Mercado pet dispara no Brasil mesmo com a pandemia
No país com mais cães do que crianças, o segmento de acessórios e alimentos para animais de estimação cresceu 87% nos últimos cinco anos
Ivan Padilla
Publicado em 21 de abril de 2021 às 13h08.
Última atualização em 21 de abril de 2021 às 13h20.
Os pets conseguiram manter seu reinado no Brasil em meio ao novo coronavírus , à turbulência política e à crise econômica. No país com mais cães do que crianças, o mercado de produtos para animais de estimação se expandiu durante a pandemia, o que, segundo especialistas, é um caminho sem volta.
Nos últimos cinco anos, o setor de acessórios e alimentos para pets cresceu 87%, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado Euromonitor International. A tendência resistiu à pandemia. Com as pessoas ficando mais tempo em casa, elas passaram a investir mais em seus animais. O isolamento também fez com que muitos decidissem adotar seu primeiro pet.
O Instituto Pet Brasil apontou que o segmento cresceu 13,5% em 2020 no país frente a 2019, com um movimento 6,8% maior do que o projetado durante o primeiro semestre.
"O ano foi desafiador para todos os setores, mas nossos resultados mostram um crescimento muito expressivo e reforçam a resiliência do mercado pet", indicou Sergio Zimerman, fundador e diretor executivo da rede de lojas Petz, que cresceu 46,6% em 2020 frente a 2019, faturando 1,7 bilhão de reais, graças, em parte, à aposta nas vendas online.
O setor também foi favorecido ao ser classificado como essencial, o que permitiu manter as lojas e clínicas veterinárias abertas em meio às restrições impostas de forma intermitente no país desde março de 2020.
"Com o distanciamento social, as famílias passaram a dar mais atenção a seus animais", apontou Nelo Marraccini, presidente executivo do Instituto Pet Brasil. Sergio Zimerman assinalou que esse fato fez "disparar" a compra de brinquedos e petiscos para pets, além de produtos de higiene e limpeza, porque muitos passaram a dar banho em seus animais em casa.
Adoção cresce 300%
O aumento do número de adoções de cães e gatos também incidiu na expansão do mercado. "Em março, quando começou a pandemia, tivemos um aumento de 300% nas adoções, chegando a 15 por dia", contou Marina Inserra, dona de um abrigo em São Paulo.
O técnico de computação Bruno Soares, de 36 anos, que mora em um apartamento de 45m² no Centro de São Paulo, entrou para as estatísticas em julho passado, quando adotou seu primeiro cão. "Eu ficava muitas horas em casa e a solidão começou a pegar", contou, em meio a piadas sobre a nova rotina com o vira-lata Max, de 6 kg, que devorou dois de seus sapatos.
O boom de "tutores" iniciantes também foi registrado pelo setor financeiro. O banco digital Nubank contabilizou um aumento de 73,1% no número de clientes que tiveram gastos com o segmento pet em 2020, comparado com 2019.
Marina Inserra explicou que neste ano o número de adoções se estabilizou e aumentou o abandono de animais, causado, principalmente, pela perda de poder aquisitivo devido à crise econômica. "Quando a pessoa fica sem comida e sem um teto, não tem como oferecer o mínimo, o animal vai para a rua também", observou.
O impacto econômico da pandemia, no entanto, afirmam especialistas, não deve ofuscar o futuro do mercado para pets, cuja perspectiva é de um crescimento de 87% até 2026.
Em 2021, segundo o Euromonitor International, o Brasil deve subir um degrau e se consolidar como sexto maior mercado pet do mundo. O país já é o segundo mercado mundial de alimentos para cães (54,2 milhões em 2018, segundo o Pet Brasil) e terceiro de alimentos para pets, atrás de Estados Unidos e China.
Os entrevistados acreditam que o fim do isolamento não irá reverter o consumo, e sim favorecerá outras atividades, como os serviços de hospedagem e cuidadores. Ao ser questionado sobre o futuro, Sergio Zimerman, que vive com dois cães, sorriu, confiante: "No Brasil, o amor pelos pets é universal."
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