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Briga por prêmios do cinema em 2018 já começou

Os dois filmes-polo deste ano são Dunkirk, de Christopher Nolan, e The Shape of Water, de Guillermo del Toro

CENA DO FILME THE SHAPE OF WATER:  longa de Guillermo del Toro está entre os principais do ano / Divulgação (Reprodução/Divulgação)

CENA DO FILME THE SHAPE OF WATER: longa de Guillermo del Toro está entre os principais do ano / Divulgação (Reprodução/Divulgação)

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EXAME Hoje

Publicado em 23 de setembro de 2017 às 07h17.

Última atualização em 24 de setembro de 2017 às 11h55.

O fim do verão no hemisfério norte e o encerramento do ciclo de festivais da virada de outono anunciam que, definitivamente, a temporada de prêmios da indústria do entretenimento começou.

Os prêmios Emmy, distribuídos no “ano novo” do calendário tradicional da televisão — que, antes da explosão das plataformas de entretenimento doméstico, encerrava suas temporadas em junho e estreava sua nova programação em setembro — já serviram de aperitivo.

Deste momento em diante, com breves interrupções para filmes de terror no final de outubro e um pacote de filmes-família entre o final de novembro e meados de dezembro — período dominado pela Disney (Star Wars: O Último Jedi e a animação Coco) e pelos personagens do universo Marvel e DC (Thor: Ragnarock e Liga da Justiça) — o foco da indústria será um só: os lançamentos de prestígio e o que fazer para que eles emplaquem pelo menos algumas indicações nas principais competições.

Para espectadores da saga permanente que é a indústria do entretenimento audiovisual, o frenesi da temporada de prêmios parece incompreensível. Por que produtores, distribuidores, agentes e estúdios iriam desembolsar milhões de dólares em campanhas “para sua consideração” para ter, em troca, a vaga possibilidade de prêmios cuja transmissão (com a solitária exceção dos Globos de Ouro) perde público a cada ano?

Existem alguns bons motivos. O mais imediato é garantir o bom relacionamento com talentos-chave da indústria, sejam eles atores, roteiristas, diretores, produtores ou técnicos. Criar uma campanha “para sua consideração” – mesmo que o filme ou indivíduo não tenha chances — é um dos modos mais eficientes de atrair e manter acesso a talentos vistos como desejáveis.

Outro bom motivo é a aura de prestígio que uma indicação e, idealmente, um prêmio, traz para o estúdio, produtor ou distribuidor. É um pouco como o que se vê naqueles documentários sobre animais selvagens, onde predadores alfa resolvem os limites de seus domínios com uma exibição de presas, garras e jubas. Bilheteria, qualquer um pode ter. Indicações e prêmios, apenas os que são respeitados e reconhecidos por seus pares.

Finalmente, existe a disputa de mercado. Filmes considerados “mais difíceis”, sem ligação com franquias, quadrinhos ou terrores variados, precisam de um bom posicionamento na temporada de prêmios para vender ingressos – especialmente nos mercados fora dos Estados Unidos.

A repetição deste ciclo criou, nas últimas décadas, um padrão. De um grupo com algumas dezenas de filmes, três títulos acabam tomado a dianteira: dois deles, em pé de igualdade em termos de qualidade, acabamento, proposta e peso de seus realizadores, polarizam os votantes e a opinião pública; um terceiro, menor, em geral independente, vem correndo por fora e, se a disputa entre os dois grandes não se resolve, é este filme que acaba chegando na frente.

Depois da trinca de festivais de prestígio do final de verão – Veneza, Telluride e Toronto – e com o pano de fundo de Cannes, os dois filmes-polo deste ano são Dunkirk, de Christopher Nolan, e The Shape of Water, de Guillermo del Toro. Em escalas completamente diferentes, ambos são obras muito pessoais de seus criadores.

Um inglês, um mexicano, ambos com livre trânsito entre o comercial e o autoral, ambos queridos e respeitados no meio. E ambos contém um elemento de grande tração na temporada de prêmios: uma atitude respeitosa com o passado do cinema, em termos de elementos de produção, estilo e referências.

A disputa, por enquanto, é pelo cobiçado terceiro competidor – o papel que, este ano, coube a Moonlight, com os resultados espetaculares que vimos: com oito indicações na Academia de Cinema, o longa levou três Oscars, incluindo o de melhor filme.

Os candidatos são muitos: Lady Bird, estreia na direção da atriz e diva indie Greta Gerwig, está na dianteira neste momento, seguido de perto por Mudbound, dirigido pela realizadora negra Dee Rees. Call me by your name, do italiano Luca Guadagnino, e Darkest Hour, de Joe Wright, também estão na briga. Cada um deles tem elementos que, na história recente dos prêmios, contam pontos importante.

Lady Bird e Mudbound são dirigidos por mulheres, com personagens femininos fortes; Mudbound lida com a questão do racismo endêmico do sul dos Estados Unidos; Call me by your name é uma história de amor gay, sem julgamentos e sem discursos, por um realizador altamente autoral; Darkest Hour é um drama histórico britânico, com Gary Oldman metamorfoseado de Winston Churchill — o tipo de coisa útil para qualquer filme na hora da disputa.

Existe ainda o fator-matador de The Post, dirigido por Steven Spielberg, estrelado por Meryl Streep e Tom Hanks. Ela interpreta uma publisher de um jornal; ele, um editor na mesma publicação que enfrenta uma batalha contra o presidente dos Estados Unidos. O tipo de filme que um grande contingente de votantes do Oscar gosta de escolher por reflexo.

E não entramos nem na questão dos filmes estrangeiros, um território indefinido, onde, por enquanto, apenas dois se destacam : o francês 120 Beats per minute e o sueco The Square, ambos vitoriosos em Cannes.

É um cenário em aberto, o que costuma ser bom para todos: estúdios, público, estrategistas de campanha e, em última análise, para os próprios eventos de prêmios.

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