Frederico Torres, do Grupo Hub: De alguns anos para cá começamos a perceber um crescimento de empresas que eram startups, mas que cresceram, porém ainda não possuíam porte para ter um C-Level, por isso criamos uma solução para recrutar C-Level sob demanda (Grupo Hub /Divulgação)
Repórter
Publicado em 3 de fevereiro de 2024 às 09h02.
Última atualização em 3 de fevereiro de 2024 às 16h27.
Além de investimentos em tecnologias como IA e a aposta em experiências de trabalho cada vez mais humanas, uma outra tendência de RH promete mexer o setor neste ano: a contratação de C-Level sob demanda.
O cargo de C-Level as a Service (CaaS) surgiu para atender necessidades de negócios pontuais, como projetos de expansão, crises e novo posicionamento, situações do negócio que normalmente precisam de uma liderança experiente de mercado para ajudar a desenvolver a companhia de forma acelerada.
Esse profissional pode ser requisitado tanto em grandes empresas quanto em startups, afirma Frederico Torres, sócio-sênior do Grupo Hub, consultoria de RH.
“De alguns anos para cá começamos a perceber um crescimento de empresas que eram startups, mas que cresceram, porém ainda não possuíam porte para ter um C-Level e ao mesmo tempo diretores são pequenos para elas. O que fazer se precisa de um C-Level, mas não pode pagar? Foi aí que pensamos no cargo de C-Level as a Service (CaaS), que é algo que já existe nos EUA em muitas empresas, mas no Brasil poucas consultorias trabalham com isso.”
A expectativa global é grande com o serviço de executivos sob demanda. Segundo estudo da Future Market Insights, o mercado de talento como serviço deve atingir 1.173,6 bilhão de dólares até 2032, crescendo 11,7% por ano em relação ao seu valor estimado de 387 milhões de dólares em 2022.
Como estratégia para o negócio, no ano em que lançam o Cass na plataforma Hub Top Executive, o Grupo Hub completa 10 anos de atuação no Brasil, com mais de 400 clientes e faturamento de R$ 19 milhões em 2023 – registrando um crescimento de 22% em comparação a 2022.
Para quem deseja ser um C-Level sob demanda precisa gostar do regime de trabalho mais dinâmico e flexível, porque normalmente esses profissionais atuam em regime part-time dentro das empresas, duas ou três vezes na empresa, podendo atuar em mais de uma empresa, dependendo do regime de contratação.
“É algo que para o mercado é inovador e benéfico, porque você terá um profissional extremamente sênior, que pode participar do conselho da empresa, ao mesmo tempo em que está como C-Level”, diz Torres que reforça que esses profissionais podem atuar em cargos como CEO, CHRO, CMO por um tempo determinado.
Além de aceitar um trabalho mais flexível e normalmente determinado por um contrato temporário, o perfil que mais está sendo atraído para a esse tipo de vaga são de profissionais que estão há muitos anos no mercado, normalmente oriundos do mercado de tecnologia e startups.
“É muito comum achar esses perfis em cargos como CMO, que costuma vir de grandes agências de mídia ou de publicidade. O que pode ser mais difícil é um CMO de uma grande indústria que construiu durante décadas sua carreira em uma mesma empresa querer trabalhar de forma temporária para um negócio menor, mas obviamente isso pode mudar com o tempo e com o estilo de trabalho que a pessoa quer adotar.”
A solução do C-Level as a Service (CaaS) virá ao encontro de um 2024 marcado pelo panorama econômico mais desafiador, segundo Fernando Guedes, sócio sênior do Grupo Hub, em que as empresas precisarão movimentar seu quadro de funcionários, em busca dos melhores líderes e executivos.
“O PIB projetado de 1,5% tende a ser um fator que remete a menos vagas. Por isso este ano não deve envolver grandes contratações de volume, e sim os melhores profissionais. Isso inclui equipes de venda mais competitivas, gestão financeira que olhe para custos e RHs que retenham talentos.”
Além de resolver um problema de alto escalão para a companhia, a contratação de um C-Level para um determinado projeto pode ajudar a diminuir o problema etário para executivos na faixa dos 50 anos que têm a dificuldade de se colocar de forma permanente no mercado.
“Estes projetos pontuais são uma oportunidade de atuação de profissionais mais seniores, além de ser uma boa solução para a necessidade pontual de uma empresa”, diz Torres.
A oportunidade de trabalhar como C-Level sob demanda surgiu para Marcio Pio, engenheiro e especialista em gestão empresarial, hoje com 49 anos, que após experiência como executivo empresarial por 12 anos, decidiu ser CFO de empresas de pequeno e médio porte, sejam elas tradicionais ou startups.
“Tive a oportunidade de me juntar à rede de mentores da Endeavor em 2015 e no contato com empreendedores ao longo do ano percebia que a experiencia de um C-Level em Finanças era útil, mas os orçamentos sempre limitados. Vi que a possibilidade de múltiplos projetos também poderia me oferecer dinâmica e longevidade para uma carreira que havia sido muito tradicional até então. Por isso, em 2019 aceitei a primeira proposta para ser CFO da Tely, empresa de banda larga de João Pessoa por um período indeterminado”.
Ao longo de sua trajetória, Pio percebeu que não apenas startups, convencionalmente associadas ao segmento de tecnologia, poderiam se beneficiar do modelo. “Empresas de segmentos mais tradicionais, mas em estágio de maturação também tinham fit - o que de fato aconteceu, tanto que tenho trabalhado com empresas em diversos segmentos de serviços, como advocacia, varejo, eventos e indústria.”
Além de atuar em diferentes segmentos e de trocar experiências com times diversos, o que faz Pio gostar muito da experiência de executivo sob demanda é a oportundiade de não apenas dar direcionamentos às empresas, mas também de participar da implantação de iniciativas – muitas vezes colhendo os frutos do esforço. “O C-Level pode estar junto por um ciclo com a empresa e gerar este ganha-ganha, o que na minha opinião diferencia do approach de uma consultoria mais tradicional.”
“Neste modelo também sinto que estou envolvido em atividades importantes, fazendo a diferença em vários lugares, sem contar o fato de que estar em vários projetos elimina o ‘conflito de interesse’, e assim você se sente mais à vontade de contribuir sem medo das consequências para o seu próprio emprego, já que há menor dependência econômica.”
Apesar dos benefícios, há algumas contradições para quem escolhe ser um C-Level sob demanda, segundo Pio.
“É uma área que terá intensidade alta de trabalho, cada momento é de contribuição. Não é possível cadenciar o ritmo. O executivo também passar a ser um profissional liberal, sem benefícios como remuneração de férias e 13º salário), passar a ter que empenhar esforços comerciais continuamente, normalmente tem menos controle de agendas por causa dos múltiplos projetos, o que exigirá ter muito jogo de cintura para negociar prioridades e agenda.”
Para quem deseja correr esses riscos e aproveitar as vantagens de ser um C-Level sob demanda, Pio diz que é preciso ser um executivo de perfil adaptável.
“É necessário aprender as horas em que deve estar presente, ter rápida adaptabilidade, saber transitar em meios muito diferentes e ter cabeça aberta para saber ouvir e adaptar conhecimentos em diferentes empresas”, diz Pio que passou por diversas empresas como Noha, Logstore, Zombie Studio, Muma e Ciao.
Para a empresa, também há prós e contra em ter um C-Level sob demanda no time: “Primeiro, redução de tempo e custo de contratação, porque um CFO em qualquer canto do país não vai sair por menor de R$ 30 mil”, diz Pio, que reforça que o contra para as empresas é que o executivo não vai estar disponível o tempo todo.
A varejista Noha, criada em 2016, teve a necessidade de ter um profissional sênior para trazer mais inteligência e processos e por isso contratou um CFO em 2021 sob demanda para a área financeira.
“Para nós ainda é difícil ter uma estrutura que comporte executivos sênior em todos os cargos, por isso a aposta nesse modelo de trabalho sob demanda. Profissionalizar a área com processos e ter inteligência financeira por trás de cada decisão era uma demanda latente da nossa operação e conseguimos atingir esses objetivos com esse formato de trabalho, ainda que sem a presença física do CFO todos os dias”, afirma João Andrade Lima, CEO da Noha.
Entre alguns resultados positivos para a companhia, Lima destaca melhorias nos processos e na gestão do caixa.
“Melhoramos nossos processos financeiros, construímos nosso formato de governança e principalmente fomos capazes de melhorar nossos resultados como empresa tendo a análise financeira de cada área. Além disso, hoje somos muito mais profissionais e responsáveis com a gestão do caixa, um dos pontos mais sensíveis da gestão financeira de varejo, do que antes da chegada do nosso CFO”.
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