As suítes se enfileiram na charmosa sede, conhecida pelos enormes painéis de vidro que emolduram a inabitada paisagem ao redor. (Botanique/Divulgação)
Julia Storch
Publicado em 21 de junho de 2021 às 09h34.
Upgrade no pós-luxo. Taí uma frase que resume o casamento do Botanique com a rede Six Senses, que passou a gerenciá-lo em janeiro deste ano. Localizado na Serra da Mantiqueira — mais exatamente na divisa entre Santo Antônio do Pinhal, Campos de Jordão e São Bento do Sapucaí —, o hotel ganhou fama pelas diárias caríssimas, que fazem dele um dos mais exclusivos do país, e por adotar o chamado pós-luxo. Em resumo, trata-se de uma crítica à ostentação e de uma defesa de experiências aparentemente triviais, porém cada vez mais raras, como apreciar um céu estrelado só com a natureza como trilha sonora.
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Fundadora do Botanique — e responsável pela conceituação do hotel —, Fernanda Ralston Semler é tida como a mentora do pós-luxo. No site “Après-Luxe”, que lançou há cinco anos, ela dá mais detalhes sobre o conceito e lista dezenas de estabelecimentos, profissionais e produtos, que, segundo a própria, o colocam em prática. O designer de luminárias Maneco Quinderé, por exemplo, conhecido pelas peças minimalistas e experimentais. Um dos pilares do pós-luxo, afinal, é a originalidade. Uma boa relação custo-benefício é igualmente bem-vinda. Se o caríssimo restaurante L’Arpege, em Paris, laureado com 3 estrelas Michelin, é considerado um defensor do pós-luxo é porque honra cada euro cobrado.
Inaugurado em 2004, o Botanique aparentemente ia muito bem, obrigado. Fernanda e seu marido — Ricardo Semler, controlador do grupo Semco e fundador da escola Lumiar e do Semco Style Institute, além de autor de best-sellers como “Virando a própria mesa” — são os sócios majoritários do hotel. A pequena fatia restante pertence a David Cole, fundador da AOL, e Gordon Roddick, um dos criadores da The Body Shop. A associação com a Six Senses se deve à decisão do casal de se mudar com os filhos para San Diego, na Califórnia — estão prestes a embarcar — e às similaridades entre o hotel e a rede, cuja sede fica na Tailândia, na Ásia.
“A filosofia do Botanique é muito parecida com a da Six Senses”, diz Dominic Scoles, que exerce o cargo de diretor geral do hotel. “Envolve desde a preocupação com a sustentabilidade até a ideia de luxo, que, para a rede, tem a ver com a reconexão do hóspede com ele mesmo, com experiências extraordinárias e boa comida”. Em seguida, esclarece o que “boa comida” significa para a Six Senses, adquirida em 2019 pelo grupo IHG por 300 milhões de dólares. “Tão ou mais importante que o trabalho da cozinha é a escolha de produtores sustentáveis”, afirma ele. “Não admitimos desconhecer a origem da carne, dos ovos ou dos vegetais que vão à mesa”.
Americano nascido no Missouri, ele mora desde outubro no Brasil, mais precisamente em Santo Antônio do Pinhal. Ex-mandachuva de um dos dois Six Senses localizados no Vietnã, é o único profissional da rede mantido por aqui. “A equipe do Botanique já atendia às nossas exigências e, de qualquer jeito, fazemos questão de trabalhar com funcionários locais”, justifica, num português ainda claudicante, porém surpreendente para quem foi apresentado ao idioma há menos de um ano. No “novo” Botanique, os funcionários são estimulados a entabular conversas com os hóspedes, caso constatem sinal verde para isso, e a pedir feedbacks deles a toda hora.
Como é de praxe no ramo, a atuação do Six Senses se limita ao gerenciamento. No caso do Botanique, porém, a rede investiu uma quantia não revelada para ajudar no upgrade. “É o primeiro hotel da rede nas Américas”, justifica Scoles. As demais unidades se espalham por dezesseis países, entre os quais o Camboja, a Turquia, a China e Seychelles. A segunda unidade brasileira, por sinal, já está definida. Ficará na Baía Formosa, no Rio Grande do Norte, e será batizada como Eco Estrela. A data de inauguração não foi definida.
Desde que a rede assumiu sua gestão, o Botanique ganhou mais duas vilas, elevando para vinte o total de unidades. As suítes se enfileiram na charmosa sede, conhecida pelos enormes painéis de vidro que emolduram a inabitada paisagem ao redor, e as vilas se espalham pelo terreno que soma 1,2 milhão de metros quadrados. Com metragens que variam de 100 a 300 metros quadrados, as habitações dispõem de diferenciais como lareira e banheira a céu aberto. É na varanda de cada suíte ou vila que o café da manhã é servido — antes de dormir os hóspedes precisam apontar os itens que querem saborear ao acordar. As diárias, só com café da manhã, partem de 2.277 reais. Atenção: falamos aqui de baixa temporada e de dias da semana.
Convém registrar que o Botanique irá construir mais 14 vilas e que parte delas terá dois quartos, para permitir que famílias se hospedem com o devido conforto — a antiga regra que vetava crianças, cuja razão de ser era zelar pelo silêncio, foi abolida, mas nenhuma das habitações atuais dispõe de uma segunda cama. O complexo também vai ganhar um residencial, com cerca de quarenta unidades, projetadas pelo arquiteto Andrade Morettin, entre outros. Os proprietários poderão desfrutar a estrutura do hotel e ceder suas casas para o pool de locação, caso tenham interesse. Outras novidades previstas são mais um SPA e uma nova piscina a céu aberto, exclusiva para adultos — crianças só poderão usar a que já existe.
Entre as novidades em implantação destacam-se medidas em prol do meio ambiente. A mais ambiciosa delas prevê a proibição do uso de plástico em até um ano. Envolve desde sacos de lixo usados nos banheiros, que deverão ser substituídos por versões de papel, até embalagens de alimentos. Cerca de 4.500 garrafinhas plásticas de água deixaram de ser usadas mensalmente com a adoção de filtros e recipientes de vidro.
Também há novos atrativos como o piquenique, servido à beira da chamada Casa de Vidro, e o Earth and Fire, uma happy hour com música ao vivo organizada às terças e aos sábados ao redor de uma fogueira. “Permite que os hóspedes fiquem próximos, porém com bom distanciamento”, explica o diretor geral. Por falar nisso, o Botanique está operando com apenas 60% de sua capacidade, por motivos óbvios.
A pandemia, aliás, mudou pouco o dia a dia do hotel. Uma das mudanças mais drásticas envolve a instragamável piscina interna, cujo acesso agora é limitado a um casal por vez, mediante agendamento. O funcionamento do restaurante, o Mina, comandado pelo chef Gabriel Broide, também mudou. Por ora, está fechado para não hóspedes. “Mesmo quando o hotel está lotado a sensação que fica é de que há pouca gente”, observa Scoles.
Registre-se que, apesar da ocupação reduzida, o Botanique se encaminha para o melhor ano de sua história em matéria de ocupação e faturamento. “Estamos lotados nos finais de semana pelos próximos três meses e durante a semana a ocupação é de 70%”, comemora o diretor geral. O sucesso é creditado, em parte, à interrupção das viagens internacionais. Os paulistanos compõem a maior parte da clientela e os estrangeiros, por ora, são raridade. “Acredito que, no futuro, americanos e europeus virão para o Rio de Janeiro ou São Paulo e, em seguida, passarão três ou quatro dias na Serra da Mantiqueira”, diz Scoles. “É um destino pouco conhecido, mas fascinante para quem se encanta pela Amazônia e pela natureza”. Mais informações: http://www.sixsenses.com/en/resorts/botanique
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