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4 dicas de vinhos brancos nada óbvios que harmonizam com o clima do Brasil

Era de se esperar que o Brasil consumisse mais vinhos brancos, mas apenas 14% dos vinhos bebidos no país são brancos. Abaixo a supremacia tinta!

Vinho branco: Pela Serra Gaúcha, o país deveria produzir e, consequentemente, consumir muito mais brancos (Klaus Vedfelt/Getty Images)

Vinho branco: Pela Serra Gaúcha, o país deveria produzir e, consequentemente, consumir muito mais brancos (Klaus Vedfelt/Getty Images)

Tânia Nogueira

Tânia Nogueira

Publicado em 4 de março de 2019 às 07h00.

Última atualização em 7 de março de 2019 às 16h15.

Com clima quente e mais de 7 mil quilômetros de um litoral cheio de praias tropicais, onde locais e turistas se fartam de peixes e frutos-do-mar, era de se esperar que o Brasil consumisse mais vinhos brancos do que tintos. Porém, acontece o contrário: apenas 14% dos vinhos bebidos por aqui são brancos, 3% são rosés e 83% são tintos, de acordo com Rodrigo Lanari, country manager da Wine Intelligence no Brasil.

Se fossemos considerar a vocação do terroir da Serra Gaúcha, a principal região vinícola do Brasil, o país deveria produzir e, consequentemente, consumir muito mais brancos. Com clima chuvoso na época da colheita, não é fácil conseguir que as uvas tintas atinjam a maturidade perfeita. Hoje se consegue, com muita tecnologia. Mas dá trabalho e gasto. Já as brancas amadurecem antes, são colhidas mais cedo e dão um pouco menos de preocupação. Então, por que, apesar de serem usadas também para produzir espumantes, as uvas brancas têm ocupado cada vez menos espaço nos vinhedos nacionais?

Todos falam que o brasileiro tem o trauma da garrafa azul, referindo-se à febre de vinhos alemães de baixa qualidade e imitações que invadiram o mercado nacional nos anos 80 e fizeram sucesso até meados de 2000. Como se tivéssemos bebido tanto vinho branco docinho que tivéssemos aprendido que aquilo era uma droga, enjoado e partido para coisas melhores, mas diametralmente diferentes. Só tintos.

Sim, depois de um tempo, em certos círculos, começou a pegar mal tomar o vinho da garrafa azul. E alguns, por medo de passar vergonha, podem ter estendido a restrição para toda a categoria dos brancos. No entanto, eu apostaria mais no fenômeno Robert Parker para explicar a formação da preferência do brasileiro por tintos.

O crítico americano, com seu apreço pessoal por vinhos encorpados, cheios dos aromas que a passagem por barris de carvalho traz (baunilha, chocolate, café, no caso dos tintos, e caramelo, no caso dos brancos), influenciou o gosto de consumidores no mundo todo e mudou a indústria do vinho.

Nesse mundo de vinhos encorpados, cheios de álcool, com exceção do chardonnay barricado, os brancos não têm vez. Não que Parker nunca desse boas notas a outros vinhos brancos. Mas na média os tintos tinham maior destaque. E o consumidor costuma simplificar ideias.

Brancos são frescos, delicados, elegantes. Bonito é gostar de vinho potente, com teor alcoólico elevado. Uma vez o namorado de uma amiga me disse que só tomava vinhos com mais de 14,5% de teor alcoólico, o que era sinônimo de qualidade. Pura ignorância, "enoidiotice"!

Isso, graças aos céus, está mudando. Tintos mais elegantes, como os pinots noirs, já têm boa penetração no mercado e os brancos voltam a fazer algum sucesso. Por enquanto, esse comportamento se restringe a uma camada mais informada, àqueles que estão logo abaixo, em termos de conhecimento, dos especialistas.

Essas pessoas estão descobrindo uvas incríveis, como a alemã riesling, a portuguesa alvarinho, que na Espanha é albariño, e a grega assyrtiko; se aventurando pelas diversas uvas autócnes da Itália e de Portugal, como a vermentino e a gouveio; explorando regiões de grandes brancos como Chablis e todo o resto da Borgonha ou Alsácia, na França, Friuli, na Itália, ou o Vale do Reno, na Alemanha. Pagam caro por um sauvignon blanc da Nova Zelândia ou um chardonnay do Deserto do Atacama, no Chile.

Para quem já cansou de ficar sempre com o modelão tinto, a seguir algumas sugestões nada óbvias de brancos:

1 - Eroica Riesling 2015

Fruto de uma parceria entre as vinícolas Chateau Ste Michelle (americana) e Dr. Loosen (alemã), esse riesling é produzido em Columbia Valley, no estado de Washington, na costa oeste dos Estados Unidos. A região tem produzido ótimos vinhos dessa uva de origem alemã. Seco, com ótima acidez, tem o petrolado típico da casta. Custa 353 reais na Winebrands.

2 - Matiz Alvarinho 2017

Antes de provar, duvidei um pouco que pudesse haver um alvarinho brasileiro de qualidade. Mas esse rótulo da Vinícola Hermann, produzido na Serra do Sudeste, com consultoria do mestre português Anselmo Mendes, é uma delícia. Com um certo corpo, mas com bastante frescor. Custa 84 reais na Decanter.

3- Tara Chardonnay

O branco mais radical da Vinícola Ventisqueiro, é produzido por Felipe Toso no Deserto do Atacama, o mais seco do mundo. Amadurece por 15 meses antes de ser lançado ao mercado, parte em tanques de inox, parte em barris de carvalho francês. Isso lhe dá corpo, untuosidade. Ademais, não é filtrado. Mas mantém os aromas frutados e o toque mineral, além de uma ótima acidez. De produção muito pequena, é difícil de achar, costuma desaparecer do mercado logo depois do lançamento da safra. Importado pela Cantu, está custando 364,90 reais no site Vivavinho.

4 - Thalassitis 2016

Quando cheguei a Santorini, na Grécia, reparei que a ilha era coberta por um mato rasteiro. Depois fui saber que eram uvas. Ali o terroir é tão sano, tão livre de pragas, que as uvas podem crescer em contato com o chão sem pegarem doenças. A uva típica da ilha é a assyrtiko, uma branca incrível, mineral, fresca, elegante, que combina super bem com os pratos de frutos do mar que comemos naquelas casinhas brancas de teto azul royal. Este é produzido pela Gaia, uma vinícola boutique, linda que visitei quando estive lá. Um dos melhores que tomei. Custa 243,13 reais na Mistral.

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