Bar da Dona Onça tira estrogonofe do cardápio em boicote à Rússia
Por ora, o "estrogonofe de boi com batata palha frita e arroz soltinho" só deve voltar a ser servido quando a guerra terminar
Matheus Doliveira
Publicado em 8 de março de 2022 às 17h09.
Última atualização em 8 de março de 2022 às 18h38.
A guerra entre Rússia e Ucrânia chegou na gastronomia e pode estar mais próxima do seu prato do que você imagina. Nesta terça-feira, 8, o Bar da Dona Onça, em São Paulo, anunciou que está retirando o estrogonofe de seu cardápio em protesto contra o país chefiado por Vladimir Putin.
No Bar da Dona Onça, chefiado por Janaína Arueda, que também comanda A Casa do Porco, o tradicional prato russo, conhecidíssimo em todos os rincões do Brasil, está no cardápio como“estrogonofe de boi com batata palha frita e arroz soltinho”.
“Na minha experiência no Cozinheiros pela Educação, o estrogonofe, de origem russa, e sua viagem até o Brasil, onde se tornou um prato muito popular, foi uma peça-chave na abordagem à Segunda Guerra Mundial nas escolas públicas de São Paulo”, explica Janaína, que foi voluntária do projeto que beneficiou cerca de 2 milhões de estudantes da rede estadual por quatro anos.
“Decidimos tirar o prato do cardápio neste momento delicado para se falar sobre a Rússia como forma de lembrar que uma nação não pode ser representada por um homem como este presidente, mas, sim, por sua rica história cultural, criada pelo povo.”
A chef reafirma a importância da gastronomia como ferramenta de educação política e completa: “Estamos na torcida pela paz e dizendo aos nossos amigos ucranianos e russos — que também estão sofrendo com essa guerra — que eles não estão sozinhos nessa luta", completa.
Por ora, o estrogonofe do Bar da Dona Onça só deve voltar a ser servido quando a guerra terminar.
Boicotes gastronômicos
Além dos pratos, os boicotes contra a Rússia estão presentes nos copos. O Moscow Mule, bebida clássica que tem como base vodca, limão e angostura, também já sente os efeitos da guerra.
Em bares da Lapa, no Rio de Janeiro, a vodca russa presente nos drinques de algumas casas foram substituídas por destilados brasileiros e importados (exceto da Rússia).
Segundo reportagem do The New York Times, em Nova York, restaurantes de culinária russa estão sentindo o público ir embora por conta da guerra. Em alguns estabelecimentos, o movimento chegou a cair 60%.
A confusão chegou até mesmo nas grandes premiações internacionais de gastronomia.
O prestigiado Guia Michelin , por exemplo, anunciou na semana passada que está suspendendo suas recomendações em todos os restaurantes russos."Dada a severidade da crise atual, as equipes do Guia Michelin tomaram a decisão de suspender todas as atividades de recomendações de restaurantes na Rússia", comunicou o guia.
Ontem, o 50´s Best também anunciou a exclusão de casas russas da sua lista dos 50 melhores restaurantes do mundo. Ironicamente, o anúncio deste ano seria sediado em Moscou, mas foi mudado para Londres."Não atribuímos a nenhum bar ou restaurante a responsabilidade pelas ações de seu governo, mas confirmamos que não haverá estabelecimentos russos nas listas de 2022", disse, em nota.