Cury, brasileiro que mais vende livros no país, quer desacelerar
Cury se preocupa com a obesidade, a anorexia, a ansiedade, o alto índice de suicídio, o excesso de informação
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de janeiro de 2018 às 09h49.
Última atualização em 8 de junho de 2020 às 14h47.
Augusto Cury, o autor brasileiro que mais vende livros no país, está preocupado com o futuro da humanidade. Com a obesidade, a anorexia, a ansiedade, o alto índice de suicídio, o excesso de informação. Com a educação das crianças em casa e na escola.
Os assuntos que o angustiam se tornam livros, palestras, cursos. Uma das novidades de sua franquia, que inclui sistema de ensino e cursos de coaching em inteligência emocional, tudo sempre baseado na Teoria Inteligência Multifocal, criada por ele, é o programa de emagrecimento Dieta Emocional.
Cury dá cerca de oito concorridas palestras por mês no Brasil e no exterior - para, ele conta, educadores, juízes do Supremo, membros da Ordem dos Advogados do Brasil, líderes do Vale do Silício. Lança em média quatro livros por ano nas áreas de ficção e não ficção.
Mas o psiquiatra nascido em Colina, no interior, em 1958, que deixou o consultório para ensinar as pessoas a "gerenciar as emoções", controlar a ansiedade e melhorar a qualidade de vida - se tornando, assim, um dos mais requisitados palestrantes e um dos grandes best-sellers brasileiros, com 30 milhões de livros vendidos aqui - quer desacelerar.
"Em 2018, vou fazer uma ou duas palestras por mês. Vou diminuir minhas atividades por causa de cinema e dos seriados", diz, à reportagem, o autor, que é recluso e avesso a entrevistas. O Vendedor de Sonhos, um de seus principais sucessos, sobre a relação entre um homem maltrapilho e um intelectual que quer se matar, virou filme de Jayme Monjardim com Dan Stulbach em 2016. O ator Jim Carrey tem o livro em mãos e uma adaptação hollywoodiana pode ser fechada em breve.
Agora, ele quer que sua trilogia iniciada com O Homem Mais Inteligente da História (350 mil exemplares vendidos desde novembro de 2016), que continuou com O Homem Mais Feliz da História (50 mil cópias desde novembro de 2017) e que será encerrada no fim do ano se transforme em seriado internacional com 10 episódios para cada livro.
"Estamos vendo as questões do contrato. E como os produtores nunca tiveram experiência com esse tipo de história, estamos construindo roteiros - tudo acontece a partir de uma mesa-redonda e a história vai para o passado, fala sobre a personalidade de Jesus e as técnicas que ele utilizou, volta para o presente, para as redes sociais, para ansiedade, depressão, suicídio", conta.
Tem muito mais. O Futuro da Humanidade já tem contrato e está em fase de roteiro. A Felicidade Roubada também já foi acertado e Cury espera fechar, ainda, a adaptação do juvenil Petrus Logus. Está trabalhando no documentário A Ditadura da Beleza e a Revolução Digital, que depois deve virar filme em inglês.
Também em inglês, está prevista uma série de ficção científica sobre prevenção de crimes baseada no conjunto de sua obra. Convidado pela Amazon, ele já começou a comandar no Brasil, com "possibilidade de se espalhar pelo mundo", o Canal da Gestão da Emoção.
Aos palcos, devem chegar, este ano, De Gênio e Louco Todo Mundo Tem um Pouco e O Vendedor de Sonhos. Em 2019, ele pretende escrever mais ficção, ou, como chama, romances psiquiátricos históricos - e menos não ficção.
Quanto aos cursos, que seus discípulos não desanimem. Cury não estará mais tão disponível presencialmente, mas vai começar a dar conferências a distância, pela Academia de Gestão da Emoção Online.
Augusto Cury não precisa dessas adaptações para vender livros, mas é certo que elas impulsionarão ainda mais as vendas. Em 2017, segundo a Nielsen, o psiquiatra foi o autor brasileiro que mais vendeu livros no Brasil e superou o segundo colocado, Mário Sérgio Cortella, em 200%. Comparando o ano passado com 2016, quando ele vendeu 100% a mais que o segundo, Padre Marcelo Rossi, seu desempenho foi 19% maior em volume e 26% maior em valor.
Durante uma hora e meia ele conversou por telefone, de Ribeirão Preto, onde vive, com o Estado sobre sua trajetória, projetos, angústias e sua missão. Veja os principais trechos desta entrevista-palestra.
O escritor
Descobri essa vocação a partir do 2º, 3º ano da faculdade de Medicina, quando passei por uma crise emocional. Eu, que era uma pessoa sociável, comecei a me bombardear de perguntas: por que não administro meus pensamentos?
Por que não consigo proteger minha emoção? Por que não sou líder de mim mesmo? Descobri que era uma pessoal hipersensível. Foi aí que comecei a escrever sobre meus fantasmas mentais, meus pensamentos perturbadores, minhas angústias e emoções tensas. Com isso nasceu o escritor e também o construtor de conhecimento.
Rejeição à primeira vista
Escrevi 3 mil paginas antes de publicar meu primeiro livro, onde eu desenvolvi o conhecimento sobre o estudo da mente, teorias sobre a construção do pensamento, o eu como autor da própria história, etc. Resumi para 400 páginas e procurei editoras. Todas elas me rejeitaram. Até que a Cultrix publicou Inteligência Multifocal, mas sem 500 termos do original. Hoje, uso metáforas para explicar os bastidores da mente humana.
Literatura com mensagem
Na minha opinião, a literatura tem que ter um viés político, não partidário, para desenvolver a consciência crítica. Todos os meus livros têm o viés de desenvolver a capacidade de autonomia, eles provocam o leitor. Eu os levo a se encontrarem. Tenho uma preocupação literária de usar a literatura não para passar uma mensagem superficial, mas para ajudar as pessoas a pensar antes de agir, a se colocar no lugar do outro, a criticar cada ideia perturbadora que apareça.
Redes sociais
70% das pessoas em destaque são jovens e eles estão desenvolvendo timidez e insegurança. Produziu-se uma sociabilidade superficial por meio das redes sociais que não levou para o cotidiano segurança, autonomia, habilidade para lutar pelos direitos humanos, para preservar os recursos da emoção, para ter um cérebro mais tranquilo, sereno e proativo.
A era da informação
Estamos preocupadíssimos com a intoxicação digital, que tem esgotado o ser humano de maneira dramática. Precisamos mudar a era da informação para a era do eu como gestor da mente humana. Da era da informação seca e fria de dados para a era da gestão da emoção.
Caso contrário, vamos assistir de maneira perplexa ao que está ocorrendo cada vez mais. De acordo com pesquisas internacionais, uma em cada duas pessoas tem ou vai desenvolver um transtorno psiquiátrico.
Como ser mais tranquilo
Aprender a doar-se diminuindo a expectativa do retorno; entender que por trás de uma pessoa que nos fere há uma pessoa ferida; não comprar emocionalmente aquilo que não nos pertence; e aprender a dar um choque de lucidez em cada pensamento perturbador no exato momento em que ele aparece porque se não ele é registrado e não pode mais ser deletado.
Educação
Meu grito de alerta é que nós mexemos na caixa preta do funcionamento da mente, alteramos o ritmo de construção dos pensamentos e produzimos uma ansiedade coletiva. Por isso, é necessário prevenção e uma nova era da educação. Essa educação que só ensina matemática, física, química, biologia não estimula o gerenciamento do estresse, a empatia, a capacidade de pensar antes de reagir. Precisamos reorganizar a matriz educacional, caso contrário, quanto pior a qualidade da educação, mais importante será o papel da psiquiatria e da psicologia.
O Brasil hoje
O maior estrago do País não foi nas finanças - e isso foi horrível. Foi no inconsciente coletivo dos brasileiros. Essa geração de jovens que está crescendo debaixo dessa corrupção toda é uma geração que não tem ânimo, cumplicidade ou desejo de transformar a sociedade. É apática, pessimista e depressiva. Isso é muito grave e pode comprometer o Brasil a médio e longo prazo.
Religião
Eu fui um maiores ateus que pisou nessa Terra. Estudei a mente de Jesus pelos ângulos da psicologia, psiquiatria, sociologia, filosofia e, a partir daí, eu passei a crer em Deus - mas não defendo uma religião. Sou um ser humano sem fronteiras, mas eu escrevi sobre a mente de Jesus, que desenvolveu a maior startup de educação mundial, com 12 alunos.
Medo
Eu tenho medo de não ser todos os dias um eterno aprendiz.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.