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“Vingadores: Ultimato” ensina o que pode condenar líderes ao fracasso

SEM SPOILERS! No novo filme da Marvel, os heróis precisam superar um grande fracasso e dão lição para ser um líder mais forte

Vingadores: filme mostra que viver o luto da derrota é necessário (Marvel Studios 2019/Divulgação)

Vingadores: filme mostra que viver o luto da derrota é necessário (Marvel Studios 2019/Divulgação)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 27 de abril de 2019 às 06h00.

Última atualização em 27 de abril de 2019 às 06h00.

São Paulo - Você já participou de uma reunião que durou uma eternidade? Então imagine a inusitada cena do filme “Vingadores: Ultimato”, que estreou nesta quinta-feira (25) mundialmente, mostrando os super-heróis virando a noite numa sessão para trocar histórias e pensar em soluções criativas.

Diferente de outros planos elaborados às pressas e sucesso por improviso, eles precisam ser meticulosos para consertar os efeitos da derrota épica que sofreram no final do filme anterior: o vilão Thanos conseguiu apagar metade da vida no universo usando as joias do infinito.

No universo Marvel ou no mundo corporativo, uma pausa para revisar vitórias e apontar falhas é uma prática muito simples - e muito negligenciada - que poderia criar imunidade contra o fracasso.

É o que defende Bela Fernandes, psicóloga, membro da equipe Aylmer Desenvolvimento Humano e especialista em liderança.

“Parece uma prática fácil demais, mas a falta de revisão dos erros pela liderança leva ao fracasso. Sem esse conhecimento, você acaba traído pelo mesmo bloco de erros e equívocos”, explica ela.

Sem pausa para aprendizado em 22 filmes, os heróis super poderosos são derrotados e começam o filme tendo que lidar com as consequências de seus erros. Sem missão ou propósito após enfrentar Thanos, eles finalmente têm tempo de refletir.

Bem, alguns deles tentam. O Capitão América (Steve Rogers) procura ajudar outras pessoas a se recuperar e seguir em frente, a Viúva Negra (Natasha Romanoff) busca manter a equipe unida e cooperando e o Homem de Ferro (Tony Stark) se dedica a sua vida pessoal.

Segundo a psicóloga, existem reações diversas ao fracasso dependendo do perfil da pessoa. Alguns preferem se isolar para pensar, outros são mais passionais.

A pior reação após um fracasso é a negação. O deus do trovão, Thor, que cometeu o erro fatal que permitiu a vitória de Thanos, tenta fingir que nada aconteceu, saindo da fúria após a batalha para ficar indiferente à realidade.

“É importante lidar com a frustração. No dia a dia das grandes corporações, fracassos de alto impacto e com consequências punitivas, é difícil voltar no dia seguinte e sentar na mesma cadeira de sempre. Muitos negam, pois é muito fácil terceirizar a culpa. Exige maturidade para admitir, revisar o que foi feito e conduzir seu time a um novo propósito. Nunca o luto de um perda é o fim da história”, fala Bela.

O filme mostra que viver o luto da derrota é necessário, mas não é impossível se recuperar.

Como fechamento de uma era que começou em 2008 com o primeiro filme do Homem de Ferro, em Ultimato os personagens sentem o peso de sua história e são retratados mais vulneráveis do que nunca.

Na sua jornada final, eles mostram dois pontos chaves para dar a volta por cima: encontrar seus recursos restantes e um novo propósito.

Tony Stark ainda possui sua esposa e seu intelecto. Natasha criou uma rede de contatos espalhadas pelo universo. Bruce Banner, o Hulk, tem um novo conhecimento sobre suas habilidades.

“O profissional precisa revisar quais são seus ativos restantes. São suas habilidades, seus valores, sua rede de relacionamento. Será que queimei todas as pontes? Para fazer isso, é preciso ser transparente para saber o que construiu de valor na sua carreira”, explica ela.

Dos pequenos esforços, os Vingadores encontram uma nova esperança que pode reverter os malfeitos do vilão.

A especialista relata a experiência de muitos executivos que trabalharam em empresas investigadas na Operação Lava Jato. Do desgaste emocional diante das falhas encontradas na empresa, eles encontraram uma nova missão de se tornarem mais relevantes para o sociedade.

“Sem inimigo comum ou propósito, algo deve surgir em seu lugar, como uma causa comum que une a equipe ou guia o profissional. Após a exaustão psicológica de um fracasso, podemos ressignificar a perda para ter nova energia e vitalidade”, comenta ela.

Hora de mudar

Diante de sua última chance para salvar o dia, os heróis devem abandonar seu hábito de agir no improviso confiando apenas em suas habilidades extraordinárias. Aqui entra a sessão de brainstorming para estabelecer um plano perfeito, com times diferentes e missões específicas.

Para Bela Fernandes, os heróis e profissionais ficam viciados em vitórias com o mesmo modo de operar e se tornam incompetentes habilidosos. Ela cita o termo do especialista de Harvard Chris Argyris, que teoriza sobre dois modelos de aprendizado.

No primeiro modelo, chamado de “uma volta”, uma produtividade com foco no resultado positivo e repetitivo. Segundo Bela, os Vingadores aprenderam a lidar com o sucesso de suas ações vendo o resultado positivo de suas habilidades extremas.

O fracasso era impensável e eles deixaram de aprender e se adaptar. “Se o Homem-Aranha for confiar sempre em sua teia e ela falhar diante de uma situação mais complexa, ele não vai estar preparado para essa variável”, explica ela.

Ao revisitar suas histórias, procurando os momentos que encontraram as joias do infinito, eles relembram as diversas falhas em missões passadas, a prática que o pesquisador chama de “aprendizado de duas voltas”.

A prática ajuda a aprender com o passado para evitar práticas viciosas. Para isso, é preciso não ter medo de errar, olhando para as falhas como oportunidades.

“Parar de aprender é uma armadilha. Você se convence que existe um ponto de entrega que sempre vai funcionar e deixa de exercer a curiosidade, o erro se torna inexoravelmente. Os líderes precisam lidar com os pequenos fracassos”, diz a psicóloga.

É assim que se fortalece contra o fracasso. Em entrevista para a VOCÊ S/A, Ernesto Pousada, presidente da Ingredion, relaciona a inovação à ousadia.

“Em 2017, num evento com 140 líderes da América do Sul, eu resolvi contar quais foram meus erros e quais lições aprendi com eles. Não eram só coisas de negócios, mas comportamentais também. Neste ano, vamos pedir a todos os líderes para compartilharem seus deslizes. Se você erra e aprende, é um investimento” conta ele.

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