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Documentário mostra o som e a fúria da capital

No documentário “Rock Brasília – Era de Ouro”, o cineasta Vladimir Carvalho trata do universo sociocultural dos anos 80 com olhar crítico, mas escorrega em redundâncias

Bandas como Legião Urbana, Plebe Rude, Paralamas do Sucesso e Capital Inicial faziam parte do cenário (Gabriela Brasil/Divulgação)

Bandas como Legião Urbana, Plebe Rude, Paralamas do Sucesso e Capital Inicial faziam parte do cenário (Gabriela Brasil/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 3 de novembro de 2011 às 14h55.

São Paulo - Os anos 80, como se sabe, foram agitados em Brasília. Nos últimos estertores da ditadura, os jovens da capital – ou pelo menos o segmento da classe média letrada – reagiam como podiam ao sufoco de viver numa cidade controlada por militares, políticos e burocratas. Atiravam ovos e tomates em visitantes como o ex-secretário de estado norte-americano Henry Kissinger, faziam passeatas pelas eleições diretas, tocavam violão e fumavam maconha em luaus à beira do lago Paranoá.

Dessa efervescência surgiu o vigoroso rock de Brasília, encarnado em bandas como Legião Urbana, Plebe Rude, Paralamas do Sucesso e Capital Inicial. E é esse processo sociocultural que o veterano cineasta Vladimir Carvalho procura captar em seu documentário Rock Brasília – Era de Ouro, que venceu o último Festival de Cinema de Paulínia.

Paraibano radicado há três décadas na capital federal, Carvalho fecha com esse filme uma trilogia dedicada à cidade. Os outros dois são Conterrâneos Velhos de Guerra (1991), sobre a saga suja da construção de Brasília, e Barra 68 (2000), centrado na invasão da Universidade de Brasília (UnB) pelo exército, em 1968. Em Rock Brasília, estão presentes as grandes virtudes do cineasta – o rigor da pesquisa, a visada abrangente e crítica – e também seu ponto fraco – certa complacência com a verborragia e a redundância.


Paixões e picuinhas

Há no documentário uma vibrante colagem de registros – filmes domésticos, trechos de programas de TV, fotos, recortes de jornal –, prejudicada aqui e ali por falas um tanto longas e às vezes pouco relevantes. O fato de ser de uma geração mais velha e, em princípio, distante do universo cultural retratado dá a Carvalho a vantagem de uma visão serena, não contaminada pelas paixões e picuinhas envolvidas, mas talvez explique também certo desequilíbrio no peso atribuído às várias bandas.

O personagem de destaque que emerge naturalmente desse painel é Renato Russo, cuja figura contraditória é construída por farto material de época e inúmeros depoimentos de família, amigos e outros músicos (como Caetano Veloso, numa entrevista hilária). Mas há no conjunto uma excessiva ênfase no Capital Inicial – com exaustivos depoimentos dos irmãos Felipe e Flávio Lemos e do pai deles, o professor e editor Briquet de Lemos –, em contraste com a parca presença dos Paralamas, por exemplo.

Nada disso abate, no entanto, o vigor do filme e sua competência em captar o som e a fúria de um momento crucial da cultura e da política brasileiras.

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