Trabalho em jogo, segundo o filme Detona Ralph
O filme infantil Detona Ralph fala de significado do trabalho e mostra a trajetória do personagem que precisa se perder para se encontrar
Da Redação
Publicado em 4 de abril de 2013 às 20h14.
São Paulo - Nos últimos meses, dezenas de milhares de profissionais brasileiros levaram seus filhos, netos e sobrinhos aos cinemas para assistir ao filme Detona Ralph, lançamento infantil da Disney para a temporada de verão.
Apesar de destinado às crianças, a história traz uma temática adulta: o trabalho. Mais do que isso, aborda uma faceta contemporânea do tema — a insatisfação com a profissão.
O protagonista da animação, Detona Ralph, é um personagem de videogame que cansou de fazer o mesmo trabalho e de ser o vilão do fliperama. “É bom ter emprego fixo no jogo por 30 anos”, diz Ralph, que, ao mesmo tempo, fica triste por não receber nenhum reconhecimento por desempenhar bem seu papel.
No jogo em que trabalha, cujo nome é Conserta Felix Jr, Ralph é responsável por destruir um prédio para que Felix, o mocinho, remende.
Todos os personagens do jogo parabenizam Felix por isso, ele ganha medalhas e tem festas em sua homenagem. Mas ninguém elogia Ralph. Cansado do trabalho e da falta de reconhecimento, ele decide mudar e buscar sua própria medalha dourada em outros jogos.
“Quem nunca passou por isso?”, diz Eneida Reis, coordenadora do curso de orientação profissional e carreira do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo.
Para ela, é no momento do que chama de “revolta generalizada” que se consegue refletir sobre a própria trajetória e dar valor ao que se faz. Durante a aventura, Ralph descobre que é bom na tarefa de “detonar” e entende a importância da sua função para manter o equilíbrio do jogo. Veja como o filme trata a questão profissional.
Nascemos programados?
O senso comum diz que nos formamos para exercer uma profissão e devemos segui-la pelo resto da vida. No filme, os personagens debatem essa programação. “Não podemos mudar quem somos”, diz Ralph na reunião do grupo de apoio aos vilões anônimos. Ele quer ignorar sua função de detonador para ganhar uma medalha de ouro como herói em outro jogo, executando outra tarefa.
Mas descobre que seu talento é mesmo detonar e aceita a atividade “para a qual nasceu”. “Na vida real, não nascemos programados, no entanto, às vezes queremos acreditar que sim. Facilita o dia a dia e dá um pouco mais de sentido a tudo”, afirma Eneida Reis.
Obviamente, no mundo real as pessoas são mais complexas e desenvolvem inúmeras competências e valores ao longo da vida. “Por isso, podemos mudar sem deixar de ser quem somos”, diz João Mendes, coaching e consultor de carreira da Vicky Bloch Associados, de São Paulo. Após tentar se reprogramar sem sucesso, Ralph dá outro significado ao trabalho e passa a vê-lo de maneira diferente.
Para Eneida, isso demonstra que parte da construção de uma carreira é perceber-se em um cenário de instabilidade, que traz uma nova visão sobre o que se faz. “Às vezes, é preciso olhar para trás e também olhar para si. Dessa maneira, Ralph começa a refletir sobre sua trajetória ocupacional e a construir uma identidade”, diz.
Prazer no trabalho
O filme também trata da repetição de uma mesma tarefa por muito tempo. Despedaçar um prédio inteiro parece divertido no videogame, mas imagine executar somente essa tarefa, ou qualquer outra, por 30 anos de sua vida. Ralph já não tem prazer nenhum no quebra-quebra e deixa o jogo para trás, como muitas pessoas fazem ou gostariam de fazer com o trabalho.
Porém, sem ele a missão dos outros personagens perde o sentido. Perceber o próprio valor faz com que a pessoa passe a amar o que faz e permite aproveitar melhor os momentos em que não está trabalhando. “Há uma falácia de que temos de estar felizes o tempo todo”, diz Eneida Reis.
Ela defende que é necessário desconstruir para reconstruir. “Para ter uma carreira em que sejamos felizes, temos mesmo que repensar os caminhos.” Constatar a importância da função individual na sociedade é outra fonte de realização.
Mas ninguém faz o que gosta o tempo todo. Nessas horas, é importante ter clareza quanto aos futuros objetivos e entender que é um momento. “Para mudar de ciclo é necessário fazer escolhas baseadas no autoconhecimento”, diz João Mendes. “Mas nenhum trabalho será só bom.”
Medalha de ouro
“É difícil amar o trabalho quando ninguém parece gostar de você por fazê-lo”, diz Ralph. Para muitas pessoas, é o reconhecimento que garante valor a seus empregos. Quando a tarefa de Ralph passa a ser vista por ele e pelos outros com a importância que ela realmente tem, ele ganha reconhecimento e até a medalha dourada que tanto queria.
Se um profissional está infeliz, tem uma grande capacidade de reconhecer as não realizações. Nesses momentos, a orientação profissional ganha o papel de um instrumento de apoio ao projeto pessoal de carreira, de acordo com Eneida Reis. “Às vezes, ter uma pane é necessário para conseguir olhar para si”, diz. Isso obriga a parar, olhar para trás e reconhecer o trabalho.
É o momento de pensar no caminho que faz sentido. Mas, se a ponderação e o autoconhecimento forem constantes, você não precisará passar por uma situação assim. “Quando reconhecemos a nós mesmos, os outros também nos reconhecem”, diz Eneida. “Por isso, Ralph se deu a medalha. Ele não precisou receber para tê-la.”
São Paulo - Nos últimos meses, dezenas de milhares de profissionais brasileiros levaram seus filhos, netos e sobrinhos aos cinemas para assistir ao filme Detona Ralph, lançamento infantil da Disney para a temporada de verão.
Apesar de destinado às crianças, a história traz uma temática adulta: o trabalho. Mais do que isso, aborda uma faceta contemporânea do tema — a insatisfação com a profissão.
O protagonista da animação, Detona Ralph, é um personagem de videogame que cansou de fazer o mesmo trabalho e de ser o vilão do fliperama. “É bom ter emprego fixo no jogo por 30 anos”, diz Ralph, que, ao mesmo tempo, fica triste por não receber nenhum reconhecimento por desempenhar bem seu papel.
No jogo em que trabalha, cujo nome é Conserta Felix Jr, Ralph é responsável por destruir um prédio para que Felix, o mocinho, remende.
Todos os personagens do jogo parabenizam Felix por isso, ele ganha medalhas e tem festas em sua homenagem. Mas ninguém elogia Ralph. Cansado do trabalho e da falta de reconhecimento, ele decide mudar e buscar sua própria medalha dourada em outros jogos.
“Quem nunca passou por isso?”, diz Eneida Reis, coordenadora do curso de orientação profissional e carreira do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo.
Para ela, é no momento do que chama de “revolta generalizada” que se consegue refletir sobre a própria trajetória e dar valor ao que se faz. Durante a aventura, Ralph descobre que é bom na tarefa de “detonar” e entende a importância da sua função para manter o equilíbrio do jogo. Veja como o filme trata a questão profissional.
Nascemos programados?
O senso comum diz que nos formamos para exercer uma profissão e devemos segui-la pelo resto da vida. No filme, os personagens debatem essa programação. “Não podemos mudar quem somos”, diz Ralph na reunião do grupo de apoio aos vilões anônimos. Ele quer ignorar sua função de detonador para ganhar uma medalha de ouro como herói em outro jogo, executando outra tarefa.
Mas descobre que seu talento é mesmo detonar e aceita a atividade “para a qual nasceu”. “Na vida real, não nascemos programados, no entanto, às vezes queremos acreditar que sim. Facilita o dia a dia e dá um pouco mais de sentido a tudo”, afirma Eneida Reis.
Obviamente, no mundo real as pessoas são mais complexas e desenvolvem inúmeras competências e valores ao longo da vida. “Por isso, podemos mudar sem deixar de ser quem somos”, diz João Mendes, coaching e consultor de carreira da Vicky Bloch Associados, de São Paulo. Após tentar se reprogramar sem sucesso, Ralph dá outro significado ao trabalho e passa a vê-lo de maneira diferente.
Para Eneida, isso demonstra que parte da construção de uma carreira é perceber-se em um cenário de instabilidade, que traz uma nova visão sobre o que se faz. “Às vezes, é preciso olhar para trás e também olhar para si. Dessa maneira, Ralph começa a refletir sobre sua trajetória ocupacional e a construir uma identidade”, diz.
Prazer no trabalho
O filme também trata da repetição de uma mesma tarefa por muito tempo. Despedaçar um prédio inteiro parece divertido no videogame, mas imagine executar somente essa tarefa, ou qualquer outra, por 30 anos de sua vida. Ralph já não tem prazer nenhum no quebra-quebra e deixa o jogo para trás, como muitas pessoas fazem ou gostariam de fazer com o trabalho.
Porém, sem ele a missão dos outros personagens perde o sentido. Perceber o próprio valor faz com que a pessoa passe a amar o que faz e permite aproveitar melhor os momentos em que não está trabalhando. “Há uma falácia de que temos de estar felizes o tempo todo”, diz Eneida Reis.
Ela defende que é necessário desconstruir para reconstruir. “Para ter uma carreira em que sejamos felizes, temos mesmo que repensar os caminhos.” Constatar a importância da função individual na sociedade é outra fonte de realização.
Mas ninguém faz o que gosta o tempo todo. Nessas horas, é importante ter clareza quanto aos futuros objetivos e entender que é um momento. “Para mudar de ciclo é necessário fazer escolhas baseadas no autoconhecimento”, diz João Mendes. “Mas nenhum trabalho será só bom.”
Medalha de ouro
“É difícil amar o trabalho quando ninguém parece gostar de você por fazê-lo”, diz Ralph. Para muitas pessoas, é o reconhecimento que garante valor a seus empregos. Quando a tarefa de Ralph passa a ser vista por ele e pelos outros com a importância que ela realmente tem, ele ganha reconhecimento e até a medalha dourada que tanto queria.
Se um profissional está infeliz, tem uma grande capacidade de reconhecer as não realizações. Nesses momentos, a orientação profissional ganha o papel de um instrumento de apoio ao projeto pessoal de carreira, de acordo com Eneida Reis. “Às vezes, ter uma pane é necessário para conseguir olhar para si”, diz. Isso obriga a parar, olhar para trás e reconhecer o trabalho.
É o momento de pensar no caminho que faz sentido. Mas, se a ponderação e o autoconhecimento forem constantes, você não precisará passar por uma situação assim. “Quando reconhecemos a nós mesmos, os outros também nos reconhecem”, diz Eneida. “Por isso, Ralph se deu a medalha. Ele não precisou receber para tê-la.”