Carreira

Agora tem sabático em início de carreira

Até pouco tempo, a pausa na carreira era privilégio de altos executivos. Hoje, mais jovens profissionais pedem demissão em busca de uma vida diferente e de experiências fora de casa

Da esquerda para a direita, Leonardo Libório, Gustavo Gracitelli, Gabriel Ribeiro, André Rezende e Bruno Maranhão: viagem de caminhonete em busca de experiência de vida (Fabiano Accorsi/EXAME.com)

Da esquerda para a direita, Leonardo Libório, Gustavo Gracitelli, Gabriel Ribeiro, André Rezende e Bruno Maranhão: viagem de caminhonete em busca de experiência de vida (Fabiano Accorsi/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 19 de março de 2013 às 13h55.

São Paulo - Aos 23 anos, o franco-suíço Le Corbusier (1887-1965), pai da arquitetura moderna, fez uma viagem de Berlim, na Alemanha, até Istambul, na Turquia, com um amigo. A empreitada, que durou seis meses, tinha uma intenção: conhecer novas paisagens e formas de viver.

O relato dessa jornada está no livro A Viagem do Oriente (Editora Cosac Naify). Nele, Le Corbusier conta como a experiência o ajudou a definir um estilo, que revolucionou a maneira como arquitetos do mundo inteiro pensam construções e cidades. Viajar em busca de inspiração, como fez Le Corbusier há 102 anos, é uma espécie de pausa no trabalho que cada vez mais jovens profissionais têm feito hoje em dia.  

Até bem pouco tempo essa interrupção na trajetória profissional, o chamado ano sabático, era feita por gente mais experiente, quase sempre bem resolvida financeiramente, a fim de relaxar ou aprender algo novo fora do ambiente corporativo. Atualmente, as pessoas de classe A e B em início de carreira têm recorrido ao sabático. Elas partem em busca de experiência de vida fora de casa.

“Os jovens não querem abrir mão de realização profissional, mas também não querem deixar de ter uma vida plena”, diz Danilca Galdini, sócia-diretora da NextView, empresa de pesquisas com sede em São Paulo, que faz o levantamento anual Empresa dos Sonhos dos Executivos.

A turma que faz um sabático acumula algum dinheiro enquanto está na ativa — muitos jovens vivem com os pais, o que permite acumular dinheiro rapidamente, ou são casados, o que faz com que os aportes sejam dobrados. “Na volta, dificilmente ficarão desempregados, pois o mercado deve continuar aquecido”, diz Fred Morais, da STB, agência de turismo especializada em educação no exterior. Mesmo diante das projeções mais conservadoras de crescimento econômico, por volta de 3% para 2012, as empresas vão continuar demandando profissionais.

No Brasil, porém, tirar um sabático ainda não pega bem no mercado. Segundo uma pesquisa da consultoria de recrutamento Robert Ralf, de São Paulo, feita com 900 executivos, um profissional que sai para um sabático é visto pelos colegas como alguém sem comprometimento. Os empregadores também não apoiam esse tipo de iniciativa: 73,5% das empresas declaram não oferecer políticas para o funcionários sair temporariamente. O jeito é pedir demissão e pegar a estrada. 

Qual é o seu projeto?

Uma característica do sabático é o fato de conter um projeto pessoal organizado, com começo, meio e fim. Se antes era comum fazer uma viagem de estudos ou de lazer, agora os profissionais se dedicam a um projeto de vida — pode ser fotografia ou uma causa humanitária. Normalmente, a intenção é ter uma experiência diferente, não relacionada à profissão.

“O importante é que exista uma conexão forte com o projeto, que permita à pessoa dedicar-se a ele com energia”, diz o francês Sylvain Darnil, de 32 anos, gerente de marketing da Nestlé, em São Paulo, que, quando tinha 23 anos, viajou durante 14 meses com um amigo por 38 países para entrevistar gente que estava mudando o mundo, entre eles o banqueiro indiano Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz em 2006. 

Quanto mais ambicioso for o projeto, mais planejamento vai requerer, desde as despesas com comida e hospedagem (veja quadro Antes de Partir) até a maneira como registrar a experiência que adquiriu na jornada — um blog, por exemplo. Lembre-se: não é o destino final, mas sim o trajeto percorrido durante a viagem que fornece a sabedoria.

No último capítulo de seu livro, Le Corbusier confessa não ter respostas para as perguntas que anotou no diário de viagem. Mas os prédios turcos e praças gregas que conheceu estão presentes em cada projeto que saiu de sua prancheta ao longo da vida. 

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