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Sorria, você está sendo vigiado por sua empresa

Entenda como as empresas fazem para investigar a vida de seus funcionários e o que você pode fazer para reduzir a bisbilhotice corporativa


	O presidente americano, Barack Obama:ele foi acusado de invadir a privacidade de cidadãos americanos
 (Brendan Smialowski/AFP)

O presidente americano, Barack Obama:ele foi acusado de invadir a privacidade de cidadãos americanos (Brendan Smialowski/AFP)

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Da Redação

Publicado em 13 de agosto de 2013 às 15h45.

São Paulo - Em junho, Edward Snowden, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, a NSA, revelou que o governo americano vigia seus cidadãos e criou o maior escândalo do governo do presidente Barack Obama, que está sendo acusado de invasão de privacidade.

Segundo a denúncia, a NSA recebe diariamente documentos com todas as ligações telefônicas dos clientes da maior operadora de celular do país e mais e-mails, arquivos e perfis de redes sociais de milhares de cidadãos. Nos últimos seis meses, Microsoft, Facebook e Yahoo! receberam das autoridades americanas mais de 61.000 pedidos de fornecimento de dados de usuá­rios. A NSA alegou preocupação com possíveis ataques terroristas, mas a notícia incomodou a opinião pública mundial.

Em julho, novas informações revelaram que cidadãos e empresas brasileiras também foram rastreados pelo governo americano. Se você já sente que sua privacidade foi invadida, aí vai uma má notícia: seu patrão também espiona o que você faz. A bisbilhotice corporativa é feita por câmeras instaladas no escritório, monitoramento de e-mails, redes sociais, ligações telefônicas, cartões de alimentação e combustível e plano de saúde.

A vigilância deve aumentar. A lei anticorrupção, aprovada pelo Senado em julho e à espera de sanção da presidente Dilma Rousseff, permitirá a punição severa de empresas que corrompam funcionários públicos. "As empresas devem ficar mais atentas às atividades de seus funcionários", diz Felipe Faria, advogado da área de anticorrupção do KLA-Koury Lopes Advogados, de São Paulo.

O presidente de uma indústria com 400 empregados, de São Paulo, acessa remotamente o computador dos 45 profissionais que trabalham no escritório. De seu celular, o executivo vê o que seus funcionários estão falando em programas de comunicação instantânea, como Skype, o que estão acessando e no que estão trabalhando.

Tudo isso sem que percebam. Ele acessa o mesmo programa usado para dar suporte técnico a computadores a distância, que permite ver o que se passa na tela do usuário. "Se eu descuido, eles ficam o dia todo nas redes sociais", diz o presidente.


"Agora sei quem trabalha e quem está brincando." A empresa deixa claro no contrato que a internet é de uso exclusivo para o trabalho. "Não fico o tempo todo olhando, mas o simples fato de os funcionários saberem que são vigiados faz com que eles pensem duas vezes antes de exagerar", afirma o empresário.

Qual é o limite da vigilância? Até que ponto, em razão de um risco real, como fraudes ou baixa produtividade, a privacidade de um profissional pode ser invadida?

"Existe uma ilusão por parte das empresas de que é possível domar uma pessoa e manobrá-la, mas isso é impossível", diz o economista e filósofo Jean Bartoli, de São Paulo. "Ao invadir a privacidade porque desconfia um pouco de todo mundo, a empresa faz com que o empregado também perca a confiança no patrão, o que obviamente prejudica a relação entre as duas partes."

Por sorte, apesar de bisbilhoteiras, as empresas ainda são muito incompetentes em fazer cruzamento de informações. Com exceção das investigações de fraude e roubo, os outros dados são pouco usados. No caso do benefício de alimentação, por exemplo, as informações normalmente são aproveitadas para criar vantagens para os funcionários, como descontos e promoções.

"Há muita informação disponível que poderia ser aproveitada para um controle maior", diz Jucila Gosling, da consultoria Towers Watson. "As informações são utilizadas para decisões pontuais, mas não são conectadas." Isso não significa que você deve baixar a guarda.

Afinal, a empresa tem tudo o que precisa para vigiar o que você está fazendo. Saiba, nas próximas páginas, como sua vida é monitorada sem que você note.

Como elas vigiam

Saiba o que as empresas fazem para ficar de olho em você

Sua rotina

No Brasil, segundo pesquisa da consultoria ICTS com 3 211 brasileiros, 50% dos profissionais tendem a adotar atalhos antiéticos para atingir suas metas. "Na busca de resultados, há funcionários capazes de qualquer coisa", diz Renato Santos, gerente da ICTS e responsável pela pesquisa.


"O empregado criminoso forja planilhas de resultados, furta ideias de colegas e paga subornos." As companhias sabem dessas manobras, ficam de olho e usam todo o aparato tecnológico disponível para investigar os suspeitos. Além de rastrear o e-mail e os sistemas que o funcionário usa, elas contratam empresas de investigação.

Uma das técnicas usadas é infiltrar investigadores como se fossem empregados. Esses especialistas são apresentados como auditores ou consultores e instalam-se no setor, trabalhando em seus projetos (igualmente falsos). A tarefa, na verdade, é observar tudo
o que aquela equipe e os suspeitos fazem.

Os infiltrados também entrevistam vários funcionários ligados ao suspeito, sempre em segredo e com o tom de como se fosse uma auditoria. Em casos mais complicados, empregados são treinados para assumir o papel de investigadores.

Se você não tem nada a dever, não tem por que temer. Mas, caso você tenha alguma culpa, cuidado, a empresa pode estar de olho em você.

Roupa e carro

As empresas observam sinais de alerta.Se um funcionário recebe um salário baixo e anda com roupas de grife, tem carro de luxo
e nas férias viaja para hotéis caros, a companhia pode desconfiar de que a conta não bate com a remuneração. Em casos mais graves, os investigadores chegam a tirar fotos da mesa, abrir as gavetas do escritório e seguir o executivo.

"Existem casos em que a empresa grampeia o telefone do funcionário sem que ele saiba, embora isso não seja permitido por lei", diz um investigador. Em companhias americanas essas diretrizes são mais rígidas, pois nos Estados Unidos existe uma lei anticorrupção corporativa. Em multinacionais, o discurso de adequação às regras é mais intenso.

No Brasil não há uma lei dedicada ao assunto. Mas convém recusar brindes, convites e outros agrados que o salário não cobriria. Caso já tenha recebido presentesfora da regra da empresa, não aceite mais. Estar longe das suspeitas é a melhor maneira de não entrar no radar das investigações à toa.

Antecedentes criminais

Checar antecedentes criminais no ato da contratação é uma prática comum. Empresas também consultam órgãos como SPC e Serasa, para saber se o profissional tem dívidas que possam afetar a produtividade, e conversam com antigos colegas de trabalho e chefes para entender como ele é no dia a dia.

Para cargos de responsabilidade, existem testes de integridade, que são colocados no meio do processo de seleção. A Global Advising, de Israel, já aplicou mais de 10.000 verificações desse tipo no Brasil. A prova tem 80 perguntas e, durante o processo, se houver contradições, mais perguntas aparecem — elas podem chegar a 200.


"Analisamos se a pessoa usa drogas, se tem dívidas, se tende a fazer espionagem industrial ou a roubar", diz Ronen Ben Efraim, representante da Global Advising no Brasil. O sistema foi desenvolvido por um departamento de investigação do governo de Israel. Das pessoas que fizeram o teste, 7% foram reprovadas. Se você aprontou ou tem culpa no cartório, cuidado.

É melhor sair do processo seletivo e não aprontar mais até o próximo. Ou, caso decida ir em frente, conte a verdade se for indagado sobre sua situação fiscal ou criminal.

Rastro digital

Segundo a consultoria ICTS, um terço dos profissionais brasileiros tende a utilizar informações confidenciais para proveito próprio ou de terceiros. Essa é uma grande preocupação das empresas, que evitam que projetos sigilosos caiam nas mãos da concorrência. “A dúvida que paira é se as informações foram roubadas ou se saíram pelas mãos de alguém de dentro”, afirma

André Gargaro, sócio da área de gestão de riscos empresariais da consultoria Deloitte. Outra preocupação é com vírus e programas de computador que possam destruir documentos e informações importantes. “Essas ameaças dão respaldo para a corporação monitorar os computadores de funcionários.

Na realidade, são patrimônio dela”, diz Eljo Aragão, diretor-geral da Kaspersky Lab no Brasil, que produz softwares de segurança. Na surdina, uma grande incorporadora com sede em São Paulo monitora tudo o que seus 5 000 funcionários postam nas redes sociais. O interesse é assegurar que nenhuma informação importante vaze — acidental ou intencionalmente.

Essa é a estratégia de várias companhias que, além das redes sociais, vigiam o que os funcionários escrevem em e-mails e documentos que enviam. Normalmente elas verificam por meio de software alguns termos específicos e palavras-chave selecionadas.

Se uma pessoa é suspeita, todos os e-mails dela passam a ser vigiados. Para escapar desse clima de Big Brother, não use o computador da empresa para assuntos pessoais. Assim, ela não tem como acessar suas informações. Tome cuidado com o que publica nas redes sociais.

Direto no mapa

Se você usa celular ou computador da empresa e trabalha fora do escritório, seu chefe pode bisbilhotar por onde você anda. Basta que exista um programa de rastreamento por GPS instalado no aparelho. O sistema é semelhante aos aplicativos que rastreiam celulares roubados. 


Se você fica muitas horas fora da empresa, visitando clientes, por exemplo, evite mentir sobre onde você está quando o chefe, em uma ligação, perguntar. Talvez ele saiba exatamente em que ponto da cidade você se encontra.

Se não quiser que a empresa controle sua rota, desligue o celular corporativo e use o pessoal, que não tem como ser controlado. Caso o encontro seja imprescindível, desligue o celular e o computador da empresa.

Comida rastreada

A área de recursos humanos das empresas consegue saber como os funcionários usam os cartões com benefícios de refeição e alimentação.

Além dos valores e das datas, é possível rastrear em quais restaurantes e supermercados os cartões foram usados. Normalmente são analisados os dados de grupos de funcionários para criar vantagens, como pedir descontos a estabelecimentos muito frequentados, mas é possível extrair extratos individuais.

"A empresa tem o direito de saber como o empregado usa o benefício", diz Julio Zancope, gerente de marketing e desenvolvimento de produtos da Ticket, que fornece cartões de alimentação para 57.000 companhias no Brasil, que juntas somam 5 milhões de usuários.

Os dados também são checados para coibir fraudes. "Temos um valor de utilização diária que limita o quanto o funcionário pode gastar, justamente para não permitir que ele use tudo em um dia só ou troque por dinheiro." A dica é evitar pequenos golpes.

Saúde vigiada

As empresas não conseguem saber quais doenças você tem, afinal isso fica restrito ao conhecimento do médico. Mas, se quiserem, podem saber onde você usou seu plano de saúde. Como é ela que paga a conta do convênio, tem acesso a quais procedimentos foram feitos e a quanto foi gasto. Outra forma de saber sobre sua saúde são os check-ups patrocinados pela empresa.

Por meio deles, as companhias recebem um relatório sobre a saúde do profissional. Uma terceira fonte de informações é o auxílio-farmácia. "Sabemos onde a pessoa usou e o que comprou", diz Marcos Breda, diretor comercial da ePharma, especializada em planos farmacêuticos corporativos. "Conseguimos identificar as doenças mais comuns dentro de uma empresa."

Por lei, é proibido demitir o portador de doença crônica. Mesmo assim, é preciso atenção. Embora seja um assunto delicado, o gasto com saúde é o segundo maior depois da folha de pagamento. As companhias registram os abusos, como frequência excessiva em consultas ou compra exacerbada de medicamentos. Para não entrar no radar do departamento de recursos humanos, use o plano com seriedade. 

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