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Indústria da música no Brasil cresceu acima da média internacional

Puxado pelo crescimento do streaming, a receita do setor de música gravada no Brasil aumentou 15,4% entre 2017 e 2018

Público assistindo show do Red Hot Chilli Peppers no Rock in Rio 23/03/2018 (Alexandre Schneider/Getty Images)

Público assistindo show do Red Hot Chilli Peppers no Rock in Rio 23/03/2018 (Alexandre Schneider/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 3 de abril de 2019 às 10h34.

Se tudo vai meio mal na economia do Brasil - as projeções mais recentes de crescimento do PIB no ano ficaram abaixo de 2% -, o setor musical teve boas notícias nesta terça-feira, 2. Dados dos Produtores Fonográficos Associados (Pro-Música Brasil) mostraram um crescimento de 15,4% das receitas do setor de música gravada no Brasil entre 2017 e 2018. O número é superior à alta do mercado global, que, segundo dados da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), ficou em 9,7%. As receitas da indústria em 2018 somaram US$ 19,1 bilhões - em 2001, antes dos 13 anos de quedas contínuas, o valor era de US$ 23 bilhões.

A marca de 9,7% representa o maior crescimento para a indústria da música desde que a IFPI começou a contabilizar os dados globais, em 1997, e agora são quatro anos seguidos de altas.

Os números são puxados para cima pelo streaming. No Brasil, o faturamento do setor aumentou 38% em um ano e hoje representa 69,5% do total. No globo, o streaming cresceu 34% e hoje representa 46,9% das receitas da indústria da música. Segundo o Global Music Report, no mundo existem 255 milhões de assinantes das plataformas de streaming, como Spotify, Deezer e Apple Music. Uma parte dessas receitas também vêm da publicidade nesses serviços e no Youtube.

O mercado de mídia física prosseguiu com sua tendência de queda. No mundo, esse segmento caiu 10% em receitas em relação a 2017, no Brasil, a queda foi ainda mais vertiginosa: 69%.

"O mercado físico teve um declínio muito acentuado desde o meio dos anos 2000 no Brasil. A razão é um setor de varejo muito deteriorado", explica o presidente da Pro-Música Brasil, Paulo Rosa. "Não se encontra mais lojas de música. Livrarias e lojas de departamento, que serviam de escoamento para a distribuição, continuam vendendo, mas com cada vez menos espaço. Isso se reflete no crescimento do setor digital brasileiro, acima da média mundial."

Segundo Rosa, isso acontece porque existe uma demanda longamente reprimida para o mercado de streaming no Brasil. "A quantidade de aparelhos conectados à internet é muito grande, entre smartphones, tablets, PCs, etc. Talvez seja maior do que a população. Isso cria para o setor de streaming, que tem um modelo de negócio muito atrativo para o consumidor, uma situação favorável: oferecer com preços relativamente baixos qualquer música do mundo. Isso propicia para o mercado brasileiro um potencial que dificilmente se vê em outros mercados que já estão mais amadurecidos."

Rosa acredita que o ambiente saudável da indústria também depende do quadro macroeconômico e do poder de consumo da população, bem como de alguma recuperação do mercado físico. "Mas são boas notícias para a indústria", diz.

Gerações

Marcio Vidal, hoje com 68 anos, era uma criança quando seu pai sintonizava rádios de música caipira de São Paulo, na sala de estar, numa época em que a televisão era artigo raro. Foi ali que ele conheceu a música de Tonico e Tinoco, Nelson Gonçalves, Anísio Silva e Ângela Maria. Seis décadas depois, hoje ele pode redescobrir e explorar as canções da infância com um celular novo, no qual utiliza apenas o aplicativo do Youtube, conectado a uma caixinha de som via bluetooth. "Descobri um mundo novo."

O gosto pela música - que a partir da sua adolescência ganhou contornos de rock and roll, Beatles, Stones e MPB e ganhou a materialidade dos vinis - foi transmitido para os filhos. A filha Renata Vidal hoje recorda-se que o pai colocava um rádio no berço "porque não queria criança enjoada com barulho". Se o pai descobria Nat King Cole, Johnny Rivers e Celly Campelo pelo rádio, a filha tomava gosto por Alice Cooper, Metallica e companhia na coleção paterna, mas também nas danceterias da cidade e no programa Clipe Trip, da TV Gazeta. "O que a gente ouvia nas casas noturnas levava para dentro de casa. Meu pai é engraçado, ele esvaziava a sala, fazia decoração com luzes e botava música para a gente. Os policiais eram nossos amigos porque todo domingo batiam lá em casa", conta, com saudades.

Na época, a mídia ainda era o vinil, e quando o CD apareceu, nos seus 17 anos, se iniciou um período de doação dos LPs antigos, comum em muitas famílias, hoje lembrado com angústia. "Quase choro", brinca - uma de suas lembranças mais doídas é a doação de um disco do Alice Cooper, pela descrição que ela faz da capa, provavelmente School's Out, de 1972. "Já fui em várias feiras e sebos, mas não acho", lamenta. Ela manteve na coleção, porém, o compacto de papelão de Roberto Carlos lançado em 1964, quadrado, numa promoção das canetas Sheaffer, com O Calhambeque.

Hoje em dia, porém, ela se rendeu ao streaming e ainda ouve arquivos mp3 no carro ("os carros já não tocam CD"). "No streaming, coloco no aleatório e também uso para explorar novamente artistas que gosto muito, como Johnny Cash."

A paixão da família por música acabou por influenciar decisivamente a escolha profissional da filha de Renata, Camila Cetrone, jornalista, 20 anos. Depois de crescer com as estantes de LPs e CDs, descobriu o gosto próprio assistindo clipes na Play TV e na Mix TV. "Comecei com CDs, até atrasada, tive um discman, na época escutava coisas de criança, como Felipe Dylon e Kelly Key. Depois comecei a criar gostos musicais, e ouvia num iPod Nano, por pouco tempo. Logo depois, foi celular."

Uma marca de geração é o incômodo que sentia ao "baixar" música da internet. "Talvez por ter crescido com música, sempre vi uma importância de bancar o trabalho do artista, pagar pelo que escuto, mesmo que seja R$16 por mês", conta. O streaming é hoje o protagonista de sua vida de exploradora musical, dadas as facilidades de acesso, mas ela também guarda um carinho para a coleção de vinis da família, que aos poucos ganha novas adições. "Vinil é caro. Gosto de comprar, ter um momento para escutar, é um ritual." O investimento, porém, é menos frequente do que o play diário no seu aplicativo preferido.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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