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"Mataram meu Irmão" personaliza violência em São Paulo

Filme foi o grande vencedor do Festival Internacional de Documentários 'É Tudo Verdade' neste ano

Trecho do documentário "Mataram o meu Irmão", de Cristiano Burlan (Reprodução)
DR

Da Redação

Publicado em 21 de novembro de 2013 às 16h13.

São Paulo - Desde suas primeiras imagens, o documentário "Mataram meu Irmão", de Cristiano Burlan, configura a incerteza de sua busca. Ouve-se a voz do cineasta, ao telefone, procurando informações sobre como retirar do cemitério os ossos de seu irmão, Rafael Burlan da Silva, morto há 12 anos.

Esse recurso é a maneira com que o diretor inicia um retorno pessoal e doloroso a um dos capítulos mais trágicos da história de sua família: o assassinato, com sete tiros, do irmão Rafael, de apenas 22 anos, no Capão Redondo, em São Paulo. Uma vida breve, depois de ligações com roubo e drogas. O filme foi o grande vencedor do Festival Internacional de Documentários 'É Tudo Verdade' neste ano.

Mais do que colocar-se à frente de um diário íntimo, Cristiano Burlan às vezes se expõe, mas muito mais se esconde. Prefere ouvir quem quer que possa dizer-lhe um pouco mais sobre quem foi seu irmão. Passam diante da câmera sua tia, um primo, outra irmã, que mora em Uberlândia. E também um amigo, que dá o depoimento mais substancial do filme, quando define a sensação paradoxal de morar na periferia, que oscila entre a frustração, a raiva de todos que têm alguma coisa, e um certo conforto de viver ali, como anestesiado.

Aos poucos, o bairro do Capão Redondo firma-se como um dos temas do filme, que amplia sua intenção de falar apenas de uma pessoa para sintonizar com um mal-estar mais amplo, de fratura social vigente no próprio país. Mas não perde de vista seu objeto, especialmente quando ouve a ex-mulher e os dois filhos de Rafael, que antes da marginalidade chegou a ser barman.

Os sentimentos ambíguos do cineasta em relação a uma conturbada história familiar sinalizam, sem deixar muito claro, o destino dos pais - ambos, mortos de forma não natural -, o que tem um indiscutível impacto na vida de Cristiano e também de Rafael, além de outros irmãos, que têm passagens pela prisão.


Na época da morte de Rafael, Cristiano, envolvido com cinema desde 2005, escrevia um livro. Já assinalava um destino fora desta turbulência familiar, que, através de "Mataram meu Irmão", ele tenta compreender.

Mais do que tudo, ele resgata Rafael de ser apenas mais uma estatística do crime na cidade de São Paulo - e que as dolorosas fotos do inquérito policial recobrem de um vinco trágico.

Quem são estas pessoas que acabam sendo só mais um número no registro de mortes violentas da metrópole? Talvez só estas fotos, mostradas no fim, deem realmente a medida da dor de alguém que perde um irmão assim.

//www.youtube.com/embed/eUerM8ZrqdU

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São Paulo - Desde suas primeiras imagens, o documentário "Mataram meu Irmão", de Cristiano Burlan, configura a incerteza de sua busca. Ouve-se a voz do cineasta, ao telefone, procurando informações sobre como retirar do cemitério os ossos de seu irmão, Rafael Burlan da Silva, morto há 12 anos.

Esse recurso é a maneira com que o diretor inicia um retorno pessoal e doloroso a um dos capítulos mais trágicos da história de sua família: o assassinato, com sete tiros, do irmão Rafael, de apenas 22 anos, no Capão Redondo, em São Paulo. Uma vida breve, depois de ligações com roubo e drogas. O filme foi o grande vencedor do Festival Internacional de Documentários 'É Tudo Verdade' neste ano.

Mais do que colocar-se à frente de um diário íntimo, Cristiano Burlan às vezes se expõe, mas muito mais se esconde. Prefere ouvir quem quer que possa dizer-lhe um pouco mais sobre quem foi seu irmão. Passam diante da câmera sua tia, um primo, outra irmã, que mora em Uberlândia. E também um amigo, que dá o depoimento mais substancial do filme, quando define a sensação paradoxal de morar na periferia, que oscila entre a frustração, a raiva de todos que têm alguma coisa, e um certo conforto de viver ali, como anestesiado.

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Os sentimentos ambíguos do cineasta em relação a uma conturbada história familiar sinalizam, sem deixar muito claro, o destino dos pais - ambos, mortos de forma não natural -, o que tem um indiscutível impacto na vida de Cristiano e também de Rafael, além de outros irmãos, que têm passagens pela prisão.


Na época da morte de Rafael, Cristiano, envolvido com cinema desde 2005, escrevia um livro. Já assinalava um destino fora desta turbulência familiar, que, através de "Mataram meu Irmão", ele tenta compreender.

Mais do que tudo, ele resgata Rafael de ser apenas mais uma estatística do crime na cidade de São Paulo - e que as dolorosas fotos do inquérito policial recobrem de um vinco trágico.

Quem são estas pessoas que acabam sendo só mais um número no registro de mortes violentas da metrópole? Talvez só estas fotos, mostradas no fim, deem realmente a medida da dor de alguém que perde um irmão assim.

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