Exame Logo

GP de São Paulo deve marcar retorno de público a eventos esportivos

Organização do GP de São Paulo aposta que grande parte da população do estado já terá sido vacinada na data do evento

Torcida durante o GP de São Paulo de F1, em novembro de 2019 (Peter J Fox/Getty Images)
AO

Agência O Globo

Publicado em 26 de junho de 2021 às 15h48.

Dia 5 de novembro. Se o cronograma da vacinação em São Paulo for mantido e os índices da pandemia não piorarem, nesta data pode ser realizado o primeiro grande evento esportivo com público no país desde o início da crise sanitária devido ao coronavírus. Será a sessão de treinos livres do GP de São Paulo de Fórmula 1 , em Interlagos, que terá sua corrida em 7 de novembro, um domingo, com a possível presença de 40 mil pessoas. Os ingressos já estão sendo vendidos, e duas cargas esgotaram em poucas horas.

O principal argumento da organização para liberar a presença de público em Interlagos é o provável nível de vacinação da população e a influência direta em outros fatores, como transmissibilidade, número de casos e de hospitalizações. Segundo Alan Adler, promotor da prova, a equipe trabalha com o cenário traçado pela prefeitura e Governo de São Paulo, que prevê que até 15 de setembro todas as pessoas acima de 18 anos já estejam vacinadas.

Veja também

Seguindo as projeções da FioCruz com as médias atuais, São Paulo deve chegar a mais de 50% da população totalmente imunizada até o fim de outubro. Percentual acima de países que já tiveram corridas com público, como Bahrein, Mônaco, França e Azerbaijão. O máximo de público até agora foi de 15 mil pessoas nos GPs da França e da Estíria.

O estado de São Paulo tem, segundo dados de ontem, 23,5 milhões de vacinados com a primeira dose e seis milhões com a segunda. Segundo a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados do governo Paulista, a população atual do estado é de 44,8 milhões de pessoas.

Especialistas afirmam que o evento é viável, mas ressaltam que ainda há riscos. Eles alertam que tudo deve ser baseado nos dados científicos do momento, como fizeram outros países que já receberam provas da Fórmula 1 nesta temporada.

— Dependendo da vacinação, pode ser um teste. É possível, mas no evento deve-se manter os cuidados, porque provavelmente não teremos grande volume de imunizados com a segunda dose ainda — aponta o pesquisador Diego Xavier, da Fiocruz.

Feriadão na mira

O Governo de São Paulo tem em João Doria um entusiasta da corrida. O governador se comprometeu a manter a prova em São Paulo desde a época em que era prefeito, e havia a possibilidade da F1 voltar para o Rio de Janeiro. O estado, além de acreditar na capacidade de vacinação, se baseia em um estudo da Fundação Getúlio Vargas que prevê que o retorno aos cofres públicos seja de R$ 74 milhões em impostos, além de impacto positivo de R$ 474 milhões na cidade e a criação de 5.785 empregos temporários.

— É uma vitória para São Paulo e para o Brasil, já que corríamos o risco de perder o grande prêmio para outros países. Essa será a grande plataforma da esperança, da transformação da fase de restrição para a fase de recuperação econômica e também da esperança dos brasileiros — disse Doria.

De acordo com interlocutores, o governo Doria pretende usar o GP como uma vitrine da vacinação. Eles estudam, inclusive, sugerir a mudança da data do GP São Paulo à FIA caso a corrida na Austrália, que está marcada para 21 de novembro, seja cancelada. O ideal, segundo fontes, é que a prova em Interlagos seja de 12 a 14 de novembro, para que os turistas permaneçam na cidade no feriado do dia 15.

O infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, lembra que a pandemia já se mostrou imprevisível. E que atualmente não se sabe a duração exata da proteção das vacinas, e que há variantes que podem escapar dos imunizantes:

— Hoje, vacinar todo mundo em poucos meses é um cenário irreprodutível no país. E há uma combinação de fatores, como o nível das medidas restritivas para conter a transmissão enquanto se vacina. É uma atitude otimista, e acho possível. Mas a organização sabe que há o risco de ter de cancelar a presença de público e arcar com os prejuízos. Espero que a questão sanitária prevaleça.

Os protocolos para a prova brasileira da F1 não foram 100% definidos. O Governo de São Paulo, apesar de não ter se pronunciado oficialmente sobre o assunto, projeta a realização de até dez eventos testes no estado, de forma controlada, para definir as exigências para se ter público em grandes eventos — incluindo no GP.

Segundo a organização do GP de São Paulo, caso as condições sanitárias permitam, a quantidade de ingressos disponibilizados pode aumentar — o autódromo de Interlagos tem capacidade para até 70 mil pessoas. Se a presença do público precisar ser vetada, os ingressos comprados para a corrida de 2021 passarão a valer para o ano que vem.

 

Futebol sem data

Antes de a organização do GP de São Paulo anunciar a venda de ingressos, a CBF já vinha trabalhando com a possibilidade de reabrir os portões dos estádios a partir de setembro como um primeiro teste de retomada. A comissão médica continua monitorando a situação e deixa preparado, sempre com atualizações, o protocolo sanitário. Não há, porém, uma data em pauta.

— Essa aposta para novembro é uma grande expectativa, mas não dá para garantir com os dados de hoje e só com a vacinação. Em ciência não se faz aposta se não a chance de errar é fatal. Não basta falar que com tal índice de vacinação se pode abrir. Tem de olhar os outros fatores que contribuem para a queda sustentada também — explica o médico Jorge Pagura, presidente da Comissão de Médicos do Futebol da CBF.

Outros grandes eventos com público, como Eurocopa e NBA, se basearam na vacinação e nos indicadores do momento. Nos playoffs do basquete americano, o Madson Square Garden, em Nova York, abriu para 15 mil pessoas e os vacinados puderam ficar em setores exclusivos sem distanciamento. Tanto nos EUA quanto na maioria dos países sedes do campeonato de seleções da Europa, os índices mostram bom percentual de vacinação de primeira dose, taxa de média de casos diários por milhão de habitantes abaixo de 100 e taxa de transmissibilidade abaixo de 0,8 (ou seja, para cada 100 infectados, outras 80 pessoas são contaminadas).

— Vamos aprender com os exemplos dos outros. Temos de olhar as Olimpíadas, a Eurocopa, os EUA. Debater a melhor forma de liberar o público — completa Pagura.

Não perca as últimas notícias sobre a pandemia. Assine a EXAME .

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusFórmula 1Pandemia

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Casual

Mais na Exame