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Escritório na praia: o teletrabalho dá asas aos "nômades digitais"

Ao forçar os funcionários a trabalhar em casa, a pandemia de covid-19 atraiu muitas pessoas para um estilo de vida, há muito reservado para os trabalhadores autônomos

 (LÉA DAUPLÉ/AFP)

(LÉA DAUPLÉ/AFP)

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Julia Storch

Publicado em 15 de fevereiro de 2021 às 06h07.

Aproveitando os benefícios que o teletrabalho oferece, muitos agora respondem aos seus e-mails debaixo de uma palmeira. De carteira assinada ou autônomos, estima-se que existam milhões de "nômades digitais" em todo o mundo, fenômeno que vários países estão tentando aproveitar.

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"Sempre quis morar em outro país para ver como é", diz Sharon (seu nome foi alterado), 28 anos. A americana que trabalha com gerenciamento de dados partiu para a Cidade do México, atraída pelo "clima".

O número desses novos tipos de aventureiros, a maioria deles jovens e trabalhando em áreas relacionadas ao digital, é difícil de estimar, mas eles chegam a milhões.  Steve King, analista da Emergent Research, estima que o número de nômades digitais só nos Estados Unidos foi de 10,9 milhões em 2020. Isso representa 33% a mais que no ano anterior.

Ao forçar os funcionários a trabalhar em casa, a pandemia de covid-19 atraiu muitos para esse estilo de vida, há muito reservado para os trabalhadores autônomos. Claire e Marius, dois franceses na casa dos trinta e poucos anos que trabalham com marketing, também se aventuraram. O confinamento convenceu seu patrão, inicialmente relutante, de que o teletrabalho funciona e hoje eles trabalham em um hotel em Playa del Carmen (México). "Será impossível voltar ao escritório um dia", Claire suspira.

Bons Turistas

Denis Muniglia, 40, funcionário de uma seguradora, considera o teletrabalho um "presente do céu". O francês adquiriu o hábito de prolongar as férias graças ao teletrabalho, uma vez na Bulgária e outra em Malta.

O potencial econômico desse fenômeno não escapou aos países e alguns facilitaram o acolhimento ao novo tipo de turista, explica o pesquisador Clemente Marinos.  Eles são "bons turistas porque têm empregos, então não tiram empregos dos moradores locais e geralmente ganham bem", diz King.

Os nômades digitais têm seus próprios critérios na escolha de um destino: o custo de vida, o clima, a conexão com a internet, mas também a situação epidêmica. Procuramos "países onde as regras sejam mais flexíveis", explica Arnaud Wilbrod, 35 anos, que aproveita os "bares e restaurantes abertos" de Tallinn, na Estônia, enquanto continua sua atividade como editor de conteúdo digital.

No verão passado, a Geórgia introduziu um visto que permite aos trabalhadores que ganham pelo menos 2.000 dólares por mês viverem no país por um ano. Embora a situação da saúde tenha piorado desde então, 787 nômades digitais se estabeleceram lá. Não há muitos, mas o programa tem como objetivo principal "atrair visitantes de alta renda", disse Tea Chanchibadze, porta-voz da administração nacional de turismo da Geórgia.

A sul-africana Jenni Pringle buscou no Google "um país seguro e barato". Eu não sabia "nada sobre a Geórgia", diz a professora de inglês de 61 anos, que trabalha remotamente. Seduzida pela "beleza" do país, ela pensa em se estabelecer por lá.

Uma população de nômades digitais

Na Costa Rica, está sendo elaborada uma lei para que teletrabalhadores com boa renda possam permanecer mais tempo no país. “Somos um dos países mais conectados da América Latina”, afirma o ministro do Turismo, Gustavo Segura. Mas essas chegadas nem sempre são bem-vindas.

Em janeiro, um casal americano - um deles era um "nômade digital" - foi expulso de Bali depois de escrever tuítes criticados pelas autoridades descrevendo a ilha como um refúgio para homossexuais.

No entanto, de acordo com Putu Astawa, diretor da agência de turismo da ilha, os nômades digitais são "uma fonte de renda para o país" e podem ajudar a "recuperar as perdas causadas pela pandemia".

Na ilha da Madeira (Portugal) foi inaugurada uma vila de nômades digitais, a primeira do gênero na Europa, com um espaço de trabalho compartilhado e uma centena de teletrabalhadores, alojados em cerca de 40 casas. As autarquias pretendem "reconhecer a Madeira como um dos melhores locais do mundo para se trabalhar à distância", explica Margarida Luís, porta-voz do secretariado regional da Economia. Gonçalo Hall, empresário por trás do projeto, está convicto: “Em termos de teletrabalho não há volta”.

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