Canções de três minutos e meio
Esta é a especialidade da chilena Francisca Valenzuela. Em seu novo CD, ''Buen Soldado'', ela mostra ser uma virtuose do estilo pop com refrão grudento
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2011 às 11h19.
São Paulo - Achar uma boa cantora no Brasil é moleza. Se você sacudir uma árvore, é bem possível que derrube umas três. Sempre tivemos grandes vozes femininas em abundância e a oferta cresceu muito nos últimos tempos. Intérpretes privilegiadas, compositoras sensíveis... Quase todas reverentes de alguma maneira à tradição da música popular brasileira - umas caindo mais para o samba, outras para os ritmos nordestinos e várias seguindo os preceitos tropicalistas. Há, entretanto, um tipo menos comum no nosso cenário, que é aquela dedicada exclusivamente ao pop, desinteressada em dialogar com regionalismos ou qualquer vertente da MPB.
Não é o caso de achar a grama do vizinho mais verde, mas há na capital do Chile alguém que merece nossa atenção. Francisca Valenzuela tem 24 anos e está lançando seu segundo álbum, Buen Soldado. Em março e abril, ganhou destaque por ter sido convidada para um dueto com Bono no show que o U2 realizou em Santiago e por se apresentar no palco principal da edição chilena do festival Lollapalooza. No Brasil, seu trabalho ainda carece de divulgação. Mas Paulinho Moska, um dos responsáveis por popularizar o uruguaio Jorge Drexler por aqui, já convidou Francisca para apresentações em São Paulo e Brasília em julho.
Apesar de residir em Santiago, a cantora e pianista nasceu na Califórnia. Ficou lá até os 12 anos, quando voltou ao Chile. A história é semelhante à de Julieta Venegas, uma das estrelas do pop latino atual, que nasceu na Califórnia e foi criada em Tijuana, no México. Grande influência na obra de Francisca, Julieta chamou a pupila para abrir um de seus shows em 2007 e desde então a parceria entre as duas não cessou.
Temas "mulherzinha"
Além de ecos de Julieta, o segundo CD de Francisca traz baladas que remetem às da russa Regina Spektor e do norte-americano Ben Folds. A banda mexicana Café Tacuba também parece servir como norte, principalmente nos arranjos mais eletrônicos. E o timbre de Francisca lembra o de Fiona Apple, vide En Mi Memoria e Crónica. Todas as faixas são de autoria dela, que, apesar de estudar piano, evita arroubos eruditos. Sua busca é pela tal canção perfeita de três minutos e meio com refrão grudento. O maior êxito é Qué Sería, cujo tema é o desgaste em relacionamentos longos e a dificuldade de pôr um ponto final. Em Los que Siempre Arrancam, ela lamenta escolher homens que fogem de compromisso.
Os temas "mulherzinha" dominam o álbum. Mas músicas como Mujer Modelo e Esta Soy Yo são tão bem resolvidas que ninguém seria capaz de diminuí-las. As melodias de Francisca são universais. E isso é o que nos interessa.
José Flávio Júnior é jornalista.
São Paulo - Achar uma boa cantora no Brasil é moleza. Se você sacudir uma árvore, é bem possível que derrube umas três. Sempre tivemos grandes vozes femininas em abundância e a oferta cresceu muito nos últimos tempos. Intérpretes privilegiadas, compositoras sensíveis... Quase todas reverentes de alguma maneira à tradição da música popular brasileira - umas caindo mais para o samba, outras para os ritmos nordestinos e várias seguindo os preceitos tropicalistas. Há, entretanto, um tipo menos comum no nosso cenário, que é aquela dedicada exclusivamente ao pop, desinteressada em dialogar com regionalismos ou qualquer vertente da MPB.
Não é o caso de achar a grama do vizinho mais verde, mas há na capital do Chile alguém que merece nossa atenção. Francisca Valenzuela tem 24 anos e está lançando seu segundo álbum, Buen Soldado. Em março e abril, ganhou destaque por ter sido convidada para um dueto com Bono no show que o U2 realizou em Santiago e por se apresentar no palco principal da edição chilena do festival Lollapalooza. No Brasil, seu trabalho ainda carece de divulgação. Mas Paulinho Moska, um dos responsáveis por popularizar o uruguaio Jorge Drexler por aqui, já convidou Francisca para apresentações em São Paulo e Brasília em julho.
Apesar de residir em Santiago, a cantora e pianista nasceu na Califórnia. Ficou lá até os 12 anos, quando voltou ao Chile. A história é semelhante à de Julieta Venegas, uma das estrelas do pop latino atual, que nasceu na Califórnia e foi criada em Tijuana, no México. Grande influência na obra de Francisca, Julieta chamou a pupila para abrir um de seus shows em 2007 e desde então a parceria entre as duas não cessou.
Temas "mulherzinha"
Além de ecos de Julieta, o segundo CD de Francisca traz baladas que remetem às da russa Regina Spektor e do norte-americano Ben Folds. A banda mexicana Café Tacuba também parece servir como norte, principalmente nos arranjos mais eletrônicos. E o timbre de Francisca lembra o de Fiona Apple, vide En Mi Memoria e Crónica. Todas as faixas são de autoria dela, que, apesar de estudar piano, evita arroubos eruditos. Sua busca é pela tal canção perfeita de três minutos e meio com refrão grudento. O maior êxito é Qué Sería, cujo tema é o desgaste em relacionamentos longos e a dificuldade de pôr um ponto final. Em Los que Siempre Arrancam, ela lamenta escolher homens que fogem de compromisso.
Os temas "mulherzinha" dominam o álbum. Mas músicas como Mujer Modelo e Esta Soy Yo são tão bem resolvidas que ninguém seria capaz de diminuí-las. As melodias de Francisca são universais. E isso é o que nos interessa.
José Flávio Júnior é jornalista.