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Afegão "A Pedra de Paciência" discute opressão feminina

Filme de Atiq Rahimi foi uma das indicações para representar o Afeganistão na disputa do Oscar de filme estrangeiro em 2013

Trecho do filme afegão "A Pedra da Paciência", do diretor Atiq Rahimi (Reprodução/Trailer)
DR

Da Redação

Publicado em 20 de agosto de 2014 às 17h31.

São Paulo - Indicado para representar o Afeganistão na disputa de uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro em 2013, A Pedra de Paciência, de Atiq Rahimi, é, ao mesmo tempo, uma reflexão sensível sobre a situação política e social daquela região como um reflexo da contínua expulsão de talentos que o estado de guerra e o fundamentalismo, associados, ali produzem.

Um bom exemplo está no próprio diretor e roteirista, radicado na França desde meados dos anos 1980 e que adapta na tela seu premiado romance de 2008, vencedor do prestigiado troféu Goncourt e traduzido em mais de 30 línguas.

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Para a versão cinematográfica, Rahimi contou com a preciosa parceria do veterano roteirista de Luis Buñuel, Jean-Claude Carrière (A Bela da Tarde).

Outro exemplo desta diáspora está na atriz principal de A Pedra de Paciência, a iraniana Golshifteh Farahani (Procurando Elly).

Desde 2008, ela se radicou em Paris, após ser acusada de colaboração com o Ocidente por ter integrado o elenco da produção hollywoodiana Rede de Mentiras, com o astro Leonardo DiCaprio.

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Sem perder de vista uma forma e um tom eventualmente poéticos, o enredo materializa uma situação de inconformismo e mesmo confronto da protagonista, uma mulher sem nome, que se vê forçada a manter vigília quase ininterrupta sobre o marido em coma (Hamid Djavadan).

Bem mais velho do que a esposa, com quem se casou por arranjo à distância, há dez anos, ele é um jihadista veterano. Ironicamente, a bala que o mantém em seu estado letárgico foi fruto de uma briga sem conotação política.

Pobre e solitária, refugiada numa casa em ruínas, continuamente bombardeada numa guerra sem fim, a mulher luta como pode para alimentar as duas filhas pequenas e manter vivo o marido.

Mas o farmacêutico se recusa a fiar-lhe mais medicamentos, mesmo o soro que indispensável ao doente. Até o entregador de água desapareceu momentaneamente, por conta dos combates.

E o mulá (Mohamed Al-Maghraoui) apenas diz à mulher para que reze, não pare de rezar.

O isolamento transforma a mulher numa falante contumaz. Afinal, nunca o marido a ouviu tanto, ainda que não se trate de uma atitude espontânea. Pensando bem, este permanente monólogo por vezes ganha a aparência de uma estranha DR.

Encorajada pela falta de interrupções e protestos por parte do marido, ela ganha coragem de passar a limpo sua vida, seus sentimentos em relação ao casamento, à frieza e à distância dele.

Cada dia com maior liberdade, a jovem mulher chega a confissões mais íntimas e mesmo revelações que, caso o marido a ouvisse, ensejariam uma reação violenta dele.

Graças ao talento da atriz, este contínuo relato, por vezes interrompido por situações externas – um bombardeio, uma passagem de soldados – nunca entedia.

Além do mais, graças à qualidade do texto, expõe muito sobre a condição feminina, a guerra santa islâmica, o peso de costumes sociais e religiosos ultraconservadores sobre os anseios pessoais, especialmente das mulheres.

Dois personagens interferem nesta solidão contínua, oferecendo um contraponto. Um deles é a tia da jovem (Hassina Burgan), uma mulher que também teve que romper com a rigidez de uma sociedade que se pretende imutável.

Outro é um jovem soldado (Massi Mrowat), que se insinua na rotina da moça quando esta, para se defender de um ataque, alega ser prostituta – o que, ironicamente, a salva de estupro.

As visitas do jovem soldado colocam em primeiro plano a sexualidade, assunto-tabu neste contexto. E permitem ao relato ambicionar mais no sentido de se transformar num simples, mas eficiente, libelo pela liberdade.

Devido à instabilidade política no Afeganistão, apenas umas poucas cenas externas foram filmadas naquele país. A maior parte da produção foi realizada no Marrocos.

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