Pessoas ao redor do Palácio das Belas Artes, México, para homenagem a Gabriel García Márquez: as homenagens prosseguem nesta terça-feira em Bogotá (Alfredo Estrella/AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de abril de 2014 às 08h39.
México - A Cidade do México, adotada por Gabriel García Márquez, se despedia nesta segunda-feira do prêmio Nobel de Literatura com uma cerimônia no Palácio das Belas Artes, com a presença da família do escritor, dois chefes de Estado e milhares de fãs.
Sob aplausos, a viúva do escritor colombiano, Mercedes Barcha, entrou no vestíbulo do Palácio carregando uma urna de madeira com as cinzas de García Márquez, que faleceu aos 87 anos na quinta-feira passada.
Barcha, seus filhos Rodrigo e Gonzalo, vários netos e Jaime García Márquez, um dos dez irmãos do escritor, entre outros familiares, chegaram ao Palácio cercados por um grande aparato policial, que os escoltou desde a casa do escritor, no bairro de El Pedregal.
A urna com as cinzas de García Márquez foi colocada em um atril negro, cercado por flores amarelas, onde guardas de honra se revezam para homenagear o escritor internacional, que fez do México sua segunda pátria.
Entre os presentes na cerimônia, muitos usam flores amarelas na lapela (consideradas um amuleto por García Márquez), e todos cumprimentam a viúva e os filhos do escritor, enquanto um quarteto de cordas executa músicas de Béla Bartók, Joseph Haydn e Georg Handel.
As escadas de mármore do Palácio estão decoradas com rosas amarelas e no alto do vestíbulo aparece uma enorme foto - em preto e branco - do escritor sorrindo, na qual se lê sua famosa frase: "La vida no es la que uno vivió, sino la que uno recuerda y cómo la recuerda para contarla" (A vida não é o que você viveu, mas sim suas recordações e como se lembra para contá-la).
No lado de fora do Palácio, milhares de pessoas - de todas as idades - fazem fila para entrar no local e se despedir do escritor. Algumas carregam flores amarelas e outras, livros; e em vários momentos entoam a canção "Macondo", popularizada na voz do mexicano Óscar Chávez.
"Gostaria de agradecê-lo pelo gosto que me incutiu pela leitura. Assim como nos "Cem anos de Solidão", que ele sobreviva mais 100 anos nos nossos corações", disse à AFP Joseline López, uma venezuelana de 21 anos que estuda medicina no México.
"Ainda não posso acreditar que ele morreu (...). Estando aqui posso assimilar melhor as coisas", declarou Felisa Tole, uma colombiana que vive no México há oito anos.
Os presidentes de México, Enrique Peña Nieto, e Colômbia, Juan Manuel Santos, também estavam presentes.
"Os mexicanos gostavam e gostarão dele sempre. Nos despedimos com a alegria de sua vida e a emoção de seus livro, convencidos de que García Márquez fica entre nós", disse Peña Nieto em um breve discurso.
"Viemos deixar o testemunho de que Gabriel García Márquez é o mais colombiano dos colombianos, que segue vivo e seguirá vivo em seus livros e seus textos. Mas sobretudo viverá para sempre nas esperanças da humanidade", afirmou Juan Manuel Santos.
Ao fim da cerimônia, a família agradeceu a homenagem em um comunicado assinado por Mercedes, Gonzalo e Rodrigo.
"O mais comovente tem sido a infinidade de gestos, comentários e mensagens de admiradores e leitores do mundo inteiro, que expressaram seu amor por Gabo além da tristeza por perdê-lo. Nos fizeram sentir que não o perderam, e sim o ganharam para sempre, e que pertence a eles", afirmam no texto.
As homenagens prosseguem nesta terça-feira em Bogotá, com uma cerimônia solene na catedral da cidade.
A Colômbia aguarda com expectativa a decisão da viúva e dos filhos de García Márquez sobre o destino final de suas cinzas, que poderiam ser repartidas entre o México e algum lugar de seu país, como a cidade natal de Aracataca.