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Livro mostra olhar poético de crianças moradoras de favelas

A criatividade de 200 crianças e adolescentes de 11 favelas com unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) rendeu o livro Seu Conto É a Nossa História


	Rocinha: "resultado final é mais uma prova de que a beleza não tem geografia e que todos são capazes de criar a partir do que só eles veem", disse escritor
 (RICARDO LEONI)

Rocinha: "resultado final é mais uma prova de que a beleza não tem geografia e que todos são capazes de criar a partir do que só eles veem", disse escritor (RICARDO LEONI)

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Da Redação

Publicado em 13 de dezembro de 2013 às 12h55.

Rio de Janeiro - A criatividade de 200 crianças e adolescentes de 11 favelas com unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) rendeu o livro Seu Conto É a Nossa História, que foi lançado hoje (13) na Academia Brasileira de Letras (ABL). O jornalista e escritor Márcio Vassalo escreveu a obra a partir de 22 oficinas. Ele disse que seu principal desafio foi provocar a imaginação das crianças.

"O fio condutor foi o olhar, e foram várias dinâmicas para provocar isso. Foi um trabalho de mostrar a eles que são capazes de encontrar e reparar na beleza onde ninguém está reparando. Isso faz com que a gente trabalhe a autoestima, a confiança para que a pessoa construa e reconstrua sua identidade, um pensamento que tenha sua digital".

Para isso, desenhos, exercícios sensoriais e perguntas foram discutidas com os alunos, que participam do Projeto Indústrias do Conhecimento, do Serviço Social da Indústria (Sesi) do Rio de Janeiro.

"O resultado final é mais uma prova de que a beleza não tem geografia e que todos são capazes de criar a partir do que só eles veem. Mariana, do Morro da Formiga, por exemplo, viu um vento escondido na descida; Caroline, da Cidade de Deus, um sol pendurado no varal; Jorge Mateus, do Andaraí, descobriu que a laje é a coroa da casa. Foram várias frases poéticas que eles expressaram a partir do próprio olhar", explicou.


Presidenta da ABL, a escritora Ana Maria Machado comemorou o lançamento, que coincide com suas últimas semanas à frente da instituição, já que será sucedida pelo atual secretário-geral da academia, Geraldo Holanda Cavalcanti. "Esse projeto é uma gracinha, uma beleza. Eles se soltam, percebem que podem criar e desenvolvem um olhar poético e crítico sobre o seu entorno. Isso é o que todo cidadão devia ter".

João Vitor Aguilar, de 11 anos, saiu da Fazendinha, no Complexo do Alemão, para entregar um exemplar nas mãos da imortal, de quem ganhou um beijo na bochecha. Seu gosto literário, porém, é outro: "Gosto de ler sobre carros", disse tímido, contando que fez desenhos e contou histórias para Márcio Vassalo durante as oficinas.

Com a mesma idade, Marcelle de Arruda, do Morro da Formiga, contou seu único medo: cobras. "Escrevemos em um papel, ele amassou e disse que depois ia queimar. Foi muito legal participar. Contei que gosto de jogar bola, de soltar pipa, e ele foi perguntando como eram os lugares", lembra ela, que até pensa em escrever um livro: "Só se não for muito grande. Mas também não muito pequeno".

A bibliotecária Aline Lopes, que trabalha no projeto do Sesi, se anima ao falar da proposta: "São crianças que estão à margem de tudo, e é uma oportunidade de terem contato com coisas que não têm costume. Chamamos a atenção deles pelo interesse que têm pelo computador, e vamos inserindo a leitura aos poucos. A base do trabalho é o amor".

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