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Enterro do corpo de João Ubaldo deve ocorrer no sábado

A família vai aguardar a chegada da filha dele Manuela, que mora na Alemanha, para realizar o enterro do escritor

João Ubaldo Ribeiro: ele morreu vítima de uma embolia pulmonar (OSCAR CABRAL/VEJA)
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Da Redação

Publicado em 18 de julho de 2014 às 12h11.

Rio - A família do escritor João Ubaldo Ribeiro, que morreu na madrugada desta sexta-feira, 18, vítima de uma embolia pulmonar, vai aguardar a chegada da filha dele Manuela, que mora na Alemanha, para realizar o enterro do escritor, disse o acadêmico Domício Proença Filho.

A chegada dela está prevista para as 5h deste sábado, 19, e possivelmente o sepultamento, no mausoléu da Academia Brasileira de Letras (ABL), será ainda pela manhã. João Ubaldo, o 7º ocupante da cadeira 34 da ABL, faleceu em sua casa, no Leblon, na zona sul do Rio.

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Proença contou que Ubaldo não frequentava ativamente a Academia. "Quando vinha, era uma alegria, uma festa. Vamos sentir muita saudade daquela voz de barítono", brincou.

"Ubaldo era um erudito. Tinha uma preocupação muito grande com a justiça social e a realidade do Brasil. Era um escritor voltado para a preocupação com a língua portuguesa do Brasil. Mostrava o que nós somos e como falamos. Todos os seus personagens devem estar se sentindo órfãos hoje", disse.

Já o letrista Abel Silva contou ter estado no domingo com João Ubaldo no bar "Tio Sam", no Leblon, onde o imortal da ABL assistiu à final da Copa do Mundo, torcendo pela Alemanha.

"Ele tinha um neto alemão, filho do Bento Ribeiro. No domingo, brincou muito sobre como o neto chorava em português e alemão, estava muito bem e feliz", contou Abel.

"Toda vez que eu chegava no 'Tio Sam', ele dizia: 'Vou fazer uma coisa que ele (Abel) detesta', e começava a cantar: 'Só uma palavra me devora...'. 'Ele é o autor disso', dizia, apontando para mim. E eu dizia para ele que não detestava, claro, adorava tudo que vinha desse meu grande amigo", contou o letrista. "Perdemos um extraordinário brasileiro. Algumas pessoas são insubstituíveis, sim. João Ubaldo era uma delas".

Para Abel Silva, não há mais nenhum escritor como João Ubaldo Ribeiro no Brasil. "Ele vem de uma linhagem de escritores brasileiros ligados à tradição e ao conhecimento da fala e da mitologia popular. Herança popular acrescentada de uma cultura sofisticadíssima de um tradutor de Shakespeare, profundo conhecedor da literatura brasileira. E, com tudo isso, era também muito modesto. Era poliglota e jamais o vi usar expressões em inglês ou alemão, por exemplo, línguas nas quais era fluente".

"Foi uma das melhores pessoas que conheci na vida", disse o letrista. "João Ubaldo integrava a famosa turma da Cobal do Leblon, num botequim que se chamava Arataca, que ficou conhecido como o local do Tom Jobim. Mas o João Ubaldo também fazia parte daquela confraria. Seus causos, a alegria e inteligência dele, tudo aparecia muito claramente, o tempo todo".

Para Abel Silva, João Ubaldo Ribeiro era um "brasileiro absoluto, inclusive na aparência. Ele dizia que a cara dele era errada em todo lugar que ia. Fosse para os EUA, parecia árabe; fosse para a Palestina, parecia brasileiro".

O contista Sérgio Sant'Anna também destacou "Viva o povo brasileiro" entre as principais obras de João Ubaldo. "É realmente um grande livro, que sem dúvida vai ficar para a posteridade. A obra dele toda vai ficar, é inegável", disse.

"Era um grande escritor brasileiro. É uma grande perda e surpresa, também. João Ubaldo era uma grande figura, ultimamente andava um pouco recolhido".

Sant'Anna conhecia João Ubaldo há mais de 20 anos. "Convivi com ele numa época em que era muito falante. Além de ser um grande escritor, era engraçado, muito inteligente, todos gostavam dele".

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