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Mascotes, uma paixão japonesa que vai além dos Jogos Olímpicos

O primeiro mascote olímpico foi um cão da raça Dachshund chamado Waldi, projetado para os Jogos de Munique de 1972. Desde então, todas as cidades-sede criaram seu próprio personagem para simbolizar os valores olímpicos e o legado cultural dos Jogos

Miraitowa (esq.) e Someity, os mascotes oficiais dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, em exibição no edifício do governo Metropolitano de Tóquio. (AFP/AFP)
A

AFP

Publicado em 22 de julho de 2021 às 08h35.

Última atualização em 22 de julho de 2021 às 17h47.

Os mascotes das Olimpíadas de 2020 se tornaram uma visão familiar nas ruas de Tóquio, a dois dias da abertura oficial do evento, mas eles enfrentam uma grande concorrência no imaginário coletivo no Japão, país apaixonado por esse tipo de personagem emblemático em várias facetas de seu dia a dia.

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Hello Kitty e Pokemon nasceram no Japão. Mas o fenômeno vai muito além e mascotes com cores vivas e design divertido costumam ser usados para dar uma imagem sorridente e amigável a empresas e instituições, sejam elas fabricantes de doces ou até de uma prisão.

Uma das mais apreciadas é uma fada em forma de pera, chamada Funassyi, que ganhou fama há 12 anos como representante não oficial da cidade de Funabashi (perto de Tóquio), conhecida por suas frutas.

Essa criatura de gênero indefinido e fã de lendas do rock como Aerosmith e Ozzy Osbourne, aparece regularmente em programas de televisão e sua conta no Twitter tem quase 1,4 milhão de seguidores.

No Japão, "é normal que os adultos amem mascotes", explica Funassyi com sua voz aguda em uma entrevista à AFP, e "os japoneses têm uma tendência a personificar objetos".

Muitos especialistas associam esse amor às tradições animistas do Japão, atribuindo alma até mesmo aos objetos inanimados.

Os mascotes podem, além disso, gerar muito dinheiro: o urso preto com bochechas vermelhas Kumamon, representante do departamento de Kumamoto (sudoeste do país) arrecadou o equivalente a 1,3 bilhão de euros (1,5 bilhão de dólares) no ano passado ao permitir que as empresas locais utilizassem sua imagem para seus produtos.

Miraitowa e Someity

O primeiro mascote olímpico foi um cão da raça Dachshund chamado Waldi, projetado para os Jogos de Munique de 1972. Desde então, todas as cidades-sede criaram seu próprio personagem para simbolizar os valores olímpicos e o legado cultural dos Jogos.

O mascote embaixador dos Jogos de Tóquio-2020, com orelhas pontudas, olhos grandes de personagens de mangá e um corpo coberto de quadrados azuis, se chama Miraitowa.

E para os Jogos Paralímpicos (24 de agosto a 5 de setembro), quem vai brilhar é Someity, rosa, com olhos amendoados e orelhas pontudas.

Como prova do amor dos japoneses por essas criaturas, Choko Ohira, de 62 anos, abriu uma escola há 17 anos para pessoas que desejam entrar na pele de um mascote.

Esses personagens "têm o poder de atrair pessoas", diz Ohira, que "encarnou" durante anos um famoso camundongo em um programa infantil da emissora pública japonesa NHK. "As crianças vêm com um grande sorriso, seguram as mãos e abraçam", acrescenta.

Ela está convencida de que, em uma sociedade japonesa às vezes rígida, os animais de estimação dão às pessoas a possibilidade de relaxar um pouco.

Seus alunos aprendem primeiro, sem o traje, os gestos dos mascotes, com movimentos amplos e exagerados, antes de vestir a fantasia de urso panda, gato ou esquilo. "No trabalho, sou mais sociável e ativa", diz Nobuko Fujiki, uma aluna de 61 anos.

Trabalhar como mascote não costuma ser uma vida dos sonhos: poucos fazem fortuna e as fantasias podem ser muito pesadas, desconfortáveis e sufocantes, especialmente no calor do verão japonês.

Para esta ex-funcionária de creche, a alegria de entrar na pele de um mascote compensa  os inconvenientes. As pessoas gostam de confiar nos mascotes, diz Funassyi. "Me pedem conselhos sobre sua vida, seu trabalho... Como ser legal com um chefe que você odeia ou como fazer quando seu marido não quer fazer as tarefas domésticas", conta ela.

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