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Este grupo LGBT tem desafiado a homofobia no esporte

O Unicorns Brazil reúne cerca de 150 pessoas para praticar futebol, corrida e treino funcional no Parque Ibirabuera

 (Uriel Passos e Nicolas Calligaro/Unicorns Brazil/Divulgação)

(Uriel Passos e Nicolas Calligaro/Unicorns Brazil/Divulgação)

Júlia Lewgoy

Júlia Lewgoy

Publicado em 12 de março de 2018 às 05h00.

Última atualização em 12 de março de 2018 às 11h17.

São Paulo - No país em que “bicha” e “viado” ainda são palavras usadas como xingamentos nos estádios de futebol, um grupo esportivo de LGBTs em São Paulo tem mostrado que o afeto é a melhor forma de combater a homofobia.

Há três anos, o Unicorns Brazil se formou com amigos gays que se reuniam para jogar bola. “Faltava um espaço onde eu me sentisse bem e não precisasse esconder quem eu era dentro de campo”, conta o advogado Filipe Marquezin, cofundador do Unicorns.

Desafiar a homofobia não era um objetivo claro, mas se tornou natural. “Heterossexuais são bem-vindos, mas esse é o nosso espaço. Estamos em um momento de mudança e, enquanto não pudermos ser quem somos em todos os lugares, é hora de marcar território”, diz o diretor de arte Bruno Host, cofundador do Unicorns.

Hoje, o Unicorns Brazil reúne cerca de 150 pessoas para praticar futebol, corrida e treino funcional no Parque do Ibirabuera. Homens gays são a maioria da equipe, mas outras pessoas LGBTs e heterossexuais também são bem-vindas. “Batemos muito na tecla de incluir a comunidade no meio LGBT”, diz Marquezin.

O Unicorns só não recebe homens heterossexuais para jogar futebol. “Nossa experiência foi muito ruim. Eles se sentiam ameaçados por sermos um grupo gay, era um clima de competitividade”, explica Marquezin. Mas o grupo recebe apoio de vários times de futebol heterossexuais.  

As redes sociais e a primeira matéria na imprensa fizeram o grupo explodir e se tornar inspiração para outras equipes Brasil afora. E engana-se quem pensa que o Unicorns é um grupo apenas para um determinado público: gays altos, lindos e "sarados". Nos treinos, todos são bem-vindos: gays de todas as idades e tipos físicos, como uma família. 

A professora de educação física Cecília Repetto abraçou a causa e se tornou treinadora da equipe desde o começo. “No esporte, o preconceito fica muito claro. Desde que comecei a treinar o grupo, nunca mais fiquei quieta quando escutei alguma discriminação”, conta Cecília.    

- (Unicorns Brazil/Divulgação)

Mais do que um lugar seguro para pessoas LGBTs praticarem esporte, sem discriminações, o Unicorns se transformou em um grupo de amigos. “Somos um espaço para fazer o bem e conhecer gente nova. Temos várias pessoas que vieram de fora de São Paulo e se encontraram aqui”, conta o publicitário Pedro Gariani, cofundador do grupo.  

O Unicorns ainda tem vagas abertas para corrida e treino funcional. Os treinos são pagos, mas, por enquanto, o dinheiro apenas cobre os gastos.

Patrocínio

O grupo tem apoio da Adidas para promover corridas gratuitas no Parque do Ibirapuera e no Minhocão, abertas ao público, mas ainda busca patrocinadores.

O Unicorns foi convidado para participar do Gay Games, uma espécie de Olimpíada para LGBTs, que acontecerá em agosto em Paris, mas não conseguiu patrocínio. “As empresas querem carregar a bandeira LGBT, mas ainda é muito mais marketing do que uma vontade real de ajudar”, diz Gariani.

Bruno Host, Pedro Gariani, Cecília Repetto e Filipe Marquezin (da esquerda para direita) (Unicorns Brazil/Uriel Passos e Nicolas Calligaro/Divulgação)

Apesar do alto nível de organização dos administradores, a ideia não é transformar o Unicorns em negócio. “O que nos move é a amizade. Nosso objetivo agora é formar uma base sólida para juntar mais pessoas e abrir mais esportes”, explica Host, administrador do Unicorns ao lado de Gariani e Marquezin.

Futuro

O grupo começou a formar uma equipe de vôlei. Em abril, vai para Porto Alegre participar da segunda edição da Champions LiGay, um torneio com 12 times brasileiros formados por homossexuais apaixonados por futebol e que sempre tiveram dificuldade de praticar o esporte, que é marcado pela homofobia.

A primeira edição do torneio aconteceu no Rio de Janeiro, no fim do ano passado, com oito times. A competição é marcada por cores, mascotes, drag queens e muitas músicas de divas pop. É um ambiente onde o preconceito e a "discrição", que muitos dos participantes sempre foram forçados a ter, não entram em campo.

“Meu sonho é que a gente inclua pessoas ainda mais excluídas que os gays, como travestis e transexuais”, afirma Gariani.

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