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Apartamentos de luxo em Nova York chegam a custar US$ 238 milhões

Em uma era de riqueza extrema na cidade, os edifícios superluxuosos chegam a alturas nunca vistas antes. O mesmo acontece com os preços

Condomínio em Nova York vendido por 85 milhões, aproximadamente 92 vezes o preço médio de um imóvel na cidade (James Estrin/The New York Times)

Condomínio em Nova York vendido por 85 milhões, aproximadamente 92 vezes o preço médio de um imóvel na cidade (James Estrin/The New York Times)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 17 de junho de 2019 às 05h00.

Última atualização em 17 de junho de 2019 às 05h00.

Nova York – Na década de 1920, quando os plutocratas reinavam em Manhattan, uma herdeira concordou com um acordo inédito. Ela trocou sua mansão da Quinta Avenida por um apartamento no topo de um prédio novo.

Mas ela exigiu algumas coisas: uma entrada privativa com garagem própria. E um elevador particular.

E conseguiu o que queria, além de um apartamento de 54 cômodos, incluindo uma sala de jantar que poderia acomodar 125 pessoas e uma sala fria para armazenar suas peles e flores. Um historiador da arquitetura descreveu o local como "o maior e possivelmente o mais luxuoso apartamento já criado".

Assim nasceu a primeira cobertura de Manhattan.

Agora, em outra era de riqueza extrema em Nova York, os edifícios superluxuosos chegam a alturas nunca vistas antes, o mesmo acontecendo com os preços.

Com tal abundância de opulência, como atrair compradores?

Prometa uma viagem ao espaço.

Sim, dois assentos em um futuro voo espacial.

Mas tem mais.

O apartamento em questão vem com uma casa nos Hamptons durante um verão; três carros (dois Rolls-Royces e um Lamborghini); um iate com taxas pagas por cinco anos nas docas; ingressos para uma temporada dos jogos de basquete do Brooklyn Nets; jantar uma vez por semana no restaurante Daniel, com duas estrelas do Michelin; um chef privado por um ano; um mordomo; e um subsídio de construção de US$ 2 milhões para reformas.

Isso tudo vem com um preço estratosférico: US$ 85 milhões, ou aproximadamente 92 vezes o preço médio de um imóvel na cidade de Nova York, de acordo com dados do Departamento do Censo. Está no mercado há um ano e ainda não foi vendido.

Ainda assim, mesmo em uma cidade de extremos, era apenas o terceiro apartamento mais caro, quando o site da imobiliária Curbed listou os 25 imóveis mais caros à venda em Nova York no início deste ano. "O escalão mais alto dos imóveis na cidade ainda é, bem, ridículo", declarou a Curbed, observando que "a extremidade inferior da lista" estava em torno de US$ 45 milhões.

Os preços refletem o luxo de Manhattan, pois o dinheiro continua sendo gasto em apartamentos ultracaros e as incorporadoras continuam construindo para os mais ricos dos ricos.

O tsunami de capital está mudando a paisagem: a empresa de pesquisa CoStar Group estimou que 80 por cento dos apartamentos em construção em Manhattan estavam em prédios de luxo. Por toda a cidade, o número é de 74 por cento.

Jonathan Miller, da empresa de avaliação Miller Samuel, disse que definiu os 10 por cento do topo do mercado, tudo acima de US$ 5,8 milhões, como 'de luxo' – um termo que, segundo ele, se tornou a palavra mais usada no setor imobiliário.

Apartamentos com preços de mais de US$ 20 milhões representam "o um por cento ou menos do topo" do mercado total, afirmou ele.

"Você poderia chamá-lo de mercado especial. É um segmento extremamente diferenciado."

E tem o ponto de vista. "É assim que as pessoas fora de Manhattan veem Manhattan. Elas presumem que esse é o mercado em geral", disse Miller. Mas cerca de metade dos apartamentos vendidos aqui saem por menos de US$ 1 milhão – "sem querer menosprezar um milhão de dólares", disse ele.

Assim, um endereço no mais elevado dos edifícios sofisticados em Nova York se transformou em um prêmio cobiçado para muitos dos compradores mais ricos.

"Você está vendo os resultados do incrível crescimento da desigualdade entre os ricos, os super-ricos e os absolutamente, ridiculamente, obscenamente ricos", disse Philip Kasinitz, professor de sociologia do Centro de Pós-graduação da Universidade da Cidade de Nova York. "A distância entre apenas ser muito rico e ter essa quantidade imensa de dinheiro aumentou enormemente."

Nos anos 1920, a cidade foi ampliada horizontalmente, chegando à área que se transformou nos subúrbios. Mas também cresceu para cima. "Nova York começou a construir prédios de escritórios para criar a linha do horizonte que anunciava o perfil da cidade americana do século XX", escreveu James O'Gorman, historiador da arquitetura.

Agora, a cidade cresceu para cima, com prédios cada vez mais altos – e preços absurdos, liderados pelo apartamento de US$ 238 milhões na Billionaires' Row, como passou a ser conhecida a área ao sul do Central Park, cercada de prédios superaltos. Ele bateu o recorde anterior de preços altos em Nova York, um duplex a alguns quarteirões de distância que foi vendido por quase US$ 100,5 milhões em 2015 para Michael Dell, o empresário dos computadores.

"O significado de luxo mudou", disse Miller. "Nos anos 1950, você tinha prédios de altura mediana que eram chamados 'de luxo' porque tinham um elevador e um porteiro. Você via nas placas: 'Ar-condicionado, porteiro e elevadores – edifício de luxo'. Agora você está no 96º andar, e há uma piscina e uma série de comodidades no edifício."

E espaços maiores. Em Manhattan, um em cada cinco novos condomínios tem pelo menos três quartos – era um em 20 na década de 1990, disse Miller. O tamanho do apartamento de US$ 238 milhões é de 2.230 metros quadrados, o que equivale a US$ 106.726 por metro quadrado. O apartamento de US$ 85 milhões com os extras, comercializado por Daniel Neiditch, corretor que também é o presidente da associação de condomínio no edifício, tem 1.394 metros quadrados, uma pechincha em comparação, com US$ 60.976 por metro quadrado se for vendido por esse valor.

O edifício de Neiditch oferece as comodidades que se tornaram padrão – e que são esperadas – em muitos prédios novos: cinema privado, academia de ginástica de última geração e uma sala de jogos bem equipada.

Mas seus incentivos são mais chamativos que em outros condomínios, que às vezes incluem os impostos de propriedade ou as taxas comuns por um ano ou dois.

Neiditch disse que estava vendendo não apenas um apartamento, mas uma experiência de imersão, mesmo que muitos apartamentos de luxo fiquem vazios na maior parte do tempo, enquanto seus donos migram para áreas onde os ultrarricos se divertem. Para aqueles que nunca viveram em Nova York, disse ele, os incentivos "dariam uma ideia do estilo de vida dos nova-iorquinos".

"Os jantares no Daniel lhes oferecem um lugar para frequentar. Os ingressos para os jogos do Nets garantem o esporte. Eles terão carros. Poderão ir para os Hamptons sem ter de procurar um lugar para ficar."

Ou enfrentar a dor de cabeça que é a Long Island Expressway.

"Ir para os Hamptons de barco poderia ser divertido, ou descer para o Caribe."

Quando Neiditch colocou o apartamento no mercado há um ano, os incentivos chamaram a atenção da imprensa. Ele disse que houve conversas com um comprador, mas o problema foi o elevador. O candidato queria um privativo.

O mesmo aconteceu com a herdeira Marjorie Merriweather Post, que trocou sua mansão pelo apartamento de 54 cômodos na década de 1920. "Parte do acordo quando ela disse 'Vou vender minha mansão' foi que eles iriam construir para ela um tríplex no topo, com uma enorme janela em arco", disse o historiador da arquitetura Andrew Dolkart.

Como escreveram Robert A. M. Stern, Gregory Gilmartin e Thomas Mellins no livro "New York 1930", ela não estava "disposta a se misturar com as pessoas comuns que ocupavam os andares inferiores".

Elas usavam a entrada da Quinta Avenida. Ela tinha sua própria entrada na esquina da East 92nd Street, "de onde um elevador privativo a levava, e a seus convidados, para um grande foyer".

O edifício de Neiditch tem suas limitações. Ele tem apenas quatro elevadores, e transformar um deles em privativo era algo que não poderia ser feito.

Ele não quis identificar o possível comprador, mas disse que a pessoa "não queria ser vista por ninguém". Neiditch conta que ofereceu uma entrada privada pela garagem do prédio, mas a pessoa ainda teria de tomar o elevador.

"Eles queriam um elevador privado disponível o tempo todo, embora provavelmente estivessem fora durante 300 dias por ano. Mas isso era um ponto importante."

Quanto ao voo espacial, a data de partida ainda não foi definida. Neiditch não quis discutir detalhes dos preparativos.

"Mas haverá dois assentos, o que é um extra legal", disse ele.

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