Hipercarro mais popular tem preço mínimo de US$ 1,4 milhão
Com preço salgado, carros da Koenigsegg Automotive são alguns dos modelos, feitos em linha de montagem, mais exclusivos e procurados do planeta
Da Redação
Publicado em 30 de setembro de 2013 às 17h53.
Uma foto no escritório de Christian von Koenigsegg mostra um dos supercarros de edição limitada do sueco de 41 anos – um Agera R de 2011 de cor vermelho fogo – junto com um abominável dourado e brilhante que parece ter saído do set de “O Calhambeque Mágico”.
O segundo é uma recriação do carro que Koenigsegg viu pela primeira vez aos cinco anos de idade em um filme norueguês de animação em stop motion chamado “O Grande Prêmio”, que conta a história de um reparador de bicicletas que constrói um carro de corrida a partir de peças descartadas e – enfrentando as dúvidas e o escárnio das montadoras tradicionais – vence nas 24 Horas de Le Mans.
Von Koenigsegg assistiu ao filme várias vezes e em cada uma delas teve maior certeza da sua mensagem: qualquer um pode fazer um grande carro, como informará a revista Bloomberg Pursuits na sua edição para o terceiro trimestre de 2013.
“Eu simplesmente pensei: ‘se um reparador de bicicletas pode fazê-lo, então eu também posso’”, diz Von Koenigsegg no seu escritório da Koenigsegg Automotive AB, em uma antiga base da Força Aérea Sueca sobre a verdejante costa sul do país. Von Koenigsegg, de físico corpulento, está vestido com jeans elegantes e camisa Oxford azul feita à medida com um monograma CvK impresso no bolso do peito – embora isso não seja o detalhe mais refinado visível nele. Ele sofre de alopecia areata, uma doença autoimune que faz com que o corpo rejeite o cabelo e pode resultar na perda total ou parcial dos folículos. A causa exata não foi determinada. Nas primeiras fotos da companhia, Von Koenigsegg tem muito cabelo castanho; contudo, há muitos anos que ele não apenas é careca, mas também não tem sobrancelhas nem outro pelo visível.
“Talvez o cabelo volte”, disse ele encolhendo os ombros. “Eu não sei, na verdade”.
Vilão de Bond
Com sua cabeça careca e seu inglês melífluo, com um ligeiro sotaque, para não mencionar que sua sede fica em uma antiga base militar remota, Von Koenigsegg lembra um vilão dos filmes de James Bond. A associação é apta, pois embora as ambições dele não sejam malévolas, ele está empenhado em dominar o mundo, pelo menos no reino dos supercarros de sete cifras.
A indústria automotiva está cheia de esqueletos de startups falidos criados pela visão abrangente de uma única pessoa. Basta lembrar-se de Tucker, DeLorean, Fisker – e esses são apenas os casos famosos (uma importante exceção recente, é claro, é a Tesla Motors Inc., de Elon Tusk). A sabedoria popular indica que basicamente é impossível criar uma montadora do zero e fazê-la funcionar. Os custos são altos demais; as barreiras à entrada, muito grandes. Contudo, é exatamente o que Von Koenigsegg fez.
US$ 1,4 milhão no mínimo
Hoje, os carros da Koenigsegg Automotive – cujo preço mínimo é de US$ 1,4 milhão – são alguns dos modelos, feitos em linha de montagem, mais exclusivos e procurados do planeta. No melhor ano, a companhia constrói apenas 12 ou 14, todos feitos a medida para seus compradores específicos.
Neste ano, a companhia construiu seu centésimo veículo em 19 anos de história. Apelidado de Hundra (“cem” em sueco), o Agera S, feito de fibra de carbono e com 1.030 cavalos-vapor, foi construído com mais de 4.000 peças feitas sob medida e finalizado com listras de folha de ouro de 24 quilates, feitas por um artesão trazido da Itália. Seu cliente é de Hong Kong.
Os únicos concorrentes efetivos da Koenigsegg Automotive no ramo dos chamados supercarros (definidos vagamente como carros feitos à mão, de edição limitada e preço superior a US$ 1 milhão) são a Pagani Automobili SpA, da Itália, e a Bugatti Automobiles SAS, da França; esta é a atual líder da categoria, com uma colossal produção anual entre 30 e 35 veículos.
O hipercarro mais popular
A Koenigsegg controla cerca de 25 por cento do mercado, mas possui a influência de uma marca bem maior, pelo menos entre os fãs de carros exóticos. Na exposição automotiva de Genebra, o Hundra foi nomeado o “hipercarro mais popular”, superando as obras-mestras da Automobili Lamborghini SpA, da Bugatti, da Ferrari SpA, da McLaren Automotive Ltd. e da Porsche SE.
A Koenigsegg Automotive é especialmente famosa pelo seu desempenho. A companhia ostenta o recorde mundial em aceleração (de zero a 300 km/h em 14,53 segundos), freado (de 300 a zero km/h em 6,66 segundos) e – a que mais orgulhoso deixa seu fundador – ambos os processos: de zero a 300 km/h e de volta a zero em 21,19 segundos, cifra que sugere um rendimento geral excepcional mais do que simples força bruta.
“Cem entre sete bilhões de seres humanos no mundo compram hipercarros a cada ano”, conta Von Koenigsegg. “Já somos um agente importante em um segmento minúsculo”.
“Nunca falo que sou um designer de carros”, diz Von Koenigsegg, que nunca fez faculdade nem possui estudos formais em design ou engenharia, enquanto mostra sua fábrica surpreendentemente silenciosa.
“Gosto de afirmar que o carro se desenha sozinho, mas que eu sou o guia”, diz Von Koenigsegg.
Rabiscos em guardanapos
A grande maioria do que acaba dentro de um veículo da Koenisgegg sai da mente do seu fundador, normalmente expressada em rabiscos feitos em guardanapos. A forma atual dos veículos da Koenisgegg continua sendo basicamente a mesma forma original imaginada por Von Koenisgegg em agosto de 1994: um carro de motor médio com uma frente pequena, pendentes na parte traseira, grandes entradas de ar nas laterais, pára-brisas arredondado e uma capota removível.
Von Koenisgegg passou dois anos trabalhando no primeiro protótipo desse modelo que funcionou e que depois se converteria no CC (sigla de “competition coupe”).
Para a maioria das fabricantes, especialmente as pequenas, o método consiste em tomar peças existentes – freios, motores, transmissões – e combiná-las em um modelo de design próprio. É muito mais barato e em geral mais pragmático desde uma perspectiva de engenharia comprar peças de companhias que já investiram milhares de horas e milhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento.
Von Koenigsegg vê as coisas de outra forma. Sua companhia não apenas fabrica seus próprios freios, motores e transmissões, mas também quase todos os outros componentes dos seus carros, até mesmo os parafusos de titânio, cada um dos quais possui estampado o logo da companhia, uma versão simplificada do brasão da família de Von Koenisgegg, de 900 anos.
Os carros da Koenisgegg são tão cobiçados que até mesmo seu criador não possui um.
Retirar um carro da linha seria afastá-lo de um consumidor, portanto Von Koenisgegg dirige um Saab 9-5 com o pára-brisa quebrado. Ele comprou o modelo branco de quatro portas – o último modelo totalmente novo construído pela Saab – em 2009, quando ele liderou uma coalizão em uma tentativa audaz e breve de salvar a emblemática marca sueca.
De volta ao seu escritório, Von Koenigsegg vira seu monitor do computador para revelar um projeto que redefinirá ainda mais o conceito do hipercarro – um projeto sem limites de fundos iniciado sob o comando de sua concessionária chinesa, que desejava algo “extremo” para vender a seus clientes mais exigentes.
O One:1 deriva seu nome da ambição de converter-se no primeiro veículo fabricado em linha de montagem que alcance verdadeiramente uma razão de um a um entre peso e cavalos-vapor. Caso a produção tenha sucesso, pesará 1.400 quilos e terá 1.400 cavalos-vapor, muito mais do que os 965 cavalos-vapor do Agera, o modelo básico.
Os potenciais compradores deveriam levar em conta que a produção estritamente limitada de seis veículos já foi vendida e que há muita demanda acumulada caso algum desses afortunados compradores se abstenha. O preço ainda não foi divulgado, mas Von Koenisgegg afirma que é “muito mais alto” do que o do Agera S.
Mesmo assim, ele admite que quase certamente a companhia perca dinheiro no projeto – algo com o qual ele diz não preocupar-se.
“Ninguém precisa de um carro como esse”, explica Von Koenigsegg sorrindo. “Apenas é preciso querer um”.
Uma foto no escritório de Christian von Koenigsegg mostra um dos supercarros de edição limitada do sueco de 41 anos – um Agera R de 2011 de cor vermelho fogo – junto com um abominável dourado e brilhante que parece ter saído do set de “O Calhambeque Mágico”.
O segundo é uma recriação do carro que Koenigsegg viu pela primeira vez aos cinco anos de idade em um filme norueguês de animação em stop motion chamado “O Grande Prêmio”, que conta a história de um reparador de bicicletas que constrói um carro de corrida a partir de peças descartadas e – enfrentando as dúvidas e o escárnio das montadoras tradicionais – vence nas 24 Horas de Le Mans.
Von Koenigsegg assistiu ao filme várias vezes e em cada uma delas teve maior certeza da sua mensagem: qualquer um pode fazer um grande carro, como informará a revista Bloomberg Pursuits na sua edição para o terceiro trimestre de 2013.
“Eu simplesmente pensei: ‘se um reparador de bicicletas pode fazê-lo, então eu também posso’”, diz Von Koenigsegg no seu escritório da Koenigsegg Automotive AB, em uma antiga base da Força Aérea Sueca sobre a verdejante costa sul do país. Von Koenigsegg, de físico corpulento, está vestido com jeans elegantes e camisa Oxford azul feita à medida com um monograma CvK impresso no bolso do peito – embora isso não seja o detalhe mais refinado visível nele. Ele sofre de alopecia areata, uma doença autoimune que faz com que o corpo rejeite o cabelo e pode resultar na perda total ou parcial dos folículos. A causa exata não foi determinada. Nas primeiras fotos da companhia, Von Koenigsegg tem muito cabelo castanho; contudo, há muitos anos que ele não apenas é careca, mas também não tem sobrancelhas nem outro pelo visível.
“Talvez o cabelo volte”, disse ele encolhendo os ombros. “Eu não sei, na verdade”.
Vilão de Bond
Com sua cabeça careca e seu inglês melífluo, com um ligeiro sotaque, para não mencionar que sua sede fica em uma antiga base militar remota, Von Koenigsegg lembra um vilão dos filmes de James Bond. A associação é apta, pois embora as ambições dele não sejam malévolas, ele está empenhado em dominar o mundo, pelo menos no reino dos supercarros de sete cifras.
A indústria automotiva está cheia de esqueletos de startups falidos criados pela visão abrangente de uma única pessoa. Basta lembrar-se de Tucker, DeLorean, Fisker – e esses são apenas os casos famosos (uma importante exceção recente, é claro, é a Tesla Motors Inc., de Elon Tusk). A sabedoria popular indica que basicamente é impossível criar uma montadora do zero e fazê-la funcionar. Os custos são altos demais; as barreiras à entrada, muito grandes. Contudo, é exatamente o que Von Koenigsegg fez.
US$ 1,4 milhão no mínimo
Hoje, os carros da Koenigsegg Automotive – cujo preço mínimo é de US$ 1,4 milhão – são alguns dos modelos, feitos em linha de montagem, mais exclusivos e procurados do planeta. No melhor ano, a companhia constrói apenas 12 ou 14, todos feitos a medida para seus compradores específicos.
Neste ano, a companhia construiu seu centésimo veículo em 19 anos de história. Apelidado de Hundra (“cem” em sueco), o Agera S, feito de fibra de carbono e com 1.030 cavalos-vapor, foi construído com mais de 4.000 peças feitas sob medida e finalizado com listras de folha de ouro de 24 quilates, feitas por um artesão trazido da Itália. Seu cliente é de Hong Kong.
Os únicos concorrentes efetivos da Koenigsegg Automotive no ramo dos chamados supercarros (definidos vagamente como carros feitos à mão, de edição limitada e preço superior a US$ 1 milhão) são a Pagani Automobili SpA, da Itália, e a Bugatti Automobiles SAS, da França; esta é a atual líder da categoria, com uma colossal produção anual entre 30 e 35 veículos.
O hipercarro mais popular
A Koenigsegg controla cerca de 25 por cento do mercado, mas possui a influência de uma marca bem maior, pelo menos entre os fãs de carros exóticos. Na exposição automotiva de Genebra, o Hundra foi nomeado o “hipercarro mais popular”, superando as obras-mestras da Automobili Lamborghini SpA, da Bugatti, da Ferrari SpA, da McLaren Automotive Ltd. e da Porsche SE.
A Koenigsegg Automotive é especialmente famosa pelo seu desempenho. A companhia ostenta o recorde mundial em aceleração (de zero a 300 km/h em 14,53 segundos), freado (de 300 a zero km/h em 6,66 segundos) e – a que mais orgulhoso deixa seu fundador – ambos os processos: de zero a 300 km/h e de volta a zero em 21,19 segundos, cifra que sugere um rendimento geral excepcional mais do que simples força bruta.
“Cem entre sete bilhões de seres humanos no mundo compram hipercarros a cada ano”, conta Von Koenigsegg. “Já somos um agente importante em um segmento minúsculo”.
“Nunca falo que sou um designer de carros”, diz Von Koenigsegg, que nunca fez faculdade nem possui estudos formais em design ou engenharia, enquanto mostra sua fábrica surpreendentemente silenciosa.
“Gosto de afirmar que o carro se desenha sozinho, mas que eu sou o guia”, diz Von Koenigsegg.
Rabiscos em guardanapos
A grande maioria do que acaba dentro de um veículo da Koenisgegg sai da mente do seu fundador, normalmente expressada em rabiscos feitos em guardanapos. A forma atual dos veículos da Koenisgegg continua sendo basicamente a mesma forma original imaginada por Von Koenisgegg em agosto de 1994: um carro de motor médio com uma frente pequena, pendentes na parte traseira, grandes entradas de ar nas laterais, pára-brisas arredondado e uma capota removível.
Von Koenisgegg passou dois anos trabalhando no primeiro protótipo desse modelo que funcionou e que depois se converteria no CC (sigla de “competition coupe”).
Para a maioria das fabricantes, especialmente as pequenas, o método consiste em tomar peças existentes – freios, motores, transmissões – e combiná-las em um modelo de design próprio. É muito mais barato e em geral mais pragmático desde uma perspectiva de engenharia comprar peças de companhias que já investiram milhares de horas e milhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento.
Von Koenigsegg vê as coisas de outra forma. Sua companhia não apenas fabrica seus próprios freios, motores e transmissões, mas também quase todos os outros componentes dos seus carros, até mesmo os parafusos de titânio, cada um dos quais possui estampado o logo da companhia, uma versão simplificada do brasão da família de Von Koenisgegg, de 900 anos.
Os carros da Koenisgegg são tão cobiçados que até mesmo seu criador não possui um.
Retirar um carro da linha seria afastá-lo de um consumidor, portanto Von Koenisgegg dirige um Saab 9-5 com o pára-brisa quebrado. Ele comprou o modelo branco de quatro portas – o último modelo totalmente novo construído pela Saab – em 2009, quando ele liderou uma coalizão em uma tentativa audaz e breve de salvar a emblemática marca sueca.
De volta ao seu escritório, Von Koenigsegg vira seu monitor do computador para revelar um projeto que redefinirá ainda mais o conceito do hipercarro – um projeto sem limites de fundos iniciado sob o comando de sua concessionária chinesa, que desejava algo “extremo” para vender a seus clientes mais exigentes.
O One:1 deriva seu nome da ambição de converter-se no primeiro veículo fabricado em linha de montagem que alcance verdadeiramente uma razão de um a um entre peso e cavalos-vapor. Caso a produção tenha sucesso, pesará 1.400 quilos e terá 1.400 cavalos-vapor, muito mais do que os 965 cavalos-vapor do Agera, o modelo básico.
Os potenciais compradores deveriam levar em conta que a produção estritamente limitada de seis veículos já foi vendida e que há muita demanda acumulada caso algum desses afortunados compradores se abstenha. O preço ainda não foi divulgado, mas Von Koenisgegg afirma que é “muito mais alto” do que o do Agera S.
Mesmo assim, ele admite que quase certamente a companhia perca dinheiro no projeto – algo com o qual ele diz não preocupar-se.
“Ninguém precisa de um carro como esse”, explica Von Koenigsegg sorrindo. “Apenas é preciso querer um”.