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Editora francesa desiste de publicar texto antissemita de Céline

Decisão é anunciada após um caloroso debate na França, que envolveu até o primeiro-ministro

A Gallimard desejava elaborar uma "edição crítica" dos panfletos de um dos maiores escritores franceses (ActuaLitté/Wikimedia Commons)

A Gallimard desejava elaborar uma "edição crítica" dos panfletos de um dos maiores escritores franceses (ActuaLitté/Wikimedia Commons)

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AFP

Publicado em 12 de janeiro de 2018 às 15h24.

A editora francesa Gallimard anunciou nesta quinta-feira (11) que suspendeu seu projeto de publicar os panfletos antissemitas do escritor Louis-Ferdinand Céline, após um caloroso debate na França.

"Em nome da minha liberdade de editor e da minha sensibilidade à minha época, suspendo este projeto, ao julgar que não estão reunidas as condições metodológicas e memoriais para abordá-lo serenamente", indicou o presidente da editora, Antoine Gallimard, em um texto dirigido à AFP.

Desde que uma revista francesa afirmou, em dezembro passado, que "Bagatelas por um Massacre", "Escola de Cadáveres" e "Os Maus Lençóis" iam ser reeditados em 2018 pela Gallimard, partidários e opositores não pararam de debater.

O projeto de publicar esses textos escritos entre 1937 e 1941 "é uma agressão aos judeus da França", assegurou Serge Klarsfeld, presidente da associação de Filhos e Filhas de Judeus Deportados no país.

Os panfletos são "uma insuportável incitação ao ódio antissemita e racista", afirmou o Conselho Representativo de Instituições Judaicas na França.

O primeiro-ministro, Edouard Philippe, não tinha se oposto à possibilidade de que estes textos antissemitas fossem reeditados, contanto que sua publicação fosse "acompanhada seriamente".

Gallimard, que ainda não havia fixado nenhuma data para a publicação, desejava precisamente elaborar uma "edição crítica" dos panfletos de um dos maiores escritores franceses.

"Estes panfletos de Céline pertencem à historia do antissemitismo francês mais infame. Mas condená-los à censura cria obstáculos para que suas raízes e seu alcance ideológico sejam plenamente esclarecidos, e cria uma curiosidade mórbida", disse Antoine Gallimard nesta quinta-feira.

Mas "entendo e compartilho a inquietação dos leitores de que esta edição choque, fira ou preocupe por motivos humanos e éticos evidentes", acrescentou.

Os textos do autor de "Viagem ao Fim da Noite" passarão a ser de domínio público em 2031, 70 anos após sua morte.

Os panfletos de Céline não estão proibidos na França, mas não foram reeditados desde o fim da Segunda Guerra Mundial. No entanto, podem ser facilmente consultados na internet ou comprados de segunda mão.

Em outubro de 2015, outra editora francesa publicou uma edição crítica do texto antissemita de Lucien Rebatet "Os Escombros", sem gerar polêmica, e com êxito: os primeiros 5.000 exemplares esgotaram no primeiro dia, e atualmente as vendas ultrapassam 10.000 exemplares.

A editora Fayard prepara uma nova versão de "Minha Luta" de Adolf Hitler, mas "ainda não há data" para a publicação.

Na Alemanha, este manifesto foi republicado em uma edição crítica em janeiro de 2016 e se tornou um sucesso, com cerca de 100.000 exemplares vendidos.

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