48 horas de passeios em Buenos Aires
Dois dias bacanas na capital argentina, com passeios, compras e até futebol
Da Redação
Publicado em 13 de abril de 2012 às 10h05.
São Paulo - Houve uma época em que o primeiro destino estrangeiro da vida do brasileiro médio era Ciudad del Este, no Paraguai. Hoje os tempos são outros. As passagens aéreas estão cada vez mais acessíveis e pacotes para a Europa e os Estados Unidos podem ser parcelados em 10 vezes. E dá-lhe malas cheias vindas de Miami e Nova York! No entanto, já há algum tempo Buenos Aires é a rainha indisputável dos brasileiros.
Os preços não estão assim tão atraentes como no passado recente e aqui e ali nota-se uma queda geral no padrão de vida. No entanto, a composição de boa comida, uma paisagem urbana tão clássica como moderna e o encantador charme dos portenhos nos fazem amar esta cidade.
Às margens de um rio que parece mar, quente no verão e gélida no inverno, Buenos Aires é o cruzamento de diferentes culturas e tipos humanos. Muito além do gaúcho dos pampas e dos bravos vaqueiros da Patagônia, seu movimentado porto acolheu (e viu passar) cargueiros ingleses, exploradores nórdicos, imigrantes italianos e espanhóis.
Essa confluência de idiomas e gostos dotou a capital da Argentina de um ar notadamente cosmopolita, com refinados teatros, inúmeras livrarias e uma distinta arquitetura neoclássica. A presença britânica se faz notar na preferência por esportes como polo, hóquei na grama, rúgbi e, é claro, futebol, a paixão que mais nos une do que nos distancia.
Dois dias em Buenos Aires é pouco, mas já vale uma grande visita.
Dia 1
A Buenos Aires de clichês pode render, no mínimo, boas fotos. Portanto, não a despreze. O nosso roteiro começa justamente no cartão-postal mais manjado da capital, o Caminito. As fachadas coloridas do curto calçadão é o centro de uma colônia de artistas encravada no bairro operário de La Boca. Há muita pobreza aos olhos, mas sente-se também um ar misteriosamente melancólico.
É possível percorrer o Caminito em menos de uma hora e daí seguir para a próxima parada, o lendário estádio La Bombonera, casa do Boca Juniors. Para conhecer a claustrofóbica arena por dentro, vá até o Museo de la Pasión Boquense. O ingresso “express” garante a entrada em uma das arquibancadas em dias em que não há jogo, mas ver a bola rolando para valer não é impossível.
O Boca Experience (www.bocaexperience.com) é um serviço oficial do clube e vende pacotes com bilhete, visita ao museu, guia turístico e traslados.
Na hora do almoço, nem saia do bairro e entre de vez no espírito portenho com uma refeição tradicional. A parrilla do bodegón rústico El Obrero já serviu famosos como o cineasta Francis Ford Coppola. Os brasileiros costumam sentir falta do sal grosso na carne argentina - se for o seu caso, corrija o tempero na mesa mesmo. Para não errar, vá de bife de chorizo e tortilla com batatas e cebola.
Devidamente refestelado, sigamos para Puerto Madero, um boa solução urbana para uma péssima obra pública. Na virada do século 19 para o 20, a Argentina era um dos maiores produtores de grãos do mundo e boa parte da produção era escoada por Buenos Aires.
O aguardado porto de Eduardo Madero, inaugurado em 1897, tornou-se obsoleto em poucos anos quando confrontado a cargueiros cada vez maiores. Abandonado e decadente, hoje suas antigas docas e armazéns abrigam escritórios de multinacionais, lofts charmosos e restaurantes bacanas. Não deixe de ver a ponte suspensa de Santiago Calatrava, os guindastes e embarcações históricas ancoradas por lá, como o A.R.A. Comandante Sarmiento. É uma ótima caminhada para fazer a digestão.
Próximo dali está a Casa Rosada, de onde despacha o presidente da república e de cujas sacadas eles (de Perón a Evita, de Menem aos Kirschner) lançaram famosos discursos populistas. Na praça onde ela se localizada, a Plaza de Mayo, um grupo de mães de desaparecidos do período da ditadura militar – que se estendeu por dois períodos entre as décadas de 1960 e 80 - se reúne todas as quintas-feiras, em comovente e desafiante manifesto. Logo ao lado está a Catedral Metropolitana, com seu interior escuro e silencioso.
Suba agora pela Avenida de Mayo, apreciando joias da arquitetura dos tempos gloriosos de Buenos Aires, como o Palácio Barolo e o Teatro Avenida. Parada obrigatória: uma medialuna con queso caliente (croissant recheado com queijo derretido) para acompanhar o chá com leite no Café Tortoni. O lugar ainda guarda os espelhos, lustres e cristais franceses da época de sua inauguração, em 1858. Clássico, sem ser um pega-turista. Um pouco mais à frente, está a Plaza del Congreso e a cúpula do Congresso Nacional.
Quando a noite ameaçar cair, siga para a Avenida Nove de Julio, principal artéria viária da cidade e veja as luzes iluminando a mais larga avenida da América do Sul e seu grande símbolo, o obelisco. Agora, prepare-se que, quando a noite chegar, é hora de tango.
Há as opções almost-Broadway, como o Piazzolla, dramático e belo, e o Señor Tango, um show espetaculoso, com direito a cavalo no palco. Para quem quiser uma experiência mais intimista, a pedida é o Bar Sur. Não é muito sofisticado, funciona em um bar de esquina pequeno, com salão apertado (para umas 30 pessoas, no máximo).
O esquema é igual ao dos tangos mais manjados (pacote com jantar ou sem jantar), mas o roteiro é um pouco mais autêntico, com dois excelentes casais de bailarinos revezando-se durante a apresentação. Cada dupla dança umas três músicas e depois eles convidam os turistas para dançar! O acompanhamento musical é perfeito: apenas um bandoneon, um celo e um pianista. Emocionante. Ah, mas não se esqueça de fazer reserva. Melhor que isso, só uma milonga.
Dia 2
O café da manhã pode estar incluído na diária, mas conhecer uma cafeteria típica tem de estar nos planos: os endereços mais clássicos funcionam em imóveis antigos e contam um pouco da história da cidade. Além do Tortoni (voltar lá nunca é demais), o Bar Plaza Dorrego é ainda mais antigo, com 182 anos. Prefira conhecê-lo em um domingo para depois poder emendar um passeio pela tradicional Feira da Plaza Dorrego, onde quase 300 barracas vendem de tudo - antiguidades, souvenires, roupas.
O passeio por San Telmo pode terminar antes do almoço, na Calle Defensa. Por aqui, a novidade são os coletivos de moda: pequenas galerias que reúnem peças de estilistas que estão começando a carreira. Nem é preciso garimpar muito para conseguir bons achados a preços módicos. Dois deles que merecem uma visita são o El Mercadillo (no nº 850) e o Adom Club (nº 856).
Que tal trocar um almoço completo por uma boquinha rápida? Uma preciosa certeza: a melhor empanada de Buenos Aires é a do El Sanjuanino, local que serve também suculentos cortes de carne e saladas. Uma empanada com uma Quilmes é garantia de sucesso!
De lá siga para o MALBA, referência da pulsante vida cultural da cidade. Seu acervo é instigante: o Abaporu, de Tarsila do Amaral, um autorretrato de Frida Kahlo e trabalhos de Di Cavalcanti estão logo no primeiro andar. Perca-se entre suas galerias antes de completar a visita, com uma taça de vinho no Café.
De lá, aproveite para experimentar as delícias geladas do Persicco ou do Chungo, ou tomar um café no tranquilo Campo de Golfe da Cidade.
Hora da encruzilhada. Uma opção é passar o resto do dia em Palermo Viejo, passeando de loja em loja, de café em café. Aqui estão ateliês interessantes e o gueto gastronômico de Palermo SoHo. Já para quem quer seguir um ritmo mais calmo, que tal a infalível dupla Teatro Colón e a livraria Ateneo Grand Splendid? O grande teatro é um elegante espaço das artes, recém-reformado e vale a visita guiada. Já a cavernosa loja Ateneo é um templo da literatura, uma sucessão de prateleiras repletas de tesouros, que vão de tiras de Mafalda ao provocante La Vida del Che, de Héctor Oesterheld, Victor e Alberto Breccia.
O dia terminou, as pernas clamam por descanso, mas nada como celebrar nossa rápida visita por Buenos Aires com uma bela comilança.
Em Palermo Soho você pode optar pelo competente Don Julio e o contemporâneo Casa Cruz. Quem quer sofisticação e cozinha estrelada, pode seguir para o Tomo I ou o Oviedo. Os ávidos por carne podem seguir nosso roteiro com as melhores parrillas de Buenos Aires.
Dicas Finais
Reservar um tempinho para passar no freeshop do aeroporto de Ezeiza pode ser uma boa: salva os presentinhos esquecidos e tem maquiagem, produtos de beleza, perfumes e até vinhos argentinos bem mais em conta que na cidade. Mas não vale a pena comprar alfajor Havana, por exemplo. Aliás, pergunte aos locais qual é a sua marca favorita e se surpreenda com a variedade de respostas.
Para quem tiver um tempinho a mais:
Os preços não costumam ser mais os mesmos, mas vale dar uma passada nas Galerias Pacífico ver as últimas ofertas.
O passeio no Delta do Tigre também costuma receber avaliações positivas, assim como o Museo de los Niños, para aqueles que viajam com crianças.
São Paulo - Houve uma época em que o primeiro destino estrangeiro da vida do brasileiro médio era Ciudad del Este, no Paraguai. Hoje os tempos são outros. As passagens aéreas estão cada vez mais acessíveis e pacotes para a Europa e os Estados Unidos podem ser parcelados em 10 vezes. E dá-lhe malas cheias vindas de Miami e Nova York! No entanto, já há algum tempo Buenos Aires é a rainha indisputável dos brasileiros.
Os preços não estão assim tão atraentes como no passado recente e aqui e ali nota-se uma queda geral no padrão de vida. No entanto, a composição de boa comida, uma paisagem urbana tão clássica como moderna e o encantador charme dos portenhos nos fazem amar esta cidade.
Às margens de um rio que parece mar, quente no verão e gélida no inverno, Buenos Aires é o cruzamento de diferentes culturas e tipos humanos. Muito além do gaúcho dos pampas e dos bravos vaqueiros da Patagônia, seu movimentado porto acolheu (e viu passar) cargueiros ingleses, exploradores nórdicos, imigrantes italianos e espanhóis.
Essa confluência de idiomas e gostos dotou a capital da Argentina de um ar notadamente cosmopolita, com refinados teatros, inúmeras livrarias e uma distinta arquitetura neoclássica. A presença britânica se faz notar na preferência por esportes como polo, hóquei na grama, rúgbi e, é claro, futebol, a paixão que mais nos une do que nos distancia.
Dois dias em Buenos Aires é pouco, mas já vale uma grande visita.
Dia 1
A Buenos Aires de clichês pode render, no mínimo, boas fotos. Portanto, não a despreze. O nosso roteiro começa justamente no cartão-postal mais manjado da capital, o Caminito. As fachadas coloridas do curto calçadão é o centro de uma colônia de artistas encravada no bairro operário de La Boca. Há muita pobreza aos olhos, mas sente-se também um ar misteriosamente melancólico.
É possível percorrer o Caminito em menos de uma hora e daí seguir para a próxima parada, o lendário estádio La Bombonera, casa do Boca Juniors. Para conhecer a claustrofóbica arena por dentro, vá até o Museo de la Pasión Boquense. O ingresso “express” garante a entrada em uma das arquibancadas em dias em que não há jogo, mas ver a bola rolando para valer não é impossível.
O Boca Experience (www.bocaexperience.com) é um serviço oficial do clube e vende pacotes com bilhete, visita ao museu, guia turístico e traslados.
Na hora do almoço, nem saia do bairro e entre de vez no espírito portenho com uma refeição tradicional. A parrilla do bodegón rústico El Obrero já serviu famosos como o cineasta Francis Ford Coppola. Os brasileiros costumam sentir falta do sal grosso na carne argentina - se for o seu caso, corrija o tempero na mesa mesmo. Para não errar, vá de bife de chorizo e tortilla com batatas e cebola.
Devidamente refestelado, sigamos para Puerto Madero, um boa solução urbana para uma péssima obra pública. Na virada do século 19 para o 20, a Argentina era um dos maiores produtores de grãos do mundo e boa parte da produção era escoada por Buenos Aires.
O aguardado porto de Eduardo Madero, inaugurado em 1897, tornou-se obsoleto em poucos anos quando confrontado a cargueiros cada vez maiores. Abandonado e decadente, hoje suas antigas docas e armazéns abrigam escritórios de multinacionais, lofts charmosos e restaurantes bacanas. Não deixe de ver a ponte suspensa de Santiago Calatrava, os guindastes e embarcações históricas ancoradas por lá, como o A.R.A. Comandante Sarmiento. É uma ótima caminhada para fazer a digestão.
Próximo dali está a Casa Rosada, de onde despacha o presidente da república e de cujas sacadas eles (de Perón a Evita, de Menem aos Kirschner) lançaram famosos discursos populistas. Na praça onde ela se localizada, a Plaza de Mayo, um grupo de mães de desaparecidos do período da ditadura militar – que se estendeu por dois períodos entre as décadas de 1960 e 80 - se reúne todas as quintas-feiras, em comovente e desafiante manifesto. Logo ao lado está a Catedral Metropolitana, com seu interior escuro e silencioso.
Suba agora pela Avenida de Mayo, apreciando joias da arquitetura dos tempos gloriosos de Buenos Aires, como o Palácio Barolo e o Teatro Avenida. Parada obrigatória: uma medialuna con queso caliente (croissant recheado com queijo derretido) para acompanhar o chá com leite no Café Tortoni. O lugar ainda guarda os espelhos, lustres e cristais franceses da época de sua inauguração, em 1858. Clássico, sem ser um pega-turista. Um pouco mais à frente, está a Plaza del Congreso e a cúpula do Congresso Nacional.
Quando a noite ameaçar cair, siga para a Avenida Nove de Julio, principal artéria viária da cidade e veja as luzes iluminando a mais larga avenida da América do Sul e seu grande símbolo, o obelisco. Agora, prepare-se que, quando a noite chegar, é hora de tango.
Há as opções almost-Broadway, como o Piazzolla, dramático e belo, e o Señor Tango, um show espetaculoso, com direito a cavalo no palco. Para quem quiser uma experiência mais intimista, a pedida é o Bar Sur. Não é muito sofisticado, funciona em um bar de esquina pequeno, com salão apertado (para umas 30 pessoas, no máximo).
O esquema é igual ao dos tangos mais manjados (pacote com jantar ou sem jantar), mas o roteiro é um pouco mais autêntico, com dois excelentes casais de bailarinos revezando-se durante a apresentação. Cada dupla dança umas três músicas e depois eles convidam os turistas para dançar! O acompanhamento musical é perfeito: apenas um bandoneon, um celo e um pianista. Emocionante. Ah, mas não se esqueça de fazer reserva. Melhor que isso, só uma milonga.
Dia 2
O café da manhã pode estar incluído na diária, mas conhecer uma cafeteria típica tem de estar nos planos: os endereços mais clássicos funcionam em imóveis antigos e contam um pouco da história da cidade. Além do Tortoni (voltar lá nunca é demais), o Bar Plaza Dorrego é ainda mais antigo, com 182 anos. Prefira conhecê-lo em um domingo para depois poder emendar um passeio pela tradicional Feira da Plaza Dorrego, onde quase 300 barracas vendem de tudo - antiguidades, souvenires, roupas.
O passeio por San Telmo pode terminar antes do almoço, na Calle Defensa. Por aqui, a novidade são os coletivos de moda: pequenas galerias que reúnem peças de estilistas que estão começando a carreira. Nem é preciso garimpar muito para conseguir bons achados a preços módicos. Dois deles que merecem uma visita são o El Mercadillo (no nº 850) e o Adom Club (nº 856).
Que tal trocar um almoço completo por uma boquinha rápida? Uma preciosa certeza: a melhor empanada de Buenos Aires é a do El Sanjuanino, local que serve também suculentos cortes de carne e saladas. Uma empanada com uma Quilmes é garantia de sucesso!
De lá siga para o MALBA, referência da pulsante vida cultural da cidade. Seu acervo é instigante: o Abaporu, de Tarsila do Amaral, um autorretrato de Frida Kahlo e trabalhos de Di Cavalcanti estão logo no primeiro andar. Perca-se entre suas galerias antes de completar a visita, com uma taça de vinho no Café.
De lá, aproveite para experimentar as delícias geladas do Persicco ou do Chungo, ou tomar um café no tranquilo Campo de Golfe da Cidade.
Hora da encruzilhada. Uma opção é passar o resto do dia em Palermo Viejo, passeando de loja em loja, de café em café. Aqui estão ateliês interessantes e o gueto gastronômico de Palermo SoHo. Já para quem quer seguir um ritmo mais calmo, que tal a infalível dupla Teatro Colón e a livraria Ateneo Grand Splendid? O grande teatro é um elegante espaço das artes, recém-reformado e vale a visita guiada. Já a cavernosa loja Ateneo é um templo da literatura, uma sucessão de prateleiras repletas de tesouros, que vão de tiras de Mafalda ao provocante La Vida del Che, de Héctor Oesterheld, Victor e Alberto Breccia.
O dia terminou, as pernas clamam por descanso, mas nada como celebrar nossa rápida visita por Buenos Aires com uma bela comilança.
Em Palermo Soho você pode optar pelo competente Don Julio e o contemporâneo Casa Cruz. Quem quer sofisticação e cozinha estrelada, pode seguir para o Tomo I ou o Oviedo. Os ávidos por carne podem seguir nosso roteiro com as melhores parrillas de Buenos Aires.
Dicas Finais
Reservar um tempinho para passar no freeshop do aeroporto de Ezeiza pode ser uma boa: salva os presentinhos esquecidos e tem maquiagem, produtos de beleza, perfumes e até vinhos argentinos bem mais em conta que na cidade. Mas não vale a pena comprar alfajor Havana, por exemplo. Aliás, pergunte aos locais qual é a sua marca favorita e se surpreenda com a variedade de respostas.
Para quem tiver um tempinho a mais:
Os preços não costumam ser mais os mesmos, mas vale dar uma passada nas Galerias Pacífico ver as últimas ofertas.
O passeio no Delta do Tigre também costuma receber avaliações positivas, assim como o Museo de los Niños, para aqueles que viajam com crianças.