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É possível ser gordinho e ser saudável ao mesmo tempo?

Dois especialistas norte-americanos debatem sobre esse assunto

Pé na balança (Tara Bartal / Stock Xchng)

Pé na balança (Tara Bartal / Stock Xchng)

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Da Redação

Publicado em 26 de junho de 2011 às 10h18.

Diz o senso comum que o corredor ideal tem um corpo "esbelto, alto e gracioso". Mas eis que, em uma prova de 5 km, alguém que não tem nenhuma dessas características (pelo contrário, não é muito alto e até ostenta uma barriguinha...) passa correndo por nós a toda velocidade e faz com que perguntemos: será que existe mesmo uma só aparência para quem está em boa forma? Pois alguns estudos mostram que pessoas que estão acima do peso e praticam exercícios podem ser saudáveis, do ponto de vista cardiovascular, e mesmo viver mais quando comparadas a “magrelos” sedentários.

Pedimos a opinião de dois especialistas norte-americanos sobre esse assunto. Glenn Gaesser, diretor do Healthy Lifestyles Research Center (centro de pesquisas de estilo de vida saudável), na Arizona State University, afirma que é possível estar em forma e acima do peso ao mesmo tempo. Mas a Dra. Amy Weinstein, mestre em Saúde Pública e professora-adjunta na Harvard Medical School, que estuda os impactos da obesidade e dos exercícios sobre as doenças, discorda. Saiba o porquê nas respostas abaixo. Os “sim” são de Glenn. Os “não”, de Amy.

É possível estar acima do peso e ser saudável? 

SIM: Praticamente todos os problemas de saúde relacionados ao peso podem melhorar muito ou até alcançar a cura com a prática moderada de exercícios, mesmo no caso de pessoas que estão acima do peso. A quantidade de exercícios necessária para se alcançar um nível de condicionamento físico que reduza significativamente o risco de doenças e de mortalidade é equivalente a uma caminhada rápida de 30 minutos por dia, cinco vezes por semana, ou uma corrida de 20 a 30 minutos por dia, três vezes por semana.

NÃO: Com base em pesquisas que eu acompanhei e estudos que realizei, a atividade física parece não reverter completamente os efeitos maléficos do excesso de peso sobre o diabetes e as doenças cardiovasculares. O motivo disso não é claro, mas pode ser devido a hormônios e proteínas que regulam o peso e têm efeito sobre doenças crônicas, e que não podem ser revertidos pela atividade física.

Mas uma "bola de gordura" é realmente capaz de correr mais do que uma "máquina esguia"? 

SIM: É possível que uma pessoa mais pesada seja mais rápida que um corredor mais magro se o corredor pesado tiver os ingredientes necessários para se ter uma resistência melhor, ou seja, VO2 máx mais alto, limiar de lactato mais elevado e melhor economia de corrida. Além disso, os genes desempenham um papel muito importante nesse aspecto, assim como a experiência.

NÃO: Bem, é claro que isso não é impossível. Mas uma pessoa que esteja acima do peso seria mais rápida se emagrecesse. A perda de cerca de 900 gramas teoricamente aumenta a velocidade em cerca de 1 metro por minuto de corrida. Então, se um corredor corre 5 km em 20 minutos, se ele emagrecesse 900 gramas, ele seria 5 segundos mais rápido, no geral.

Os corredores pesados se machucam com a mesma frequência que os corredores magros?

NÃO: O sobrepeso aumenta o risco de artrite. Pesquisas mostram que pessoas obesas têm risco quase três vezes maior de apresentar artrite nos joelhos. Então, faz sentido dizer que os corredores pesados têm maior risco de lesões nas articulações.


Os corredores deveriam desconsiderar o ganho de peso relacionado à idade?

SIM: Para controlar o peso, nosso corpo desacelera o metabolismo, então, provavelmente seria necessário fazer duas vezes mais exercícios. Depois dos 40 anos, teríamos de correr cerca de 3 km a mais por semana, para cada ano, para manter nosso peso. Então, se corremos 40 km por semana aos 40 anos, teríamos de correr 43 km por semana aos 41, 46 km aos 42 e assim por diante. E isso pode ser mais do que a maioria das pessoas está disposta a fazer. É por isso que eu promovo atividades físicas direcionadas para a saúde e não para perder peso, uma vez que emagrecer exige muito esforço. Se seu peso estiver aumentando, mas seu nível de colesterol e sua pressão arterial continuam dentro dos limites saudáveis, se eu fosse você, eu não me preocuparia.

NÃO: Conforme ganhamos peso, maior é o risco de termos todo o tipo de doenças crônicas. Então, eu digo aos pacientes cujo peso possa estar subindo constantemente para não se concentrarem em perder peso. Em vez disso, é melhor interromper o ganho de peso, no primeiro momento — mesmo que o emagrecimento seja de apenas 450 gramas por ano, pois isso significa 9 quilos em 20 anos, e esse é um número importante.

Consumir menos calorias é a melhor maneira de emagrecer?

SIM: Aqui, ambos os especialistas concordam. Se quisermos perder peso, restringir o consumo de calorias é o caminho certo, mas também seria mais saudável fazer exercícios. Em um grande estudo publicado em 2010, pesquisadores analisaram um grupo de pessoas que fez dieta isolada e um grupo que fez dieta combinada a exercícios. Ambos os grupos mantiveram exatamente o mesmo déficit de caloria a cada dia e, portanto, perderam a mesma quantidade de peso. Mas o grupo que fez dieta e exercícios apresentou mudanças muito melhores em alguns marcadores de saúde. Além disso, os exercícios de resistência podem aumentar a massa muscular e o fato de se ter mais músculos pode ajudar a queimar mais calorias, mesmo quando se está em repouso. Fazer exercícios também é muito bom para ajudar a evitar o ganho de peso depois do emagrecimento. Então, para as pessoas que têm uma determinação inabalável em tentar perder peso, a mensagem é que elas podem perder alguns quilos fazendo dieta, mas para ficar livre deles será preciso fazer exercícios. E, com isso, elas terão também mais saúde.

Os benefícios dos exercícios são mais importantes que perder peso? 

SIM: A atividade física pode diminuir o risco de doenças cardiovasculares, independentemente do peso. Podemos pensar em aumentar o colesterol bom, o HDL, ou diminuir o ruim, o LDL, ou diminuir a pressão arterial, e assim por diante; todos esses aspectos podem melhorar com a prática de exercícios, mesmo que a pessoa não emagreça, o que resulta em menor risco de doenças cardiovasculares. A atividade física parece ter um efeito importante sobre os riscos de mortalidade gerais e, novamente, isso independe do peso.

NÃO: Os exercícios podem melhorar a saúde, mas podemos listar mais 50 problemas de saúde – de diabetes a artrite, refluxo ácido, apneia do sono e alguns tipos de câncer – que resultam de complicações decorrentes do excesso de peso. Mesmo emagrecer apenas de 2 a 4,5 quilos já ajuda a diminuir o risco de ter esses problemas.

Então é mais importante fazer exercícios que perder peso? 

SIM: Foi observado que aproximadamente duas vezes mais pessoas alcançam suas metas de exercícios, comparado às metas de redução de peso. Mas a prática de exercícios pode ou não levar à redução do peso. Nos últimos 30 anos, milhões de norte-americanos vêm tentando perder peso e, ainda assim, eles estão mais pesados agora do que nunca. Portanto, alguma coisa não está dando certo. Então, em vez de enfatizar a perda de peso, é melhor se concentrar em conseguir um bom condicionamento físico. Em vez de pensar em perder 13 quilos, que tal pensar em caminhar durante 30 minutos?

NÃO: Eu gostaria que os exercícios — juntamente com uma dieta saudável — fossem promovidos como uma forma de se resolver a epidemia de obesidade. Eu coordeno um programa clínico de controle do peso e venho tentando fazer com que meus pacientes percam peso. Descobri que, na verdade, não é tão difícil mudar o comportamento das pessoas, nesse caso dieta e atividades físicas. Os norte-americanos simplesmente precisam fazer mais exercícios e emagrecer.

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