal de reality show da Fox depois de comprar o canal da National Geographic.
"O que Murdoch ganha com um canal assim? Confiança, uma sensação de autenticidade que não tinha com o canal da Fox".
Para o representante do canal, Hamish Mykura, "é preciso refletir sobre o mundo da National Geographic, que tem uma grande audiência".
"Sempre haverá algumas pessoas que pensam que a National Geographic só deveria fazer programas sobre os elefantes, as geleiras glaciais e Papua Nova Guiné. Mas fazer um canal de televisão que as pessoas queiram assistir, e que seja interessante e divertido, é um desafio muito mais importante e significativo do que isso".
O canal acaba de anunciar que quer inverter a atual proporção da grade programação, que é de 75% de documentários e 25% de séries.
Para David Carraro, um dos pescadores de Gloucester, "Wicked Tuna" mostra "os altos e baixos de nossas vidas". Seu colega David Marciano também está grato pela receita adicional, já que os pescadores recebem pela exibição do programa.
"O que não se vê é quando puxamos a linha e esperamos, esperamos e esperamos", brinca.
Washington - De obcecados com o fim do mundo que constroem bunkers até polígamos mórmons ou pescadores de atum: para o desgosto dos puristas, o canal de televisão National Geographic parece ter deixado de lado seu tradicional perfil científico e didático para abrir espaço aos reality shows .
Um dos programas mais vistos, com uma média de 800 mil espectadores, é o apocalíptico "Doomsday Preppers", em que pessoas que aguardam o fim do mundo contam suas experiências. Nele é possível assistir, por exemplo, como um homem se prepara para um ataque terrorista que considera iminente.
"Wicked Tuna", de grande sucesso e já na terceira temporada em produção, aborda a rivalidade entre as equipes de pesca em Gloucester, no noroeste de Massachusetts, que depende economicamente da pesca do atum.
Outros exemplos são o "Polygamy USA - protagonizado por uma seita mórmon dissidente que segue a poligamia -, o "Ultimate Survival: Alaska" - que tem como temática a sobrevivência em um deserto gelado - e muitas outras séries de "docu-reality", que se dedicam a personagens raros ou situações mais ou menos estranhas.
Segundo Hamish Mykura, diretor de conteúdo internacional do National Geographic Channel, a atitude do canal pode se definir como "antropologia contemporânea".
"Queremos mostrar o mundo em que vivemos, como vivemos, ver gente fazendo trabalhos perigosos, interessantes, com programas agradáveis, que as pessoas queiram assistir. É mais interessante contar a história de uma pessoa a partir de sua própria perspectiva, com suas próprias palavras, do que ter um narrador invisível, dando sua opinião atrás de uma câmera", disse à AFP.
A credibilidade em jogo
Na opinião dos puristas, não há dúvidas de que os programas de reality show do National Geographic - de propriedade majoritária da News Corporation, de Rupert Murdoch - não honram a herança de 125 anos da admirável revista da qual surgiu.
Para eles, a famosa publicação mensal de capa amarela da National Geographic Society (NGS), uma das maiores organizações científicas e educativas sem fins lucrativos do mundo, é, antes de tudo, uma revista acadêmica, a primeira a falar da pequena cidade inca de Machu Picchu, no Peru, por exemplo.
É uma revista que "sempre lutou pela verdade", defende Alan Mairson, ex-jornalista da publicação que criou um blog crítico, o societymatters.org.
O canal de televisão "quer entreter, a revista tem como objetivo educar", disse à AFP.
"Estes programas diminuem gravemente a credibilidade da NGS. Alguns programas são excelentes, mas a maioria não tem nenhuma conexão verdadeira com a realidade. São comédias bobas. Outros são ofensivos, zombam das pessoas", completou Michael Parfit, documentarista de animais selvagens e ex-colaborador da revista, em uma referência a uma série sobre os huteritas, uma comunidade protestante isolada, que exigiu desculpas do canal por se sentir humilhada.
"Os piores são os pseudocientíficos", acrescentou Parfit, citando uma série sobre óvnis.
Mairson suspeita que o fator Murdoch está em jogo, já que a News Corporation fechou seu canal de reality show da Fox depois de comprar o canal da National Geographic.
"O que Murdoch ganha com um canal assim? Confiança, uma sensação de autenticidade que não tinha com o canal da Fox".
Para o representante do canal, Hamish Mykura, "é preciso refletir sobre o mundo da National Geographic, que tem uma grande audiência".
"Sempre haverá algumas pessoas que pensam que a National Geographic só deveria fazer programas sobre os elefantes, as geleiras glaciais e Papua Nova Guiné. Mas fazer um canal de televisão que as pessoas queiram assistir, e que seja interessante e divertido, é um desafio muito mais importante e significativo do que isso".
O canal acaba de anunciar que quer inverter a atual proporção da grade programação, que é de 75% de documentários e 25% de séries.
Para David Carraro, um dos pescadores de Gloucester, "Wicked Tuna" mostra "os altos e baixos de nossas vidas". Seu colega David Marciano também está grato pela receita adicional, já que os pescadores recebem pela exibição do programa.
"O que não se vê é quando puxamos a linha e esperamos, esperamos e esperamos", brinca.