Uma mulher posa enquanto assiste a um episódio da recém-lançada série documental da Netflix "Harry & Meghan" (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 8 de dezembro de 2022 às 11h40.
Última atualização em 8 de dezembro de 2022 às 12h00.
O príncipe Harry, filho mais novo de Charles III, e sua esposa Meghan criticam o "contrato não escrito" entre a família real e uma imprensa britânica que os "explora" em um polêmico documentário, que também denuncia o racismo.
"Não tínhamos permissão para contar nossa história porque eles não queriam", afirma a ex-atriz americana, de 41 anos, em um dos três primeiros episódios da série documental Harry & Meghan, lançada pela Netflix.
Ambos explicam como todas suas declarações e comportamentos, desde a primeira entrevista conjunta em 27 de novembro de 2017, após o anúncio do noivado, foram "um reality show orquestrado" pelo palácio.
Há, "essencialmente, um ramo estendido das relações públicas da família real, um acordo que existe há mais de 30 anos", afirma Harry, de 38 anos.
O filho da princesa Diana ainda responsabiliza a mídia sensacionalista pela morte de sua mãe enquanto era perseguida por paparazzi, em 1997.
"'Esta família é nossa para explorar, seus traumas são nossas histórias e controlamos a narrativa'", pensam os meios de comunicação britânicos sobre o "contrato não escrito", segundo o príncipe.
Ele destaca uma campanha de propaganda negativa contra eles por resistirem ao assédio, que foi estendido para seus amigos e familiares de Meghan nos EUA.
A série começa com a história de amor entre o príncipe e a atriz, uma fervorosa feminista criada em Hollywood, e avança pelos três primeiros capítulos até a véspera de seu casamento, em maio de 2018.
Os três episódios seguintes, que entram na plataforma no dia 15 de dezembro, provavelmente serão mais nocivos para a família real. Vão detalhar os motivos que levaram o casal ao abandono da monarquia, em 2020, para viver na Califórnia.
Mal recuperada da morte de Elizabeth II em setembro, a realeza se prepara para acusações potencialmente explosivas e em um momento que busca modernizar sua imagem, impulsionada pelos novos monarcas Charles III e Camilla, e seus herdeiros William e Catherine.
O Palácio de Buckingham não emitiu comentários antes da estreia da série. Entretanto, fontes do palácio real, citadas pelo jornal Daily Mail, asseguraram no fim de semana que os monarcas estão "um pouco fartos" dos constantes ataques.
Já nesta primeira parte da série, Meghan faz alusão ao racismo que denuncia ter sofrido, desde o broche com uma cabeça negra, usado pela esposa de um primo de Elizabeth II no primeiro jantar de Natal com a atriz, em 2017, até imagens e comentários sobre o passado colonial do império britânico.
"Há um altíssimo nível de preconceitos inconscientes", afirma Harry. Segundo o príncipe, ele teve de corrigir a educação que recebeu quando era criança.
O documentário chega no pior momento para a família real britânica, atingida na semana passada por um escândalo de racismo. A madrinha de William foi dispensada como dama de honra após fazer comentários ofensivos a uma convidada negra no Palácio de Buckingham.
Em uma importante entrevista concedida no ano passado para a estrela da televisão americana Oprah Winfrey, Harry e Meghan acusaram um membro da família real de se preocupar com a cor da pele que teriam seus futuros filhos, sem citar quem.
Com testemunho de amigos do casal e colaboradores, mas sem nenhum crítico, a série explica, por exemplo, como a ex-colônia britânica da Jamaica foi o centro de um lucrativo comércio de escravos, cujos navios foram financiados durante séculos pelos reis ingleses e seus benefícios permitiram construir o "maior império que o mundo já viu".
A impopularidade do duque e da duquesa de Sussex no Reino Unido, onde são acusados de tirar vantagem financeira da monarquia sem participar de suas obrigações, não parece melhorar com este documentário.
"Eles são hipócritas, por um lado dizem que querem privacidade e, por outro, vejam o que publicam", disse à AFP o comentarista real Richard Fitzwilliams, que trabalhou para agências como a britânica BBC e a CNN nos Estados Unidos.
Na opinião de Fitzwilliams, “fazem por duas razões: ganhar muito dinheiro e dar sua versão, como forma de vingança”. Contudo, não se dirigem ao público britânico, mas “ao mundo inteiro com os Estados Unidos no centro”, considera.