Castelões, a pizzaria mais antiga de São Paulo, completa 100 anos
No salão sem retoques, com sacos de farinha ao lado das mesas, são servidas pizzas tradicionais de bordas generosas e recheio na medida
Editor de Casual e Especiais
Publicado em 31 de agosto de 2024 às 07h00.
Última atualização em 31 de agosto de 2024 às 09h50.
A Castelões, um ícone entre as pizzarias paulistanas, está completando 100 anos aparentando a idade que tem. Sem creme anti-aging, sem ácido hialurônico, sem sérum facial. As paredes estão manchadas, sacos de farinha importada ficam empilhados ao lado das mesas, cacarecos como latinhas antigas de azeite em estantes na parede servem à guisa de obra de arte.
Os garçons são realmente garçons, do tempo em que servir era uma arte. A conta vem em um papel escrito à mão. A porta, acanhada, dá para uma rua movimentada do Brás, na zona leste da cidade, com lixo na calçada, sem glamour, sem valet. Para estacionar é preciso achar uma vaga nos arredores.
Mas a pizza... difícil mesmo achar pizza mais gostosa na capital nacional da pizza. A massa de fermentação prolongada tem a espessura certa, as bordas são enormes e deliciosas, a cobertura vem na medida, nem pouca nem muita. Os sabores são os mais tradicionais, sem fusion nem releituras.
Muçarela, marguerita, portuguesa, napolitana e quatro queijos estão entre os sabores mais pedidos. Destaque para a castelões, com molho de tomate fresco e calabresa de fabricação própria, levemente apimentada.
Cada pizza de tamanho tradicional sai por volta de 120 reais. A cada mês saem dos fornos cerca de 1.500 unidades. Para acompanhar, pode-se tanto pedir uma jarra de vinho da casa por 65 reais como um Brunello por cerca de 1.300 reais.
Origem ligada ao futebol
A Castelões, que também é cantina, está completando seu centenário neste ano. É considerada a pizzaria mais antiga de São Paulo em funcionamento. O salão com mesas com toalhas quadriculadas foi o local de comemoração de Fernando Henrique Cardoso quando venceu sua primeira eleição para presidente, em 1994. Hebe Camargo era outra habitué.
O endereço continua o mesmo, assim como as receitas da família Donato. A Castelões começou com Vicente Donato, brasileiro e filho de italianos, e mais um amigo, Ettore Siniscalchi. Com um grupo de amigos, funcionários de uma indústria da região, eles se reuniam depois de partidas amadoras e futebol para comer.
As especialidades, berinjela, frango à passarinho e bisteca alla Fiorentina, começaram a dar vez às pizzas em um estilo napolitano adaptado, com muitas coberturas com muçarela e aliche. O grupo começou a aumentar e a dupla de amigos tratou de construir um forno à lenha.
O pedreiro, de tão envolvido com a obra, se tornou o primeiro pizzaiolo da Castelões. Em 1935, os sócios adquiriram a casa ao lado para ampliar o negócio. Até que em 1950 Ettore fez uma viagem ao Rio de Janeiro para assistir a um jogo de futebol do Palmeiras e à dramática derrota da seleção brasileira no Maracanã na Copa do Mundo. Acabou se apaixonando pela cidade e vendeu sua parte na pizzaria para o sócio.
Retrofit nos planos
Vicente ficou à frente do negócio até 1987, quando faleceu. Seu filho, João, já trabalhava com o pai há mais de 20 anos. No ano seguinte foi a vez da terceira geração entrar no negócio. Fábio, então com 15 anos, passou a dar expediente na pizzaria.
Hoje é ele quem toca o negócio, ao lado da companheira, Claudia Pinho. Especialista em pizza e culinária italiana, é ela quem toca a cozinha do restaurante. Aos fins de semana, quando o movimento é maior, Donato assume o posto na forneria.
Recentemente o restaurante importou uma das melhores máquinas italianas para bater massa das pizzas. Está nos planos de Fábio fazer um retrofit no salão, com itens de decoração que remetem ao período de fundação, como as geladeiras de madeira.
Fábio também quer publicar um livro com a história do restaurante e, claro, da família. “A Castelões é uma instituição paulistana. Muita história aconteceu aqui”, diz.