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Jane Fonda aos 80: “não tenho a menor saudade de ser mais jovem”

A atriz estreia nova comédia mostrando mulheres mais velhas se reavaliando suas vidas amorosas depois de ler 50 Tons de Cinza

JANE FONDA EM CANNES: "há uma correlação entre abusar as mulheres e não pagar o que se deve às mulheres" (Stephane Mahe/Reuters)

JANE FONDA EM CANNES: "há uma correlação entre abusar as mulheres e não pagar o que se deve às mulheres" (Stephane Mahe/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 9 de junho de 2018 às 07h59.

Última atualização em 11 de junho de 2018 às 18h54.

Los Angeles – É uma ensolarada manhã de primavera lá fora, e os estudantes da UCLA – cujo campus se estende até a soleira da porta do simpático hotel-boutique onde estamos conversando – estão nas ruas em peso, aproveitando a perfeição do clima de Los Angeles num domingo. Aqui dentro, numa sala de reunião escondida numa ala discreta do hotel, Jane Fonda quer deixar bem claro algumas coisas essenciais, antes que a conversa continue: ela fez 80 anos em dezembro passado; não tem a menor saudade de ser mais jovem; e não quer mais saber de namorados. “Estou sem um namorado há um ano e estou ótima”, ela diz. “Acho que essa fase acabou para mim.”

Acertadas as bases, podemos conversar sobre trabalho e ativismo, duas coisas que motivam Jane Fonda acima de tudo (“isso e amizades. Poucas e verdadeiras.”) Neste momento ela está em plena ebulição: a quarta temporada da série Grace and Frankie, que ela produz e co-estrela com a amiga Lily Tomlin está disponível na Netfix, e a quinta temporada acaba de concluir filmagens aqui em Los Angeles; seu novo filme, a comédia Do Jeito Que Elas Querem, estreia semana que vem; e continua trabalhando à frente da Fundação Jane Fonda, que é custeada em grande parte com seus recursos pessoais, e se dedica a questões de educação, arte, feminismo e meio ambiente. “Trabalho no mínimo 10 horas por semana na Fundação”, ela diz. “É uma das coisas que mais me trazem felicidade.”

Do Jeito Que Elas Querem é um desses casos de projetos que dão uma guinada radical no meio do desenvolvimento. Escrito por dois jovens realizadores, Bill Holderman (que foi assistente de produção em Os Diários da Motocicleta) e Erin Simms (que passou de atriz em pequenas papéis a produtora), a comédia era originalmente sobre um grupo de millennials às voltas com o impacto de 50 Tons de Cinza em sua vida amorosa.

O contato de Simms com Fonda, durante a produção (para a Netflix) do filme Our Souls at Night mudou tudo, radicalmente. “Eu trabalho nesta indústria há tempo bastante para saber que precisamos trabalhar para nossas plateias”, diz Fonda. “O segmento que mais cresce no mundo todo é o de mulheres com mais de 45 anos. E nós vivemos, em média, cinco anos a mais que os homens. A indústria está começando a perceber o quanto esse mercado é importante.”

E assim, com o endosso e o apoio de Jane Fonda – que imediatamente disse sim para o papel principal, ao lado de duas grandes amigas, Diane Keaton e Candice Bergen, mais sua “mais nova amiga da vida toda”, Mary Steenburgen – Do Jeito Que Elas Querem foi aprovado pela Paramount em seu novo formato: um grupo de mulheres cinquentonas e sessentonas reavaliando suas vidas amorosas depois de muito vinho e muita conversa sobre 50 Tons de Cinza.

De certa forma é uma continuação de Grace and Frankie, que segue as aventuras existenciais, amorosas, profissionais e sexuais de duas amigas com mais de 60 anos. “Eu estudo o processo de envelhecimento constantemente”, Fonda conta. “É assim com tudo na minha vida: aquilo que me assusta é o que eu mais quero estudar. Eu passei anos pesquisando, estudando e entrevistando pessoas sobre as mudanças que vêm com a maturidade, e no fim acabei escrevendo um livro a respeito (Prime Time: Love, health, sex, fitness, friendship, spirit – making the most of all of your life, publicado em 2011). É uma questão profunda: o fato de que estamos mais próximos da morte, e isso torna a vida ainda mais importante. Como queremos viver? Como queremos olhar para nossa vida quando estivermos próximos da morte? Eu quero chegar ao fim a vida sem remorsos.”

58 anos no cinema

A vida de Jane Fonda é sem dúvida uma vida plena, de seus primeiros trabalhos no teatro, depois de estudar com Lee Strasberg no famoso Actors Studio (“ele me disse que eu tinha talento, talento de verdade”) e, logo a seguir no cinema, com Tall Story, em 1960, contracenando com Anthony Perkins (“era preto e branco e o casal tinha que aparecer dormindo em camas separadas. Para você ver o quanto tudo mudou na sociedade.”

A trajetória inclui sete indicações para o Oscar (e duas vitórias),15 indicações para os Globos de Ouro (e seis prêmios), uma Palma de Ouro honorária por conjunto de obra, e o título de Embaixadora das Nações Unidas. Inclui também cinco anos em Paris, casada com o diretor Roger Vadim – que a dirigiu em Barbarella, no qual a sexy aventureira galática estava “muito grávida e enjoando o tempo todo” – e um longo envolvimento com o ativismo político, que começou quando se separou de Vadim, voltou aos Estados Unidos e começou a namorar o líder da contracultura Tom Hayden, com quem se casaria em 1973.

“Você só compreende realmente o país em que você nasceu quando você vive longe dele, e é capaz de vê-lo de fora. Morar na França mudou completamente minha perspectiva dos Estados Unidos, me fez compreender todas as suas qualidades e também todos os seus defeitos, todos os seus problemas profundos.”

Radical opositora das guerras do Vietnã e do Iraque, apoiadora dos movimentos feministas, antirracismo e na defesa dos povos indígenas, Fonda é, hoje, uma entusiasta do movimento #metoo e #timesup. “É importante notar duas coisas”, ela diz. “Uma: não vamos confundir um encontro que deu errado com as práticas de assédio e agressão praticadas impunemente por predadores como Harvey Weinstein. Se eu tive homens que passaram dos limites comigo? Com certeza. Mas isso não se compara a uma longa sucessão de agressões premeditadas. E também: é importante que (o movimento) sirva de alerta aos homens, de que esse comportamento não pode e não vai mais ser tolerado, impunemente. Isso é bom para os homens em geral. E é bom para os estúdios e os produtores, bom que eles saibam que respeito inclui também pagamento igual para mulheres e homens. Porque há uma correlação entre abusar as mulheres e não pagar o que se deve às mulheres. É a mesma falta de respeito. Nas profissões em que há paridade os índices de assédio e abuso caem pela metade – vários estudos comprovam isso.”

Sempre passional quando se trata de causas e ideias, Fonda faz uma pausa, respira profundamente e bebe um pouco de chá com limão. E finalmente acrescenta: “E é bom também que os homens saibam que não podem ficar mostrando seus pênis só porque isso os excita. Eles não têm esse direito. E, sinceramente, nós não achamos a menor graça.”

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