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Como o tango tenta sobreviver na Argentina durante a quarentena

Na Argentina, as milongas, tradicionais espaços de encontro dos fãs do tango, estão fechadas por tempo indeterminado

Tango: aulas online têm sido o refúgio dos dançarinos durante o isolamento (AFP/AFP)

Tango: aulas online têm sido o refúgio dos dançarinos durante o isolamento (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 29 de abril de 2020 às 15h02.

Última atualização em 29 de abril de 2020 às 15h06.

O tango encontra brechas nas aulas virtuais para se infiltrar em tempos de isolamento social, mas a covid-19 deixa os amantes desta arte sem o abraço, a razão de ser dessa dança que fascina muitos argentinos ansiosos por voltar a dançar. 

"O abraço representa 100% do tango. O que fazemos é aliviar a necessidade de quem quer aprender, corrigir, mas o essencial é o contato com o outro", diz Jonathan Villanueva, professor da academia de Estilo e Elegância do tango, que agora ensina suas técnicas no Facebook.

As milongas, tradicionais espaços de encontro dos fãs do tango, estão fechadas por tempo indeterminado. Alguns professores dão aulas on-line, seja para dar vazão ao amor pelo estilo ou para garantir uma renda mínima em dinheiro.

"Durante a quarentena, o tango fez uma pausa. Vamos ver quando e como retomar. Para professores independentes, é muito traumático não saber quando vamos voltar ao trabalho e à nossa vida normal", admite Villanueva, que confessa "uma situação econômica muito má".

Aos 35 anos e com duas décadas de dança, é a primeira vez que dá aulas virtuais. Do pátio coberto de sua casa em Buenos Aires, ele mostra os passos e dá instruções aos alunos que não vê. Convida-os a usar uma cadeira como um parceiro de dança imaginário, também costuma usar a parede ou uma vassoura como elementos de apoio.

A pessoa que filma e transmite a aula é Jorge Vargas, seu parceiro de dança e também professor. "Sem abraço não haveria tango, mas como não podemos nos abraçar, vamos para o próximo passo, que é a técnica; portanto, quando nos encontrarmos novamente, apenas abraçaremos e dançaremos", sonha esse dançarino de 27 anos.

Karo Pizzo, 43 anos, autora de "Técnicas de tango para a mulher", também dá aulas em sua casa em Benito Juárez, a 400 km de Buenos Aires.

É seguido por estudantes de várias partes do planeta que aperfeiçoam diferentes aspectos técnicos. "No final da aula, sinto uma espécie de angústia. Sinto falta de dançar", diz à AFP.

Magia milonguera

Em isolamento obrigatório, como todos os argentinos desde 20 de março, Carolina Andohanin faz aulas via streaming de vídeo com María Plazaola e Susana Miller.

Com elas, em tempos normais, se formou na Academia Tango Milonguero, que funciona em El Beso, no centro de Buenos Aires, onde as milongas são apresentadas diariamente.

Andohanin diz que tem sorte porque vive com um milonguero, o que lhe permite dançar apesar da quarentena, mas afirma que "não se compara a ir à milonga".

"A mágica de chegar, encontrar seus amigos, ouvir música no salão, pisar na pista de dança, a expectativa de com quem dançarei. A cada milonguero os abraços são diferentes, tudo o que se perde dançando em casa", afirma.

 

A milonga é para muitos fãs a única atividade social. Lá é dançado um tango de salão, despido das acrobacias do tango de palco, praticado por profissionais e impactando os shows.

Os milongueros se vestem, "se produzem", para participar do evento, onde quem dança melhor é o mais cobiçado. "Quem dança bem, independentemente da idade ou aparência, é como Brad Pitt", ilustra Nora Roncal, uma milonguera especialista que lamenta que a quarentena tenha interrompido seu recente retorno às pistas após alguns anos.

"A única esperança é que  apareça a vacina contra o coronavírus, sem isso não há espaço para o tango, porque o tango é abraço, é estar cara a cara e cara a cara com um estranho", reflete.

Para Nora, "não é viável" ter aulas virtuais. Mas sozinha em casa, uma noite ela colocou os sapatos de salto alto e se vestiu como se fosse sair. Colocou um tango e dançou.

Lento retorno

Jorge Doallo, 63 anos, dança desde os 40 anos. Ele divide a quarentena em um apartamento no bairro de Belgrano em Buenos Aires com Perla, sua companheira, e de tempos em tempos eles dançam em casa.

"Após a pandemia, haverá certo receio em relação às milongas, suponho que as pessoas voltem a dançar mais afastadas e não bem juntas como a maioria gosta. Imagino que essa reaproximação se dará aos poucos", afirma.

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