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Milhares de cartas revelam raízes do machismo no Equador

'Cartas das mulheres', o projeto que começou em novembro com o objetivo de transformar as relações desiguais, permitiu romper o longo silêncio das vítimas

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 8 de março de 2012 às 13h18.

Quito - As mais de 10 mil cartas reunidas em um projeto para lutar contra o machismo no Equador com histórias de violência física e psicológica, além de uma infinidades de abusos, denotam que o histórico de inferioridade das mulheres têm raízes profundas no país.

'Cartas das mulheres', o projeto que começou em novembro com o objetivo de transformar as relações desiguais, permitiu romper o longo silêncio das vítimas que suportaram agressões de seus parceiros e familiares, agressões essas que deixaram dolorosas sequelas.

As mensagens, entregues nas caixas de correio instaladas em todo o país ou saídas de oficinas feitas sobre o tema, relatam dramas anônimos de partir o coração.

Conta a sina, por exemplo, de uma menina que foi estuprada pela primeira vez pelo tio aos sete anos e aos 15 por um primo de sua mãe. Depois de casada, seu companheiro começou a agredi-la, inclusive durante a gravidez.

Outra reproduz em carta as infinidades de vezes que precisou mentir para justificar os hematomas das lesões causadas pelas surras que levava de seu marido médico. Em uma ocasião, revela que chegou a estar à beira da morte.

'Um dia uma prima veio de visita e eu estava com o olho roxo. Ela perguntou o que aconteceu e respondi que havia tropeçado na porta. Sorrindo ela contou que também dizia o mesmo para sua mãe quando seu marido batia nela', relatou uma vítima, que teve coragem para denunciar o marido, mas não recebeu apoio da justiça.

As autoras das cartas se valeram de um papel em branco para serem ouvidas em um país em que 80% das mulheres foram vítimas da violência machista alguma vez na vida, na forma de agressões físicas ou psicológicas, aponta o Plano Nacional de Erradicação da Violência de 2009.


São histórias de mães, irmãs e filhas que perceberam ter crescido em locais onde a violência contra elas era considerada 'normal' e pelo fato de serem 'mulheres' haviam suportado insultos, castigos e discriminações.

Os idealizadores do projeto apresentaram os resultados preliminares nesta quinta-feira, por ocasião do Dia Internacional da Mulher.

Mais de 48% das cartas citam diferentes tipos de violência doméstica, detalhou a Agência Efe Cynthia Bodenhorst, coordenadora de comunicação da Onu-Mulheres para a região andina.

As demais, relatou, são vinculadas aos direitos econômicos, temas trabalhistas, direito à justiça, violência política e psicológica. Muitas narram posições sobre a identidade e orientação sexual e defendem o aborto seguro.

Nas mensagens, as mulheres repetem o desejo de que sua experiência possa ensinar a outras a necessidade de mobilização e de não aguentar em silêncio. Algumas revelam nessas cartas abusos sofridos que nunca haviam contado a ninguém.

Os relatos deixam uma clara mensagem: 'é preciso operar uma mudança profunda, mudar os padrões culturais' para erradicar o machismo, afirmou a Efe Ana Rodríguez, coordenadora do Centro de Arte Contemporânea (CAC) de Quito, um dos apoiadores do projeto e onde está em exibição algumas dessas cartas.

Nas paredes do CAC foram afixados ainda letreiros que revelam a injustiça em percentuais. Pelo mesmo trabalho, os homens recebem salários 14% superiores as mulheres no Equador e 68% delas já sofreram assédio sexual ou abuso sexual.

Ana revelou que o testemunho dado nas cartas vai facilitar a elaboração e aplicação de políticas públicas contra a violência de gênero.

A iniciativa funcionou como uma espécie de catarse para as mulheres que participaram, 'mas na grande maioria das cartas sente-se que agiram em um gesto coletivo', comentou Ana, que revelou que esperava 5 mil mensagens no projeto.

'Percebemos que os problemas são enormes e denotam a necessidade das mulheres de participar e expressar-se', comentou.

O projeto continuará recebendo cartas de mulheres que querem romper o silêncio.

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As mensagens, entregues nas caixas de correio instaladas em todo o país ou saídas de oficinas feitas sobre o tema, relatam dramas anônimos de partir o coração.

Conta a sina, por exemplo, de uma menina que foi estuprada pela primeira vez pelo tio aos sete anos e aos 15 por um primo de sua mãe. Depois de casada, seu companheiro começou a agredi-la, inclusive durante a gravidez.

Outra reproduz em carta as infinidades de vezes que precisou mentir para justificar os hematomas das lesões causadas pelas surras que levava de seu marido médico. Em uma ocasião, revela que chegou a estar à beira da morte.

'Um dia uma prima veio de visita e eu estava com o olho roxo. Ela perguntou o que aconteceu e respondi que havia tropeçado na porta. Sorrindo ela contou que também dizia o mesmo para sua mãe quando seu marido batia nela', relatou uma vítima, que teve coragem para denunciar o marido, mas não recebeu apoio da justiça.

As autoras das cartas se valeram de um papel em branco para serem ouvidas em um país em que 80% das mulheres foram vítimas da violência machista alguma vez na vida, na forma de agressões físicas ou psicológicas, aponta o Plano Nacional de Erradicação da Violência de 2009.


São histórias de mães, irmãs e filhas que perceberam ter crescido em locais onde a violência contra elas era considerada 'normal' e pelo fato de serem 'mulheres' haviam suportado insultos, castigos e discriminações.

Os idealizadores do projeto apresentaram os resultados preliminares nesta quinta-feira, por ocasião do Dia Internacional da Mulher.

Mais de 48% das cartas citam diferentes tipos de violência doméstica, detalhou a Agência Efe Cynthia Bodenhorst, coordenadora de comunicação da Onu-Mulheres para a região andina.

As demais, relatou, são vinculadas aos direitos econômicos, temas trabalhistas, direito à justiça, violência política e psicológica. Muitas narram posições sobre a identidade e orientação sexual e defendem o aborto seguro.

Nas mensagens, as mulheres repetem o desejo de que sua experiência possa ensinar a outras a necessidade de mobilização e de não aguentar em silêncio. Algumas revelam nessas cartas abusos sofridos que nunca haviam contado a ninguém.

Os relatos deixam uma clara mensagem: 'é preciso operar uma mudança profunda, mudar os padrões culturais' para erradicar o machismo, afirmou a Efe Ana Rodríguez, coordenadora do Centro de Arte Contemporânea (CAC) de Quito, um dos apoiadores do projeto e onde está em exibição algumas dessas cartas.

Nas paredes do CAC foram afixados ainda letreiros que revelam a injustiça em percentuais. Pelo mesmo trabalho, os homens recebem salários 14% superiores as mulheres no Equador e 68% delas já sofreram assédio sexual ou abuso sexual.

Ana revelou que o testemunho dado nas cartas vai facilitar a elaboração e aplicação de políticas públicas contra a violência de gênero.

A iniciativa funcionou como uma espécie de catarse para as mulheres que participaram, 'mas na grande maioria das cartas sente-se que agiram em um gesto coletivo', comentou Ana, que revelou que esperava 5 mil mensagens no projeto.

'Percebemos que os problemas são enormes e denotam a necessidade das mulheres de participar e expressar-se', comentou.

O projeto continuará recebendo cartas de mulheres que querem romper o silêncio.

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