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Gasto de brasileiros com viagens no país sobe 78,6% em dois anos

Percentual de famílias que viaja, no entanto, ainda é baixo. Em 2023, em apenas dois de cada dez domicílios brasileiros alguém viajou. A principal razão para isso é falta de dinheiro, mostra IBGE

Agência o Globo
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Publicado em 13 de setembro de 2024 às 11h22.

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Os gastos dos brasileiros com viagens dentro do país alcançou R$ 20,1 bilhões em 2023, alta de 78,6% na comparação com o registrado em 2021, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, sobre turismo. No entanto, o número de brasileiros que viaja, seja de avião, de carro ou ônibus, ainda é baixo. Em apenas 19,8% de um total de 77,4 milhões de domicílios no país, ao menos um morador viajou em 2023.

O percentual de famílias que viajaram era ainda menor nos anos de pandemia. Em 2020 e 2021, 13,9% e 12,7% dos domicílios eram lar de algum viajante, respectivamente. No ano de 2022, não houve pesquisa.

"Existe um impacto grande da pandemia nos dados anteriores. Isso está claro. Em 2023, houve recuperação, com 19,8% dos domicílios reportando viagens, já refletindo a retomada do turismo no pós-Covid. E há uma correlação direta com o rendimento dos domicílios", diz William Kratochwill, analista da pesquisa.

"Os dados são levantados para ajudar o poder público a desenvolver medidas de incentivo ao turismo. Existe demanda reprimida e que pode ser ampliada".

Falta de dinheiro e de tempo

Em 2020 e 2021, as limitações da crise sanitária restringiram viagens de forma geral, levando a movimentos como maior uso de carro particular para deslocamentos, maior parte dos deslocamentos feitos para visitar amigos e familiares, baixo uso do transporte aéreo. Com o fim da pandemia, o cenário se alterou e os dados refletem as mudanças nas viagens feitas pelos brasileiros.

O potencial a ser explorado é grande visto que em mais de 80% dos domicílios do país, os moradores não viajaram no ano passado. Para efeito de comparação, na fatia de domicílios com renda abaixo de meio salário mínimo por morador, apenas 11,6% registraram viagens. Na outra ponta, nos com renda per capita de quatro salários mínimos ou mais, essa fatia salta para 46%.

Dentre aqueles que não viajaram, a principal justificativa (40%) foi não ter dinheiro. Tendo havido ainda percentuais relevantes dos que responderam não ter necessidade de viajar (19,1%) e não ter tempo para isso (17,8%).

'Grande desigualdade'

Ainda que a fatia de domicílios com viagens feitas por seus moradores tenha subido em 68,5% na comparação com 2021, a base de comparação estava enfraquecida pelas condições da pandemia.

"Pelo número de domicílios em que houve viagem, nós podemos perceber uma grande desigualdade. Eu posso dizer que quase 80% dos domicílios no Brasil têm um rendimento mensal per capita de menos de dois salários mínimos. Ao passo que, quando observamos o número de domicílios em que houve, eu tenho que 77,1% têm um rendimento domiciliar mensal per capita de mais de dois salários mínimos ou mais", destacou Kratochwill.

O ranking que ordena as unidades da federação por essa fatia de lares que informaram viagens em 2023 vem encabeçada por Distrito Federal e Rio Grande do Sul, onde mais de um quarto dos domicílios teve ao menos um morador viajando. Na lanterna estão Amapá (10,3%) e Acre (6%). O número anual de viagens e o gasto com cada uma também varia de acordo com a renda do domicílio. Quanto maior a renda, mais viagens, porém, numa fração menor de lares.

Quanto menor a renda, maior o uso de casas de amigos ou parentes como hospedagem. O uso de hotéis, resorts ou flats é o mais usado apenas em domicílios com rendimento a partir de dois salários mínimos, mais alto nos com ganhos per capita acima de quatro salários mínimos.

O gasto médio das viagens nacionais com pernoite ficou em R$ 1.639. Nos domicílios com rendimento de menos de meio salário mínimo, ele foi de R$ 740, enquanto nos de quatro ou mais, de R$ 2.731.

Viagens de lazer mais fortes

As viagens de lazer seguem como a principal motivação ao turismo, com 85,7% do total. Enquanto as profissionais abarcam 14,3%. As duas subiram nesse último par de anos, demonstrando a retomada do turismo no pós-Covid. O salto em viagens a lazer, no entanto, foi mais forte, com alta de 72,4% na comparação com 2021, enquanto nas profissionais, o aumento foi de 66,7%. Puxa a preferência dos brasileiros, os roteiros de sol e praia que, no entanto, retraiu ante a 2020, abrindo espaço para avanços na demanda por viagens de cultura e gastronomia.

Outros pontos que refletem o retomada do turismo — e os desafios de renda no país — é que as viagens são majoritariamente domésticas e realizadas na mesma região em que vive o viajante. O Sudeste é o maior emissor de turistas, enquanto o Nordeste é o principal destino. É lá também onde está o maior gasto médio feito pelo viajante, com o patamar mais alto do país em Alagoas.

Na Covid, em 2021, as viagens internacionais chegaram a recuar a apenas 0,7% do total. No ano passado, subiram a 3%, ou 641 mil viagens com destino ao exterior.

No todo, caíram as viagens de carro, enquanto subiram as de avião, meio de transporte usado em 13,7% delas no ano passado, subindo de 10,2% dois anos antes. Ampliando também a opção por deslocamentos em ônibus de excursão ou de linha. Cresceram ainda as viagens de curta duração:

"As viagens de fim de semana ou de feriado maior, que prolonga para dois, três pernoites ou quatro, chegaram a 52,6 do total de viagens que aconteceram em 2023, ou 11,1 milhões de viagens de curta duração", sublinhou o analista.

Em períodos de crise, explicam especialistas do mercado de turismo, as pessoas privilegiam fazer viagens menos longas e para destinos próximos. É uma forma de fazer o programa caber no bolso.

 

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