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Um dilema feminino

Ao se tornarem mães, algumas mulheres param de trabalhar por um período. Na volta, o desafio de equilibrar carreira, finanças e maternidade

A administradora Claudia Neufeld, 35 anos, e Arthur: rede de contatos ativa para voltar ao mercado (Marcelo Spatafora / VOCÊ S/A)
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Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2013 às 18h12.

São Paulo - Atire a primeira pedra quem não sentiu um aperto no peito ao deixar o filho pela primeira vez na escola. Ou morreu de angústia ao entregar seu bebê aos cuidados de uma babá que acabou de conhecer para retornar ao trabalho. Mas não tem jeito, quando a maternidade chega é difícil evitar essa situação.

Também é complicado administrar o aumento repentino dos gastos com a família, que podem comprometer muito o orçamento doméstico. Só com escola, babá e transporte escolar, por exemplo, os pais gastam por mês com uma criança cerca de 3.000 reais, levando-se em conta os preços cobrados nas cidades de São Paulo e no Rio de Janeiro.

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Na ponta do lápis, algumas mulheres concluem que não vale a pena voltar a trabalhar, porque vão gastar tudo o que ganham apenas para bancar os cuidados com os filhos.

A decisão de interromper o trabalho tem um forte aspecto emocional. Por isso mesmo, a análise dos prós e contras não é uma conta exata. Se assim fosse, bastaria um cálculo simples: salário da mãe menos os gastos com a criança. Se a operação resultasse em um saldo negativo, seria fácil deduzir que a volta ao trabalho não compensaria.

“Às vezes, pode valer a pena gastar 100% do salário durante dois ou três anos pagando escolas e babás para o filho e ser recompensado financeiramente mais tarde com o avanço na carreira”, diz Luiz Jurandir Simões, consultor de investimentos pessoais da QTK Consultoria em Finanças, em São Paulo.

Segundo ele, o crescimento salarial normalmente se dá entre os 30 e 40 anos de idade. Portanto, assumir a maternidade em período integral, no fundo, deve misturar razão e emoção. E não é assim que funciona grande parte das escolhas que fazemos na vida?

Depois de analisar esses e vários outros pontos, algumas mulheres decidem colocar a carreira em banho-maria para cuidar de suas crias. Consultores especializados em gestão de carreira descartam que esse movimento esteja se transformando em uma tendência, mas ele tem ocorrido com certa frequência.


Embora deixar de trabalhar para tomar conta dos filhos seja uma decisão pessoal, ela precisa ser feita com planejamento para não prejudicar a carreira, a estabilidade financeira da família e o futuro profissional da mulher. Luiz Jurandir Simões recomenda que a mulher tenha uma conversa franca com o seu parceiro para definir algumas questões que certamente surgirão por causa dessa decisão.

Segundo ele, é preciso deixar claro que haverá uma nova realidade financeira para a família, definir qual vai ser o tempo de afastamento do trabalho e até a implantação de uma mesada para a mulher para que ela não se sinta dependente do marido.

“Dependência é extremamente desconfortável para qualquer pessoa”, diz Luiz. Segundo ele, há casais que fazem contratos financeiros pré-nupciais e que podem usar o mesmo modelo nesta situação. “Um acordo pré-maternidade pode ser uma boa opção.”

Momento certo

Não existe uma regra para definir a melhor hora para dar uma pausa no trabalho. Mas os consultores acreditam que costuma se sair melhor quem para no início da carreira ou quem já atingiu uma posição de destaque no mercado de trabalho.

“Quem está começando não tem muito a perder, quando voltar vai reiniciar de onde parou”, diz Carolina Wanderley, consultora sênior da Mercer, especializada em recursos humanos, em São Paulo. “O mesmo acontece com quem já tem uma carreira de sucesso. Quando voltar, tem grandes possibilidades de retornar por cima.”

Quem está no meio das duas pontas, porém, pode ter de pagar um pedágio na volta ao mercado. Carolina diz que provavelmente essa mulher pode ter de encarar um cargo inferior ao que exercia quando decidiu se dedicar exclusivamente à maternidade.


Outro aspecto para levar em conta é que ultimamente as mulheres têm se tornado mães cada vez mais tarde, por volta dos 35 anos, justamente para viver a maternidade com uma situação financeira mais sólida. “Nesses casos, é perfeitamente possível achar uma solução de equilíbrio entre trabalho e maternidade”, diz Carolina.

Um ponto a favor de quem escolhe o afastamento temporário do trabalho é o fato de as empresas estarem mais sensíveis às necessidades de seus funcionários. Isso significa que a pausa pode não prejudicar a carreira de uma executiva. “Não vejo preconceito por parte das empresas em relação às mulheres que se dedicam à maternidade por um tempo”, afirma Aline Cintra, consultora sênior da Korn Ferry, em São Paulo.

Segundo ela, a pausa na carreira está na moda entre executivos, sejam eles homens ou mulheres. É comum o executivo chegar a determinado momento da carreira e se dar conta de que não se dedicou suficientemente aos filhos, à família e a si mesmo. Diante disso, resolve dar um tempo do trabalho e decide recorrer a um período sabático, que dura de um ano a um ano e meio.

“Essa parada serve para, além de satisfazer a questão pessoal, repensar a carreira”, diz Aline. Para Renata Filippi Lindquist, sócia-diretora da consultoria Mariaca Intersearch, as perspectivas econômicas também devem ser levadas em conta na hora do afastamento. “Quem está retornando ao mercado agora terá mais facilidade para se recolocar em um novo emprego”, diz.

Maternidade planejada

Executiva do primeiro escalão da multinacional anglo-holandesa Unilever, Claudia Neufeld, 35 anos, é mãe de Arthur, de 1 ano e 8 meses. Sua intenção quando engravidou era voltar ao trabalho no final da licença-maternidade. Mas os planos mudaram. No retorno ao trabalho, depois da licença-maternidade, ela recebeu uma proposta para subir ainda mais na hierarquia da empresa, da qual era diretora de marketing.

Com a promoção, porém, ela sabia que as responsabilidades aumentariam e que teria de se afastar do filho por longos períodos. Não aceitou. “Teria de viajar muito, não conseguiria romper os laços que criei com o Arthur”, diz. Claudia cursou administração de empresas na Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV/SP) e começou como trainee na Unilever, onde ficou por 12 anos.


Depois do fim da licença-maternidade, ela prolongou por mais um ano seu afastamento do trabalho. Mas não ficou só entre fraldas e papinhas. “Planejei a minha vida financeira e também o que faria durante esse recesso”, conta Claudia. Nesse período em casa, fez projetos de consultoria independentes, manteve sua rede de contatos, almoçou com headhunters.

Tudo para facilitar a volta ao trabalho. Hoje, Claudia é diretora de marketing da Digipix, empresa nacional de soluções e serviços em fotografias digitais, em São Paulo. A renda caiu cerca de 20%, mas isso não é o que importa nesta fase de sua vida. Além do mais, ela tem um desafio pela frente.

“Na Unilever, dependia de muitos colaboradores para realizar o que queria. Agora, tenho a oportunidade de desenvolver um projeto com a minha cara.” Ela combinou com a empresa que vai trabalhar meio período nas sextas-feiras e sair duas vezes por semana às 6 da tarde. “Está tudo saindo como planejado”, diz.

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