Carreira

Uma dirigente na F1 pela primeira vez na história

A Sauber aposta na competência da indiana naturalizada austríaca Monisha Kaltenborn para retomar a trajetória de vitórias dentro e fora das pistas

Peter Sauber, o fundador da escuderia, e sua sucessora, Monisha Kaltenborn (Divulgação)

Peter Sauber, o fundador da escuderia, e sua sucessora, Monisha Kaltenborn (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de março de 2013 às 14h16.

São Paulo - Seu rosto pode não ser muito conhecido, mas seu nome já fez história no mundo do automobilismo ao se tornar a primeira mulher diretora executiva de uma equipe de Fórmula 1. Monisha Kaltenborn, de 41 anos, está à frente da Sauber desde 2010. No mês passado, ela também se tornou dona de 33% da escuderia.

Ao se desfazer de parte da Sauber, seu fundador e presidente, Peter Sauber, de 69 anos, quer garantir a permanência de Monisha e deixar em suas mãos a responsabilidade de fazer da equipe uma marca vitoriosa. A melhor colocação da Sauber no mundial de construtores (que classifica as escuderias) foi em 2007, quando ficou com o segundo lugar.

Advogada de formação, casada, mãe de dois filhos, Monisha nunca pensou em fazer parte da elite do automobilismo. Da pequena cidade de Hinwil, na Suíça, onde fica a fábrica da Sauber, a executiva falou por telefone à VOCÊ S/A. 

VOCÊ S/A - Você pensava em fazer carreira na Fórmula 1 quando saiu da faculdade de direito? 

Monisha Kaltenborn - De jeito nenhum. Eu pensava em trabalhar no departamento jurídico de uma empresa comercial qualquer ou chegar à gerência nessa área, mas nunca na Fórmula 1. Eu até tinha certo interesse pelo esporte, mas nunca imaginei trabalhar com isso.

VOCÊ S/A - E como aconteceu? 

Monisha Kaltenborn - Foi por um acaso. Trabalhei em uma companhia em Listenstaine, em 1998, que era sócia da Sauber, e uma das minhas tarefas era cuidar das questões legais da equipe de F1. Quando Peter Sauber, o dono da equipe, terminou com a sociedade, um ano depois, me convidou para ficar na Sauber. Aceitei.

VOCÊ S/A - O que contribuiu para sua promoção, seu conhecimento em negócios e em corridas?

Monisha Kaltenborn - Acho que conhecer como as pessoas daqui funcionam, o tipo de empresa que somos e entender como são os trâmites de negociação da Fórmula 1 e seus desafios ajudaram mais nessa escolha. Quando a BMW deixou a sociedade e Peter Sauber resolveu voltar para a companhia, fazia quatro anos que ele estava fora dos negócios. Ele precisava de alguém que entendesse a situação e liderasse o time em tempos difíceis. 

VOCÊ S/A - O que significa ser a primeira mulher a dirigir uma equipe de F1?

Monisha Kaltenborn - É um desafio. Mas confesso que quando fui nomeada não considerei algo tão importante assim. Na verdade, todos nós daqui subestimamos o fato de nunca ter havido uma mulher nessa posição na F1. Só depois que isso começou a chamar a atenção da imprensa internacional é que percebemos. 


VOCÊ S/A - E qual é esse desafio? 

Monisha Kaltenborn - É trazer segurança para a equipe, estabilidade e competitividade. Claro que o fato de eu ser mulher pega de surpresa alguns homens. Apesar de não ter passado por nenhuma situação embaraçosa, posso imaginar que talvez alguém questione se tenho o conhecimento técnico necessário para o cargo. 

VOCÊ S/A - Em uma entrevista à rede americana de televisão CNN, você reclamou que normalmente ninguém lhe faz perguntas sobre as corridas. Isso mudou?

Monisha Kaltenborn - É verdade. Comecei a observar que os jornalistas só me faziam perguntas sobre cortes de custos e o futuro da F1, questões mais estratégicas e técnicas. Ninguém se interessava em saber o que eu tinha achado da corrida. Isso está mudando. 

VOCÊ S/A - Quando a mídia fala de mulher na F1 aparecem as modelos, as namoradas dos pilotos e o glamour do esporte. Não há mais mulheres trabalhando na F1? 

Monisha Kaltenborn - Absolutamente. Se você prestar atenção nas equipes, verá que existem mulheres trabalhando em algumas áreas mais técnicas. Não são muitas. Mas acredito que deve aumentar porque as mulheres têm optado pelas carreiras técnicas nos últimos anos. Na Sauber, temos algumas mulheres nos setores de aerodinâmica e design. Também estou convencida de que teremos mulheres ao volante, mas não sei quando. 

VOCÊ S/A - Existe uma discussão para limitar o orçamento e reduzir os gastos das equipes desse esporte. Os milionários salários dos pilotos vão diminuir? 

Monisha Kaltenborn - Esse acordo, que começou a ser discutido em 2009 e ainda não está em prática, está claramente ligado aos sérios problemas econômicos que estamos enfrentando por causa da crise financeira global. Contudo, é preciso fazer mais. Quanto aos salários, não sei. Mas temos de analisar todos os aspectos possíveis. 

VOCÊ S/A - Como você equilibra sua vida profissional, com viagens ao redor do mundo, e a família? 

Monisha Kaltenborn - Esse é outro desafio. Mas, no final, é mais uma questão de organização e apoio da família. O mais importante é conseguir manter contato com meus dois filhos quando estou viajando, para que eles não se sintam excluídos da minha vida. 


VOCÊ S/A - Você será a sucessora de Peter Sauber. O que isso muda em sua carreira e em sua rotina? 

Monisha Kaltenborn - Essa é uma grande responsabilidade, porque Peter é o fundador da companhia, que está na F1 há 20 anos. O meu papel será fazer a empresa continuar por, no mínimo, mais tantos anos. 

VOCÊ S/A - A sensação de assistir a uma corrida mudou depois disso? 

Monisha Kaltenborn - Sim. Acho que tem mais paixão e muito mais emoção envolvidas, até por eu estar muito mais perto de tudo do que antes. 

VOCÊ S/A - No Brasil existe um sentimento de que não surgiu um excelente piloto desde a morte de Ayrton Senna. Qual sua opinião sobre os pilotos brasileiros? 

Monisha Kaltenborn - A Sauber tem uma relação muito próxima com Felipe Massa. Estamos orgulhosos do sucesso dele porque ele entrou na F1 com a gente. Estávamos convencidos do talento dele e por isso o contratamos. Acho que o Brasil tem bons talentos, além de o país ter um importante papel na F1 e fazer parte do DNA do esporte. 

VOCÊ S/A - Você está feliz com os resultados da temporada [a Sauber é a sétima colocada no mundial de construtores e seu piloto mais bem classificado está na décima posição]? 

Monisha Kaltenborn - Sim. Estou feliz. Nosso objetivo é melhorar a posição pontuando regularmente. Temos mostrado um bom desempenho com carros competitivos e uma boa base para alcançar nosso objetivo. 

Acompanhe tudo sobre:Edição 168EntrevistasEsportesFórmula 1gestao-de-negociosMulheresMulheres executivas

Mais de Carreira

10 frases que você nunca deveria dizer no trabalho

Essa obra de arte feita com inteligência artificial foi vendida por R$ 2 milhões

Com salários de R$ 35 mil, essa é uma das profissões em alta para 2025; conheça

O benefício número 1 que mantém as pessoas felizes no trabalho, segundo executiva da Finlândia