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Votação vista por dentro

Conheça as novas carreiras e as oportunidades de trabalho para quem está interessado em atuar nos bastidores das campanhas eleitorais Por Mariana Amaro e Gabriel Ferreira

Eduardo Bernuy Lopes, da área de TI: missão de impedir que os sites dos candidatos sejam hackeados (Luiz Maximiano / VOCÊ S/A)

Eduardo Bernuy Lopes, da área de TI: missão de impedir que os sites dos candidatos sejam hackeados (Luiz Maximiano / VOCÊ S/A)

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Da Redação

Publicado em 15 de setembro de 2014 às 18h38.

São Paulo - Quem trabalha em uma campanha política costuma dizer que há duas grandes vantagens nesse mercado: a primeira é que há muito dinheiro para quem desempenha bem, e a segunda é que tem data para acabar. Isso porque as atividades e a agenda são tão exaustivas que não são raras as crises conjugais e os problemas de saúde para quem se aventura nesse campo.

“Sempre que entro em uma campanha, minha mulher vira viúva de marido vivo”, afirma o experiente Sergio Kobayashi, jornalista de 57 anos, que já trabalhou para políticos como Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Gilberto Kassab.

E ele não está exagerando. Nos meses que antecedem uma eleição, o ritmo diário é tão frenético que fins de semana e feriados são desconsiderados. “É preciso ficar ligado noite e dia, acompanhando cada notícia que sai do candidato e também dos concorrentes”, diz Sergio.

A promessa de ganhos polpudos nesse período é um dos grandes incentivos para entrar na área. Quem já está dentro desse mercado diz que a remuneração varia em função do orçamento da campanha, da importância do cargo e do grau de disponibilidade do profissional. Mas dá para ter uma ideia dos valores.

“Em São Paulo, a cidade com os salários mais altos, o funcionário mais raso, que distribui papel na rua, ganha, em média, 3.000 reais por mês”, afirma Sergio. Um bom coordenador, por sua vez, pode ganhar até 3 milhões de reais. Mas também há o perigo de calotes, quando o candidato não se elege. Apesar dos riscos, as campanhas políticas são um mercado crescente, que está em fase de amadurecimento e carece de mão de obra especializada.

Novatos na política

Prova disso é a quantidade de cursos de especialização e MBA em marketing político, criados a cada ano nas universidades brasileiras. Como não há empresas de recrutamento especializadas em contratar para esse processo, participar de um desses cursos é uma boa forma de entrar nesse mercado, em que as oportunidades costumam aparecer por meio de networking mais do que em qualquer outra área.

E é cada vez maior a variedade das carreiras envolvidas nas campanhas. “Há desde advogados especialistas em direito eleitoral, que analisam a propaganda dos concorrentes para avaliar se há possibilidade de direito de resposta, até filósofos, que conseguem fazer uma análise política e social mais embasada”, diz Vera Chaia, coordenadora do curso de extensão em marketing político da PUC de São Paulo.

Uma profissional que conseguiu um lugar ao sol num território ainda dominado por jornalistas, publicitários e cientistas políticos foi a psicóloga mineira Fernanda Rodrigues da Silva, de 32 anos. Desde 2012, ela atua em campanhas do interior de Minas Gerais. Suas atividades incluem um trabalho motivacional com as equipes de militantes e serviço de coaching para os candidatos.

Antes disso, Fernanda dava consultoria a empresas. “Vi que meus conhecimentos poderiam ser úteis para políticos e fui oferecê-los aos partidos da região”, diz. Valeu a pena. “Ganho praticamente o dobro com os serviços que presto agora.”

São muitas as oportunidades para os profissionais que atuam nos bastidores ajudando a construir a imagem do candidato. Contratam-se diretores de cinema, editores de vídeo e roteiristas para escrever os programas que vão ao ar durante a propaganda obrigatória. Também há vagas para modelos e atores.

“São castings de pessoas que parecem comuns”, diz Paulo Henrique, diretor da PHM Produções, de São Paulo, produtora que já forneceu artistas para 18 campanhas. Figurantes ganham um cachê menor, mas quem tem falas recebe de 500 a 10.000 reais.

“É como o marketing de um produto. Quando uma empresa vai lançar uma marca nova de xampu, ela faz propaganda”, diz Sergio Kobayashi. “A diferença aqui é que o produto é uma pessoa”, diz o jornalista.

Uma pessoa, aliás, que pode ser melhorada, segundo o cientista social paulistano Gabriel Rossi, de 35 anos, que se especializou em marketing político e há quatro anos atua na área. “A primeira parte é entender em que arquétipo político a pessoa se encaixa: o pai, o líder charmoso, o herói ou o homem simples, que veio do povo”, afirma.

Isso ele descobre por meio de uma pesquisa qualitativa — feita por institutos de pesquisa especializados para saber o que a população daquela região quer. Com base no resultado, Gabriel faz um trabalho de adequação do candidato, que vai desde a indicação de um tratamento dentário ou de cirurgias plásticas, para ate­nuar marcas de expressão, até mudanças no guarda-roupa ou no corte de cabelo.

Algo parecido com o que foi feito em 2010, quando o cabeleireiro Celso Kamura, que cuida das madeixas da atual presidente, mudou o tom do cabelo de Dilma e aparou as laterais, “que engordavam o rosto dela”.

Redes sociais e internet

Esses pontos parecem detalhes, mas podem fazer a diferença. Sobretudo numa era em que a internet e as redes sociais ganharam um papel crucial nos pleitos, colocando uma lente de aumento sobre os erros e os acertos dos candidatos. O resultado é que a demanda por profissionais de tecnologia da informação está em expansão — e para serviços cada vez mais diversos.

Um dos representantes da categoria na área política é o especialista em segurança de dados Eduardo Bernuy Lopes, de 29 anos, que começou a trabalhar em campanhas em 2006, depois de prestar serviços para empresas públicas. Sua função é evitar que os sites das coligações sejam derrubados ou atacados por hackers.

Segundo ele, a principal diferença entre atuar em empresas privadas ou numa corrida eleitoral está na carga de trabalho. “Como as campanhas acontecem num período determinado de tempo, tudo é mais intenso”, diz ele.

Apesar de achar que os valores pagos compensam esse grau de exigência, Eduar­do dá uma dica para quem planeja atuar nas próximas eleições, em 2016. “Há candidatos que, em vez de pagamento, oferecem vantagens futuras caso sejam eleitos. Fuja desse tipo de situação”, afirma.

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