Sheikha Al Thani, 31, uma catariana que quer ser a primeira mulher de seu país a escalar o Monte Everest, com seu guia de escalada, Tendi Sherpa, e o líder da expedição, Mike Hamill, em Kathmandu. (Uma Bista/The New York Times)
Julia Storch
Publicado em 18 de abril de 2021 às 06h58.
O Nepal reabriu o Monte Everest e outros sete picos na esperança da volta do montanhismo. O pequeno país no Himalaia foi forçado a fechar as trilhas no ano passado, dando um golpe devastador em sua economia. Para a temporada de escalada deste ano, de março a maio, a nação concedeu a mais de 300 alpinistas a licença necessária para subir o Monte Everest. Muitos deles esperam chegar ao cume.
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A pandemia fez da já mortal subida – houve 11 mortes no tráfego no Monte Everest em 2019 – algo ainda mais perigoso. As autoridades locais instituíram testes, máscara e requisitos de distanciamento social, instalaram pessoal médico no acampamento base e fizeram planos para recolher alpinistas infectados. Os montanhistas são normalmente recebidos em Katmandu, capital do Nepal, com grandes festas promovidas por funcionários da expedição. Mas não este ano.
"Nenhuma festa. Nem aperto de mão. Nem abraço. Só 'Namastê'", disse Lakpa Sherpa, cuja agência está levando 19 alpinistas para o Everest nesta temporada, referindo-se à saudação sul-asiática.
Este ano, há alguns montanhistas de destaque, incluindo um príncipe do Bahrein com uma grande comitiva e uma catariana que quer ser a primeira mulher de sua nação a fazer a escalada.
As autoridades nepalesas estabeleceram novos requisitos por causa da pandemia. No aeroporto de Katmandu, os viajantes que chegam devem apresentar resultados negativos de teste RT-PCR ou fornecer certificados de vacinação. Os alpinistas inicialmente tiveram de obter um seguro adicional, aumentando ainda mais o preço médio de US$ 50 mil para escalar o Everest, embora o governo tenha afrouxado essa exigência.
Ainda assim, funcionários do Ministério do Turismo e agências de expedição reconhecem que o Nepal não tem um plano claro para testar ou isolar aqueles que apresentarem teste positivo. "Não temos outras opções. Precisamos salvar a economia do montanhismo", declarou Rudra Singh Tamang, chefe do departamento de turismo do Nepal.
As empresas de expedição foram aconselhadas a isolar qualquer pessoa com sintomas e garantir que os alpinistas e os funcionários sejam testados antes de partir, de acordo com Tamang.
Entre os que vão para o acampamento base está Adriana Brownlee, britânica que abandonou a Universidade de Bath para seguir a carreira de montanhista, escalando os picos mais difíceis do mundo. Ela garantiu que o Nepal parecia seguro se comparado a seu país natal, mas também que o risco valia a pena para os nepaleses e para os alpinistas. "Eles precisam desse apoio da comunidade de escalada. É bom para os alpinistas também, nem que seja só para o bem de sua saúde mental. Eles dependem disso, e eu também."
Brownlee, de 20 anos, disse que estava "enlouquecendo" durante o confinamento com seus pais no ano passado em Londres. Ela treinou para o Everest subindo e descendo escadarias com uma mochila pesada durante duas horas diárias. "Se não pudesse subir este ano, provavelmente estaria deprimida em casa."
O Nepal, um dos países mais pobres da Ásia, está assumindo um risco calculado. Em 2019, o turismo trouxe US$ 2 bilhões em receita e empregou cerca de um milhão de pessoas. Para dezenas de milhares de nepaleses, a temporada de escalada de três meses é a única oportunidade de trabalho remunerado.
As perdas do fechamento do ano passado foram imensas. Pelo menos um milhão e meio de pessoas no país de 30 milhões de habitantes perderam o emprego ou uma renda substancial durante a pandemia, de acordo com a Comissão Nacional de Planejamento do Nepal.
Os transportadores, que geralmente fornecem carrinhos e preparam os acampamentos para alpinistas estrangeiros, foram forçados a subsistir com doações governamentais de arroz e lentilha. Guias de expedição especializados, muitos dos quais são membros da etnia sherpa do Nepal, voltaram para sua aldeia nas montanhas remotas e cultivaram batatas para sobreviver.
Alguns acreditam que a miséria foi ainda pior do que os números sugerem. "A contribuição turística não pode ser avaliada do ponto de vista único [do produto interno bruto]", disse Shankar Prasad Sharma, ex-vice-presidente da comissão.
Em janeiro, com a doença aparentemente diminuindo no sul da Ásia, o governo decidiu relaxar as restrições à entrada estrangeira e reabrir o acesso ao pico mais famoso do mundo.
Apesar dos possíveis problemas, a temporada de escalada começou no fim de março, depois que a primeira expedição deixou Katmandu. De lá, alpinistas viajam de avião para Lukla, a cidade que serve como ponto de partida para a caminhada de dez dias até o acampamento base. Uma vez no acampamento, passam semanas lá se aclimatando à altitude e esperando por um dia claro para tentar chegar ao cume.
Sandro Gromen-Hayes, cineasta que documentou uma expedição do exército britânico ao Everest em 2017, contou que Thamel, a área de Katmandu popular entre mochileiros menos endinheirados, estava mais silenciosa este ano: "Estava repleta de alpinistas e drogados e tudo mais na minha visita anterior. Agora Thamel está bem mais tranquila."
Gromen-Hayes, de 31 anos, veio do Paquistão para o Nepal, onde filmou uma expedição no K2, o segundo pico mais alto do mundo, conhecido como "a montanha selvagem" por causa de seus ventos ferozes. Normalmente desprovido de alpinistas no inverno, ele viu dezenas de alpinistas que haviam passado meses em confinamentos por causa do vírus e que então se encontraram para tentar subir o K2 em dezembro.
Gromen-Hayes contou que já havia ficado preso na mesma corda com três alpinistas que acabaram morrendo quando o mau tempo forçou o fim precoce de sua expedição. "Entre a comunidade montanhista, não acho que muitas pessoas estejam preocupadas com a questão do coronavírus", observou.