Roger Waters: músico criou polêmica ao criticar o candidato, que pediu para investigá-lo, questionando se seus shows não eram comícios disfarçados (Raph_PH/Wikimedia Commons)
Marília Almeida
Publicado em 31 de outubro de 2018 às 09h36.
Última atualização em 31 de outubro de 2018 às 09h58.
São Paulo - No último show de sua turnê pelo Brasil, e o primeiro após a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para presidente do país, o músico Roger Waters , que vinha criticando de forma aberta o candidato em seus shows, resolveu não citar o político durante espetáculo realizado em Porto Alegre na noite desta terça-feira (30). No estado, Jair Bolsonaro ganhou do opositor Fernando Haddad (PT) com 63,26% dos votos válidos.
Durante o espetáculo, Bolsonaro não apareceu na lista de políticos que o músico considera neofascistas e os projetores não mostraram, dessa vez, a hashtag contrária ao então candidato à Presidência (#EleNão). Contudo, Waters não deixou de dar diversas indiretas.
O foco foi a palavra "resistência", que apareceu em diversos momentos do show, conforme relatos, vídeos e fotos do público na rede social Twitter,
Quando a palavra apareceu ampla e em vermelho no telão, é possível ouvir o público dizendo "EleNão":
Todo show tem que ser lendário. Obrigada Roger Waters, foi incrível.#resistência #neofacism #elenao pic.twitter.com/I05GmEDTzH
— prik (@doidadocafe) October 31, 2018
Ao recomendar resistência a diversos temas, ele citou o neofascismo novamente:
https://twitter.com/fernandaefb/status/1057495220672192512
Em outro momento, colocou, em sequência no telão, as palavras: "Eu aprendo", "Eu acredito", "Eu ganho", "Eu perco" e, por fim, "Eu resisto". O clássico porco inflável lançado ao ar durante a música "Pigs" continha os dizeres: "Continue humano":
https://twitter.com/20peter/status/1057036649954271232
Em outro momento, aparece no telão: "Resista à valorização da tortura":
https://twitter.com/deherzer/status/1057487944007798784
Segundo o jornal "Zero Hora", durante a música "Money", os telões trouxeram dizeres como "você não venceu", "em seu mundo, todo mundo perde" e "você é um perdedor", sem citar nomes.
No primeiro show em São Paulo, Roger Waters incluiu o nome de Bolsonaro entre diversos políticos ao redor do globo, entre eles Donald Trump, e alertou sobre a volta do fascismo no mundo. Vaiado por parte da platéia, no segundo show na cidade ele colocou uma faixa de censura no nome de Bolsonaro.
No show em Salvador, fez uma homenagem a capoeirista assassinado na cidade por motivações políticas e, no Rio, homenageou Marielle Franco, vereadora do PSOL assassinada em março.
No show em Curitiba, realizado no sábado (27), dia anterior à eleição, trinta segundos antes das 22h, horário limite para manifestações políticas definido pelo Tribunal Eleitoral do Paraná, o músico lançou no telão o aviso "Temos 30 segundos" e, em seguida, apareceu o aviso: "Essa é a nossa última chance de resistir ao fascismo antes de domingo". O músico, então, concluiu o alerta com a hashtag "EleNão".
Bolsonaro reagiu às críticas e chegou a pedir a cassação de Fernando Haddad (PT) por conta da turnê do músico. A campanha de Bolsonaro alega que, em turnê pelo País, Roger Waters pôs em prática “ostensiva e poderosa propaganda eleitoral negativa” contra o candidato, beneficiando diretamente o adversário petista. A Justiça Eleitoral do Paraná disse que, caso Waters não seguisse as regras, poderia ser “responsabilizado criminalmente” pela contravenção. O TSE pediu manifestação de produtores dos shows do músico.
Roger Waters perdeu seu pai durante o nazismo e, em composições da banda de rock progressivo, especialmente no álbum "The Wall", sempre discursou contra o autoritarismo e a perda de liberdades individuais, elementos que estiveram presentes em discursos do presidente eleito.