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Sequestros de CEOs alimentam luta para esconder salários

Empresas como Embraer, Itaú Unibanco e Vale não divulgam o pagamento de seus funcionários do alto escalão


	Abilio Diniz: acionistas que defendem manter valores em segredo citam o caso do diretor do conselho da BRF SA, Abilio Diniz, que foi mantido refém por três dias em 1989
 (Exame)

Abilio Diniz: acionistas que defendem manter valores em segredo citam o caso do diretor do conselho da BRF SA, Abilio Diniz, que foi mantido refém por três dias em 1989 (Exame)

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Da Redação

Publicado em 15 de abril de 2014 às 16h00.

São Paulo - Os CEOs brasileiros estão lutando para manter seus salários em segredo.

Empresas como Embraer SA, Itaú Unibanco Holding SA e Vale SA, que possuem recibos de depósitos dos EUA, não divulgam o pagamento de seus funcionários do alto escalão, contrariando as normas internacionais de países como os EUA e o Reino Unido.

Quatro anos depois que os reguladores da CMV exigiram a divulgação de detalhes dos pagamentos, mais de um terço das empresas brasileiras mais operadas estão se recusando a cumprir, enquanto uma ação judicial contra a decisão está em andamento.

Os acionistas dizem que a informação assegura que os CEOs não se concedam salários excessivos em detrimento dos investidores e as corporações dizem que a regra viola a privacidade dos gestores e coloca-os em risco de sequestro.

Elas citam o caso do diretor do conselho da BRF SA, Abilio Diniz, que foi mantido refém por três dias em 1989, e a escapada dos três filhos do bilionário Jorge Paulo Lemann ante uma tentativa de sequestro quando estavam a caminho do colégio, em 1999.

“Aqui no Brasil, se você falar o que ganha, você é um idiota, um irresponsável, ou você é exibido, mesmo assim de uma forma muito agressiva”, disse José Roberto de Castro Neves, o advogado que apresentou um mandato em 2010 contra a decisão da CMV em nome do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Rio de Janeiro.

“A gente sabe de histórias de executivos que foram obrigados a mudar a vida deles. Lá no subúrbio nos EUA, onde nem sequer tem muro nas casas deles. Aqui, a gente vive no carro blindado, num outro ambiente”.

Ação judicial corporativa

Sua empresa – Ferro, Castro Neves, Daltro Gomide – foi ao tribunal para argumentar que as empresas devem reter as informações salariais. O caso continua em litígio em uma corte federal do Rio de Janeiro.


“Independentemente do quão evoluídos e sofisticados alguns dos grupos criminosos no Brasil possam ser, duvido muito que os sequestradores estejam lendo declarações de representação”, disse Cristiano Guerra, diretor de pesquisas da América Latina e dos EUA da empresa de consultoria de procuração Institutional Shareholder Services Inc.

Para os investidores minoritários “a remuneração é a próxima pauta de discussão que eles vão começar a exigir das empresas”.

Embora muitas empresas, como a Embraer, divulguem o pagamento combinado de seus executivos e membros do conselho, elas se opõem à regra de 2010 que exige que as corporações também divulguem o valor mais alto, o médio e o mais baixo que pagam em salário a esses funcionários.

Os salários individuais, os benefícios acionários e os incentivos no longo prazo não precisam ser divulgados.

Apesar de os sequestros ainda aparecerem como uma preocupação entre os brasileiros ricos, os incidentes diminuíram nos últimos anos.

No estado de São Paulo, o mais rico do País, responsável por um terço do PIB, nove pessoas foram sequestradas no quarto trimestre de 2013, de acordo com a Secretaria de Segurança do Estado. Esse valor se compara com 127 pessoas no mesmo período de 2001.

As empresas que desconsideraram as regras da CVM tendem a ser menos lucrativas, de acordo com um relatório acadêmico de 2013 dirigido por Alexandre Di Miceli da Silveira, professor de governança corporativa da Universidade de São Paulo.

Os preços das ações em empresas que não cumprem as regras caíram no dia em que elas anunciaram que não dariam detalhes completos, de acordo com o relatório.

As corporações têm a responsabilidade de informar os salários porque os acionistas precisam conhecer a estrutura de incentivos daqueles que estão usando o dinheiro deles, disse Mauro Cunha, presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais, com sede em São Paulo.

“Você precisa de informações relativamente detalhadas, que contenham, por exemplo, uma noção da ordem de magnitude do que um bônus pode ser, do que um stock option pode valer”, disse Cunha.

“Se uma empresa não quer divulgar essas estruturas, se ela acha que a informação é preciosa demais, não tem o menor problema. Basta que ela não emita ações no mercado”.

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