Documentário humaniza Hillary Clinton, conhecida por ser calculista
Série disponível no Globoplay apresenta ex-candidata democrata como a mulher mais difamada da história política dos Estados Unidos
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de novembro de 2020 às 08h36.
Hillary, série documental da Hulu de 2020 que está disponível no Globoplay, começa com a entrevistadora dizendo para a ex-quase futura presidente dos EUA que deseja ouvir a história dela nua e crua até o fim. Dividida em 4 capítulos, a entrevista que norteia a narrativa começa com a pergunta que não quer calar: é frustrante depois de 30 anos de vida pública ouvir que as pessoas não a conhecem ou acham você dissimulada?
A série humaniza uma personagem conhecida por ser fria e calculista. A narrativa não chega a ser chapa-branca, mas é francamente favorável a ex-senadora que disputou a Casa Branca contra Donald Trump em 2016. Hillary Clinton é apresentada como a mulher mais difamada da história política dos EUA e também como uma liderança incompreendida.
Com cenas inéditas de bastidores das primárias contra Bernie Sanders e da campanha presidencial, a série mostra Hillary como uma figura polarizante e que não gera empatia porque simplesmente não é simpática - mas é uma força da natureza em ação. O documentário mostra que Hillary causa alvoroço por onde passa desde os tempos que foi líder do grêmio estudantil da sua escola, uma das poucas mulheres na faculdade de Direito, advogada e primeira-dama do Arkansas.
Depois de vencer as primárias democratas contra Bernie Sanders, a ex-primeira-dama gravou seu nome na história ao lado de Shirley Chisholm, a primeira mulher a disputar uma primária, e Gerry Ferraro, a 1.ª candidata a vice. Mas foi em 1992 que ela despontou no cenário nacional como a mulher do mais jovem presidente americano, Bill Clinton .
Nas 35 horas de entrevista - feitas em sete dias seguidos -, ela e o marido falam sobre todas as cicatrizes da vida do casal, sendo que o capítulo do affaire com Monica Lewinsky foi, sem dúvida, o mais intenso e dolorido. O ex-presidente chora ao fazer uma autocrítica do caso que quase o levou ao impeachment. Chelsea, a filha do casal, também é entrevistada. "O que eu fiz foi simplesmente horrível", disse Clinton ao relembrar o caso.
A série é didática, mas também condescendente ao explicar casos como o empreendimento imobiliário Whitewater, no qual o casal havia investido durante a gestão de Clinton como governador de Arkansas. A decisão reforçou a suspeita de que havia algo impróprio na transação, o que levou à indicação de Kenneth Starr como procurador independente para investigar o caso.
Entre idas e vindas no túnel do tempo, o ponto da alto da produção, porém, é acompanhar por dentro a violenta campanha presidencial de 2016 e o massacre machista promovido por Trump. Quanto mais o republicano barbarizava, mais seu eleitorado crescia sem que as pesquisas detectassem o tamanho do rancor silencioso do eleitorado com a "velha política" representada por Hillary.
A democrata trucidou Trump em todos os debates, mas ninguém percebeu o que se passava na cabeça do norte-americano médio. Se nas primárias democratas a candidata preencheu uma lacuna geracional e seduziu com sua oratória poderosa e feminista, na disputa final prevaleceu o machismo aberto e chancelado pelo establishment.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.