Jean Paul Gaultier anuncia que fará desfile de despedida em Paris
Apesar da despedida das passarelas, o estilista francês, aos 50 anos de carreira, manterá aberta sua casa de costura
AFP
Publicado em 18 de janeiro de 2020 às 12h09.
Última atualização em 18 de janeiro de 2020 às 12h11.
O estilista Jean-Paul Gaultier anunciou nesta sexta-feira 17, em um comunicado, que realizará seu último desfile de alta costura nesta quarta-feira 22, após 50 anos de carreira, e que lançará um novo projeto.
"Em 22 de janeiro de 2020, comemorarei meus 50 anos de carreira na moda com um grande desfile-espetáculo de alta costura no Théâtre du Châtelet. Será também meu último desfile", informou o estilista, de 67 anos, em um curto comunicado transmitido à AFP.
"Mas não se preocupem, a casa de costura Gaultier Paris continua, com um novo projeto do qual sou incentivador e que será revelado em breve", acrescentou.
Sua empresa está sob o controle do grupo espanhol Puig desde 2011.
O comunicado está acompanhado de um vídeo, no qual o estilista aparece falando ao telefone com uma pessoa a quem convida para o desfile. "Vou te dar uma prévia, será meu último desfile. Você vai ter que vir, não pode perder isso", provoca.
"Será uma grande festa, com muitos dos meus amigos e vamos nos divertir muito. Vai acabar muito tarde", diz o estilista, em tom de brincadeira.
Seu desfile ocorrerá durante a Semana a Moda de Alta Costura, em Paris, que vai ser celebrada entre segunda e quinta-feira da próxima semana.
Do corpete cônico à camiseta de marinheiro
Transgressor, subversivo, Gaultier é um dos estilistas mais importantes de todos os tempos, que revolucionou nos anos 1980 os códigos da moda com criações como o corpete cônico que Madona usou, a saia masculina e a camiseta listrada de marinheiro, que transformou em ícone em homenagem à sua avó, que o "vestia de azul".
"Minha paixão e minha vida é minha profissão. O que eu gosto é o exercício de vestir (...) É artesanato e é sublime", confessou há alguns anos em entrevista à AFP.
Nascido em uma família humilde do subúrbio de Paris, realizou o sonho de ser estilista que tinha desde de criança, quando desenhava peças para seu ursinho de pelúcia.
Desde suas primeiras coleções, dominou a arte de misturar estilos, gêneros, épocas, o saber popular e a distinção dos bairros nobres.
Cercado de musas como a atriz espanhola Rossy de Palma, Gaultier fez de seus desfiles um mundo à parte. Eram espetáculos que transbordavam excentricidade e ousadia.
"Estilista inconformista busca modelos atípicas. Rostos disformes não são impedidos", dizia um anúncio que publicou no jornal nos anos 1980.
Assim, convidou para passarela homens grandes, mulheres com sobrepeso e em 2014 a drag queen Conchita Wurst.
Também criou o figurino de uma infinidade de espetáculos, além de filmes como "A Má Educação" e "Kika", de Pedro Almodóvar, e "O Quinto Elemento", de Luc Besson.
"Desde sua primeira coleção, em 1976, você questionou os critérios do gosto e do mal gosto. Chocou, irritou e exasperou se divertindo (...) com um guarda-roupa ambivalente e intercambiável", disse sobre Gaultier seu primeiro mentor, Pierre Cardin, ao entregar a distinção francesa da Legião de Honra em 2001.
Após começar com Cardin, que o contratou com 18 anos, e seguir carreira com Jean Patou, Gaultier lançou sua própria marca. Também colaborou por vários anos com a Hermès, templo do classicismo e da discrição, usando seu estilo sem sair do padrão da marca.
No ano passado, anunciou que deixaria de utilizar peles e faria reciclagem.