Documentário sobre a Coreia do Norte traz intimidades sobre Kim Jong-un
O documentário traz entrevistas com pessoas que viveram próximo aos líderes coreanos e revela detalhes nunca antes divulgados na mídia
Julia Storch
Publicado em 26 de fevereiro de 2021 às 08h40.
Última atualização em 26 de fevereiro de 2021 às 11h53.
Poucos países no mundo são tão impenetráveis quanto a Coreia do Norte. O documentário "Coreia do Norte - A Mente do Ditador", que será exibido neste domingo, 28, às 22h30, na National Geographic tenta oferecer uma espiadinha na vida no país e um perfil de seu líder Kim Jong-un. "A Coreia do Norte é radicalmente diferente dos outros países", disse o produtor do filme, David Glover. "Só três pessoas governaram lá: um avô, um pai e um filho. Isso em si é fascinante."
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O programa traz algumas entrevistas surpreendentes, como a de Siti Aisyah, uma das duas mulheres acusadas de assassinar o meio-irmão de Jong-un, achando estar participando de uma pegadinha, numa trama digna de filme de James Bond, e Kim Dong Chul, cidadão americano acusado de espionar para a CIA. "Qualquer pedacinho de informação é valioso, porque não se sabe muito", disse a produtora Kate Quine. As entrevistas rendem informações curiosas, como a admissão de João Micaelo, o português que foi melhor amigo de Jong-un quando ele morou na Suíça.
João já visitou a Coreia do Norte, onde jogou basquete com Jong-un, como quando eram garotos.
Kim Jong-un cresceu numa espécie de bunker subterrâneo, longe dos olhos do público. Adolescente, foi enviado pelo pai Kim Jong-il, que governou a Coreia do Norte entre 1994 e 2001, para a Suíça. Lá, apaixonou-se pelo basquete e teve uma vida relativamente normal com os tios, que pediram asilo aos Estados Unidos, sem aviso, deixando o menino. "Isso ajuda a entendê-lo um pouco melhor", contou Quine.
O documentário não esconde os momentos de terror perpetrados por Kim Jong-un, mas também tenta entender um pouco suas origens. Para os produtores, Kim Jong-un se vê dividido entre ser o sucessor de seu avô e pai, que governaram o país com mão de ferro, e a realidade da sociedade ocidental. "Eu acho que ele realmente gostaria de fazer mudanças e fica dividido entre esses dois lados", explicou Glover. Não à toa, a situação de Jong-un é comparada à de Michael Corleone em O Poderoso Chefão: ele quer modernizar a organização, mas precisa lidar com a realidade em que vive.
A oportunidade de se encontrar com Donald Trump era vista como uma grande esperança para Jong-un, já que nunca um presidente americano no exercício do cargo tinha aceitado se reunir com um líder norte-coreano - tecnicamente, os países não assinaram um acordo de paz depois do fim da Guerra da Coreia. "Existe um histórico enraizado de animosidade com os Estados Unidos, o que é compreensível, já que a Coreia do Norte foi alvo de bombardeios pesados por parte das Forças Armadas americanas", afirmou Glover. A Cúpula do Vietnã, em 2019, era uma chance de vitória no palco mundial, para os dois. Mas as coisas não saíram como o esperado.
Com Trump fora da Casa Branca, a chance de um acordo benéfico para Kim Jong-un diminui ainda mais. O país sofreu com enchentes catastróficas e com a covid-19 em 2020, mas seu líder fez paradas militares mostrando seu grande poder de barganha: armas nucleares. Sua irmã, Kim Yo-Jong, vista como provável sucessora, pode ou não ter perdido poder. O futuro é incerto. "E a incerteza é perigosa", acrescentou Quine. Glover se mantém otimista. "As cúpulas mostraram que um diálogo é possível."