Kaká não é titular do time espanhol - mas, ainda assim, é tratado como peça absolutamente indispensável na equipe do técnico José Mourinho (Jamie McDonald/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 17 de abril de 2012 às 20h20.
No duelo desta terça-feira entre Real Madrid e Bayern, primeiro jogo da semifinal da Liga dos Campeões, um dos jogadores mais decisivos e importantes do confronto pode começar o jogo sentado no banco. Perto de completar 30 anos, Kaká não é titular do time espanhol - mas, ainda assim, é tratado como peça absolutamente indispensável na equipe do técnico José Mourinho.
Na Liga dos Campeões, por exemplo, Kaká é o líder geral de assistências, com cinco passes para gols. Lionel Messi, do arquirrival Barcelona, joga todas as partidas, mas tem quatro assistências. A estatística ilustra bem o momento atual da carreira vitoriosa de Kaká. O pior dos problemas físicos já passou, e as contusões não são mais frequentes como antes.
O meia pode não ter a mesma explosão muscular do passado, mas continua exibindo seu jogo dinâmico, prático e eficaz, características que fizeram dele o melhor jogador do mundo na eleição da Fifa em 2007. Fora de campo, mantém a imagem de bom profissional e homem de família - só que está mais independente e maduro. Mas ainda falta algo: Kaká não joga pela seleção brasileira desde a fatídica partida contra a Holanda, na Copa do Mundo de 2010.
Por mais que reúna todas as características necessárias para integrar qualquer time do planeta, ainda não convenceu o técnico Mano Menezes de que poder ser um dos líderes da jovem e inexperiente seleção brasileira. Pior: diante dos pedidos por sua convocação, o diretor de seleções da CBF, Andrés Sanchez, chegou a dizer que Kaká não serve mais para a equipe nacional.
Com três títulos importantes pela seleção (Copa do Mundo de 2002 e Copa das Confederações de 2005 e 2009), Kaká foi lembrado apenas uma vez por Mano Menezes, mas não conseguiu atender à convocação - sofreu uma contusão dias antes de embarcar para os amistosos contra Gabão e Egito. Mano parece ter ficado irritado com a repetição dos problemas físicos do jogador, já que não repetiu a convocação mesmo após a plena recuperação do meia.
A maior surpresa foi a exclusão de Kaká da lista prévia de jogadores para a Olimpíada de Londres - Mano relacionou 52 atletas, mas nem assim Kaká foi escolhido. O técnico da seleção preferiu colocar o nome de Ronaldinho Gaúcho como alternativa para ser a grande referência da seleção. Em má fase no Flamengo e sem a confiança da torcida brasileira, Ronaldinho dificilmente fará a função de que o técnico precisa - a de liderar um time de jovens talentos, dentro e fora de campo.
O Gaúcho certamente não será capaz de ajudar Neymar a manter o foco na bola em meio ao assédio que sofre a cada aparição em público. Também não poderá mostrar a Ganso como evoluir como jogador e exibir todo o seu talento com a camisa da seleção, superando a reputação de jogador irregular. Kaká, porém, parece ter sido talhado para o papel. Além das características ideais para participar de um grupo de jogadores jovens, é um dos poucos astros do futebol internacional que aceitariam cumprir uma função secundária, até mesmo na reserva, como mentor da turma de Neymar e Ganso. Em 2014, Kaká terá 32 anos. Talvez seja o caso de a dupla Mano e Andrés rever os seus conceitos...
Por que Kaká deve ser o líder da seleção brasileira em 2014
Vive bom momento no Real
Após duas temporadas apagadas e marcadas por problemas físicos, o brasileiro parece estar finalmente reencontrando o seu bom futebol com a camisa do Real Madrid. Nesta temporada, até o início de abril, Kaká jogou 25 partidas pela Liga Espanhola - 15 delas como titular. Marcou cinco gols e deu seis assistências que ajudaram o Real Madrid a chegar à liderança da competição. Na Liga dos Campeões, jogou sete vezes e marcou quatro gols, dois deles nas quartas de final sobre o Apoel.
Tem a idade e o perfil ideais
Acostumado ao ambiente de seleção brasileira desde as equipes de base, Kaká poderá fechar um ciclo vitorioso na equipe nacional com a conquista do hexa. Em 2014, Kaká terá 32 anos e poderá dividir a responsabilidade com os jovens talentos Neymar, Lucas, Ganso e Leandro Damião - todos quase dez anos mais jovens. Além da idade adequada - similar à de jogadores como Pelé, Rivaldo, Dunga, Garrincha e Didi, líderes do Brasil em vitórias em Copas no passado -, Kaká tem um perfil que agrada a torcedores e companheiros. Profissional, calmo e responsável, o meia tem uma personalidade bem diferente da maioria dos jogadores, mas sabe apresentar suas opiniões de maneira clara e é muito respeitado dentro da seleção brasileira.
É um dos últimos astros brasileiros
Após décadas de brilho absoluto de jogadores como Romário, Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho e Roberto Carlos, o futebol brasileiro vive um momento ruim nas grandes ligas europeias. Isso porque hoje os brasileiros são quase sempre coadjuvantes em suas equipes. Atualmente, Kaká é um dos poucos brasileiros de destaque nos principais campeonatos do continente, ao lado de Daniel Alves (Barcelona), Marcelo (Real Madrid), Thiago Silva e Robinho (Milan). Na Itália, Júlio César, Maicon, Lúcio e Alexandre Pato não vivem boa fase. No Chelsea, Ramires e David Luiz têm oscilado muito. Os outros atletas convocados por Mano Menezes se dividem entre clubes pequenos ou ligas inexpressivas da Europa, além das promessas que ainda atuam no futebol brasileiro.
É popular e muito admirado
Desde os tempos de garoto no São Paulo, Kaká mantém o perfil de bom garoto: educado, religioso e talentoso, virou ídolo e referência para crianças e adultos. Bem casado e pai de dois filhos, Kaká obteve muito sucesso jogando no futebol europeu e hoje é um dos esportistas mais populares do planeta. Com mais de nove milhões de seguidores no Twitter, supera até mesmo o companheiro Cristiano Ronaldo e é o esportista mais querido do microblog. Em sua página no Facebook, só recebe menos “likes” que o português e Lionel Messi, o melhor do mundo.
Está mais maduro e independente
Beirando os 30 anos, Kaká melhorou para melhor. Vive uma vida reservada com sua família e demonstra maior independência desde que se desligou da Igreja Renascer. Evangélico fervoroso desde a infância, Kaká mantinha ligação estreita com a Renascer, dos pastores Estevam e Sonia Hernandes, acusados de desvio de dinheiro e exploração financeira de seus fiéis. Era muito criticado por permanecer ao lado do casal - mas, mesmo nos piores momentos, jamais defendeu ou tentou justificar qualquer ato ilegal dos Hernandes, dizendo que seu envolvimento com a Renascer era assunto particular. Em 2010, Kaká e sua mulher Caroline, romperam com a Renascer, alegando motivos pessoais.
Está acostumado a erguer títulos
Após 11 anos de carreira, Kaká pode se orgulhar muito do que conquistou, sobretudo jogando no futebol italiano. Um dos maiores ídolos da história do Milan, o brasileiro venceu uma liga italiana, uma Supercopa da Itália, uma Liga dos Campeões, uma Supercopa da Europa e um Mundial de Clubes em seis anos de clube. No Real Madrid, faturou a Copa do Rei, em 2011. Pelo São Paulo, time que o revelou, foi herói na conquista do Rio-São Paulo de 2001, com apenas 18 anos. Aos 20, conquistou o título mais importante de sua carreira: a Copa do Mundo de 2002. Pela Seleção disputou mais dois Mundiais e faturou também a Copa das Confederações em 2005 e 2009. Em 2007 teve seu melhor ano como profissional e foi reconhecido com o título de melhor jogador do mundo da FIFA (foi o último brasileiro a conquistar o prêmio).
Joga numa posição onde o Brasil é carente
Além das boas atuações pelo Real Madrid e do prestígio que ainda mantém com o torcedor brasileiro, pesa a favor de Kaká o fato de jogar numa das posições mais indefinidas - e delicadas - da atual seleção brasileira. Só para o meio de campo, Mano Menezes já convocou mais de 20 jogadores, e nenhum deles conseguiu se firmar. Entre os contestados (Elias, Fernandinho, Jádson e Carlos Eduardo), os irregulares (Hernanes e Ganso), os veterenos (Ronaldinho e Elano) e as promessas (Oscar e Philllipe Coutinho), certamente haveria espaço para Kaká na criação das jogadas - ainda que como reserva, para o caso de Ganso, a maior aposta de Mano, não render o que se espera.
Sem ele, faltam referências no time
A seleção brasileira vive um grande abismo entre os promissores talentos da geração de Neymar e os veteranos que fracassaram em 2010 e agora estão em baixa. Entre os jogadores mais experientes convocados por Mano Menezes estão Lúcio (33 anos), Júlio César (32), Maicon (30), Daniel Alves (28) e Robinho (28). Nenhum deles vive momento brilhante na Seleção, e apenas o zagueiro já exerceu a função de capitão da equipe com absoluta desenvoltura. Até pela ascensão dos concorrentes Thiago Silva e David Luiz, é improvável que Lúcio esteja no Mundial em 2014. Kaká terá idade e perfil que o qualificam como um dos possíveis líderes do grupo, mesmo que não seja o titular da camisa 10.