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Cantor Felipe Cordeiro mostra o brega cult do Pará

Misturando carimbó, lambada, rock e música eletrônica, o compositor e cantor de Belém desponta como um dos principais renovadores do pop brasileiro

Felipe Cordeiro se reinventa em seu segundo disco, recém-lançado. Ele abriu mão da MPB tradicional, que predominava no primeiro trabalho (Divulgação)

Felipe Cordeiro se reinventa em seu segundo disco, recém-lançado. Ele abriu mão da MPB tradicional, que predominava no primeiro trabalho (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 11 de novembro de 2011 às 14h23.

São Paulo - Desde a década de 1990, quando o manguebeat fez o Brasil encarar de maneira diferente a produção musical pernambucana, aguarda-se o próximo movimento – o próximo estado distante do eixo Rio-São Paulo que trará algo novo para a música pop.

A julgar por Pio Lobato, Gaby Amarantos e outros nomes borbulhantes do Pará, essa lufada de frescor poderá vir da Amazônia. Músicos e formadores de opinião, aliás, prenunciam a revolução paraense há alguns anos. Mas faltava alguém para sintetizar a história toda, para aglutinar gêneros já populares na região, como a guitarrada revitalizada por Pio e o tecnomelody de Gaby. Talvez esse alguém seja Felipe Cordeiro.

Aos 27 anos, Felipe lança seu segundo álbum envolto em muita expectativa. Kitsch Pop Cult despreza tudo o que ele conquistou com Banquete – um disco de MPB tradicional, em que suas composições eram interpretadas por cantoras emergentes de Belém.

Agora ele “desce” até o brega, o carimbó, a lambada e chega ao rock e à música eletrônica. O título do disco exibe dois termos contraditórios, mas que na música pop podem se equivaler.

O que é kitsch, cafona, ultrapassado num enquadramento, pode ser cult, bacana, hypado noutro. Para deixar suas intenções bem claras, Felipe faz uso de duas vocalistas de apoio – que, ao vivo, dançam coreografias divertidas.

Na música romântica de um Reginaldo Rossi, por exemplo, esse recurso das backing dançarinas é considerado kitsch, brega. No rock new wave da banda norte-americana B-52’s ou da brasileira Blitz, supercult.


Uísque e cachaça

Mas a música de Felipe também funciona sem manual de instruções. Fogo da Morena passaria como uma criação de Pinduca, o modernizador do carimbó.

A instrumental Lambada com Farinha pode causar estranheza pela introdução sinfônica, mas, quando engata, vira um racha-assoalho irresistível. O caráter dançante do álbum é revelado logo na faixa de abertura, Legal e Ilegal.

Como um bibliotecário, Felipe vai enumerando estilos musicais e identificando suas drogas correspondentes: “Aguardente no bom samba-canção/ Uisquinho na bossa nova/ Caspa do diabo no rock and roll/ Erva do amor no reggae night”.

A faixa mais emblemática é Fim de Festa, brega instrumental escrito pelo pai de Felipe, o guitarrista Manoel Cordeiro, que acompanha o filho e tem no currículo trabalhos com Beto Barbosa e Alípio Martins (1944-1997), grande inspiração para Kitsch Pop Cult. Nela, entra em cena o DJ Waldo Squash, injetando batidas típicas das festas de aparelhagem e produzindo algo nunca ouvido antes.

Disco do ano? Da década? Confirmação de que o momento do Pará finalmente chegou? O futuro dirá. Bom é poder esperar remexendo ao som dessa maravilha.

O ÁLBUM
Kitsch Pop Cult (Ná Music), de Felipe Cordeiro. Produtor: André Abujamra. Preço médio: R$ 20.
 

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