Carreira

Rio de Janeiro: crescimento e empregos

Investimentos bilionários na exploração do pré-sal, obras de infraestrutura, grandes eventos esportivos e os melhores salários da indústria criativa brasileira estão no Rio. Confira nas próximas 10 páginas onde estão as melhores oportunidades de trabalho

Passeio no bondinho: líder em turismo de lazer, o Rio quer crescer no turismo de negócios (Rubens Chaves/Pulsar)

Passeio no bondinho: líder em turismo de lazer, o Rio quer crescer no turismo de negócios (Rubens Chaves/Pulsar)

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Da Redação

Publicado em 11 de junho de 2014 às 13h31.

São Paulo - Quem chega ao estado do Rio de Janeiro pode ter a impressão de ter desembarcado num enorme canteiro de obras. Na capital, alguns dos principais trabalhos em andamento são a Linha 4 do metrô – que vai percorrer 16 quilômetros, cortando cinco bairros – e a revitalização da zona portuária, um investimento que totaliza 16 bilhões de reais.

Nos arredores do Rio, as máquinas trabalham para concluir o Arco Metropolitano, uma obra de 1,6 bilhão de reais que vai interligar quatro rodovias federais para transformar a Baixada Fluminense em um corredor logístico para dezenas de empresas localizadas na região, reduzindo em até 20% o custo do transporte de cargas no estado e facilitando o acesso ao porto de Itaguaí.

No leste fluminense, os olhares se concentram no Complexo Petroquímico de Itaboraí (Comperj), um complexo industrial de 26 bilhões de reais onde serão produzidos derivados de petróleo e produtos petroquímicos, com inauguração programada para 2016.

Tantas obras si­­mul­tâneas dão a medida da quantidade de investimentos que o Rio de Janeiro tem recebido e do grau de dinamismo da economia local. Isso sem falar da grande estrela da economia do estado: o pré-sal, cujo início das operações está previsto para 2015 ou 2016.

Estimativas do governo estadual calculam em 700 bilhões de dólares o potencial dos negócios criados ao redor dessas reservas de petróleo.

Como se não bastasse, a escolha do Rio de Janeiro para sediar grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo, neste ano, e a Olimpíada de 2016, atrai recursos para projetos de hotelaria e gastronomia, com a inauguração de uma série de estabelecimentos relacionados ao turismo.

A imensa maioria dos projetos e das obras em curso tem conclusão prevista para 2016, o que significa um mercado de trabalho aquecido pelos próximos três anos.

O resultado de tantos recursos aplicados ao mesmo tempo é que o Rio ficou com a vice-liderança na geração de empregos formais no Brasil em 2013, segundo o Ministério do Trabalho, com 100 808 postos criados, atrás apenas de São Paulo, que abriu 267 812 vagas no período. A região metropolitana do Rio de Janeiro concentrou a maior parte das vagas abertas: 72 827.

Acima da média

As boas notícias vão além. A melhor delas, segundo Julio Bueno, secretário de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços no estado, é que a remuneração para essas novas vagas é superior à do restante do país.

“O Rio se diferencia do Brasil porque aumenta os postos de trabalho qualificados”, diz. Prova disso é que o Rio de Janeiro ocupa a segunda posição no ranking dos estados com melhores salários, segundo o site de empregos Catho. No Rio de Janeiro, a remuneração média é de 2 626 reais, ante 2 497 reais da média nacional.

Boa parte da explicação para esse quadro vem das vagas geradas pelo setor de óleo e gás, pela indústria automotiva e pela economia criativa (veja reportagens nas próximas páginas). Os setores de comércio e serviços também entram em destaque neste ano, em razão do cronograma de fechamento de negócios para a Olimpíada.

“Para quem quer vender e trabalhar na Olimpíada, o ano é este. Cerca de 80% dos contratos para o evento serão fechados em 2014”, afirma Cezar Vasquez, diretor superintendente do Sebrae-RJ.

Oportunidades em alta em óleo e gás

O setor de óleo e gás é um dos mais promissores no Rio de Janeiro. Apesar do endividamento da Petrobras e da crise no grupo EBX, do empresário Eike Batista, que deixou muitos profissionais sem emprego em 2013, ninguém duvida do potencial desse setor, que reúne oportunidades de trabalho bem remuneradas, tecnologia de ponta e os investimentos mais vultosos.

Para Julio Bueno, secretário estadual de Desenvolvimento, até mesmo os grandes eventos esportivos que o Rio vai sediar têm pouca representatividade diante do segmento de energia. “A Olimpíada deverá movimentar 16 bilhões de dólares no estado.

O setor de petróleo tem previsão de investimentos de 55 bilhões de dólares por ano até 2035 em todo o país, sendo que 80% disso — cerca de 44 bilhões de dólares — virá para o Rio”, diz ele.

Para fazer face a esse crescimento, será necessário contratar profissionais com alto grau de qualificação. “Os cargos com maior demanda são gerente de operação, com base na capital, gerente administrativo-financeiro, em Macaé, e gerente de operação logística”, afirma Raphael Falcão, gerente da consultoria de recrutamento Hays no Rio de Janeiro.

Por isso, os profissionais que foram dispensados no ano passado devem ser reabsorvidos pelo mercado. Um dos celeiros dessa mão de obra é o parque tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que tem como objetivo estimular a relação entre a comunidade acadêmica e as empresas.

“O ambiente de inovação garante às empresas instaladas aqui o acesso a profissionais altamente qualificados, a laboratórios de ponta e a novas oportunidades de negócios e de pesquisas”, diz o diretor executivo do parque, Maurício Guedes.

O espaço vem sendo escolhido para receber uma série de empresas relacionadas ao setor de óleo e gás, como a americana Halliburton, a francesa Schlumberger e a British Gas, que se instalará no local no ano que vem. Só neste ano o parque tecnológico receberá investimentos privados que totalizam 1 bilhão de reais.

“Não somos um parque só para petróleo, mas um parque bem-sucedido tem de ter afinidade com as vocações econômicas da região”, diz Maurício.

O setor de óleo e gás também estimula startups de prestação de serviços especializados. Um dos epicentros dessa atividade em­preen­dedora é a incubadora da Cop­pe/UFRJ, que ajudou a lançar 70 empresas, movimentando 222 milhões de reais. Um bom exemplo é a Oil Finder, criada há dois anos e meio.

Especializada em soluções para avaliar o potencial de extração de petróleo, a startup é fornecedora da Petrobras e busca clientes no exterior. Uma das sócias, a cientista da computação Cíntia Soares, atribui à incubadora boa parte do sucesso do negócio. “Tivemos apoio jurídico, de mar­keting e facilitação de contatos com empresas. A história seria diferente se não estivéssemos aqui”, diz ela.

Consumo das favelas empurra o comércio

No comércio, o segundo setor que mais gera empregos no Rio de Janeiro, com mais de 500 000 pessoas trabalhando na área em 2013, dois movimentos podem ser observados.

De um lado, o crescente afluxo de turistas e os eventos esportivos atraem a atenção de grandes marcas estrangeiras que se instalam na capital fluminense, como Apple, que desembarcou no Rio em fevereiro; Michael Kors, que inaugurou uma loja na cidade no ano passado; e Sephora, que chegou em 2012.

Do outro, as grandes redes varejistas ampliam seu faturamento com a ascensão econômica da nova classe C, que tem nas favelas cariocas um mercado de 1,7 milhão de pessoas, responsáveis por movimentar 13 bilhões de reais do total de 38,6 bilhões gastos pelos moradores das comunidades em todo o país, segundo estudo do instituto de pesquisas Data Favela.

O aumento do poder aquisitivo nas comunidades impulsiona a expansão de redes como Ricardo Eletro e Casas Bahia, que já estão presentes em comunidades como Rocinha (zona sul do Rio) e Rio das Pedras (zona oeste) e figuram entre os principais contratantes do setor no estado.

A demanda por mão de obra no comércio é grande — a previsão da Confederação Nacional do Comércio (CNC) é que 32 400 vagas sejam abertas só neste ano —, mas até nesse setor, conhecido por ser uma porta de entrada para o mercado de trabalho, cresce a exigência por qualificação.

É o que mostra um estudo da consultoria de recrutamento Hays, que detecta aumento na complexidade das operações das empresas do comércio e mudança no perfil dos profissionais mais procurados, que inclui inglês fluente, boa formação e capa­cidade de fazer contatos internacionais.

“Como a demanda é descomunal, se a pessoa já trabalhou no varejo, fez um curso superior e uma pós, ela tem praticamente 100% de chances de ser bem contratada, com salário até 50% maior do que no trabalho anterior”, diz Daniel Plá, da Fundação Getulio Vargas do Rio.

Obras de infraestrutura e habitação aquecem a construção civil

Um passeio pelas obras do Porto Maravilha, na zona portuária da cidade do Rio de Janeiro, ajuda a entender o momento pelo qual passa a construção civil na economia do estado. São nada menos do que 7,6 bilhões de reais em investimentos, que incluem prédios residenciais, comerciais, museus e abertura de novas vias.

Seguindo para a zona oeste carioca, a maior em área, o trabalho de guindastes, andaimes e operários não é menor. Nessa região, a prefeitura licenciou 6 milhões de metros quadrados, a ser ocupados pelas obras da Olimpíada — como Parque Olímpico, Parque dos Atletas, Complexo Esportivo de Deodoro e Vila Olímpica —, além de lançamentos residenciais.

O barulho nos canteiros também se faz ouvir na zona norte do Rio, que recebe investimentos em mobilidade urbana, como as linhas de bus rapid transit (BRT), e está sendo revitalizada após a pacificação das favelas locais.

O dinamismo da construção civil acompanha os investimentos recebidos pela economia fluminense nos últimos anos. O grande salto foi em 2010, quando 22 000 profissionais foram contratados.

Neste ano, 10 000 empregos devem ser gerados pela construção civil em todo o estado. Os salários para engenheiros recém-formados variam de 8 000 a 12 000 reais. Profissionais mais experientes podem ganhar de 15 000 a 20 000 reais mensais.

Com o aquecimento econômico e a instalação de empresas de diversos setores no estado, cresce também a demanda por engenheiros para a construção de empreendimentos residenciais. “As indústrias, sobretudo a de petróleo e gás, trazem mão de obra de fora, e essas pes­soas precisam morar em algum lugar”, afirma João Paulo Rio Tinto de Matos, presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi).

Isso explica o movimento da construção civil também no interior. Além de moradia para os profissionais na capital, onde se concentram os setores corporativos das empresas de energia, municípios como Macaé (núcleo fundamental de operação da Petrobras) e a região de Itaboraí (cidade-sede do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) também abrigam grande quantidade de arquitetos e engenheiros trabalhando em projetos residenciais.

as, tanto para ingressar quanto para evoluir na carreira, é necessário estar em sintonia com as novas tecnologias. O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro (Sinduscon-RJ), Antonio Carlos Mendes Gomes, destaca que as obras estão cada vez mais informatizadas.

“O setor caminha buscando cada vez mais eficiência e produtividade. As obras demandam profissionais atua­lizados. Tablets, smartphones e seus aplicativos entram em cena. É indispensável lançar mão dessas ferramentas”, diz.

Esporte e negócios embalam o turismo

O Rio é a cidade brasileira mais procurada por turistas internacionais em busca de lazer. E os grandes eventos esportivos previstos para este ano e para 2016 deverão adicionar outros 2 milhões de visitantes nacionais e estrangeiros à Cidade Maravilhosa, aquecendo ainda mais o mercado para os profissionais de turismo. Só em 2014 a cidade do Rio de Janeiro deverá inaugurar mais 85 hotéis.

Com 22 000 quartos em operação, a capital poderá elevar esse número para 28 000 na Copa e 37 000 até os Jogos Olímpicos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (Abih-RJ), para cada novo quarto inaugurado, serão criados quatro postos de trabalho no setor receptivo turístico.

Nesse cenário, os profissionais de turismo tiveram aumento salarial superior a 30% de 2012 a 2013, conforme dados do site de empregos Catho. Percebendo o bom momento da área, a turismóloga Mariana Almeida, de 33 anos, complementou a formação nos últimos anos com cursos de espanhol e francês.

Essa aposta permitiu que ela atuasse como tradutora na Rio+20, conferência da ONU sobre o meio ambiente realizada em 2012, e como coordenadora de turismo na Jornada Mundial da Juventude, no ano passado. Hoje, Mariana é supervisora de atendimento executivo de um hotel na Barra da Tijuca, no Rio, e tradutora de eventos nas horas vagas. Mas continua investindo em qualificação.

Após um curso do Senac sobre gestão de receitas e análise de mercado no setor hoteleiro, ela se prepara para uma especialização em economia, gestão e cultura em turismo. “Meu salto salarial desde 2010 foi de 50%. Em 2009, quando o Rio foi escolhido para os Jogos de 2016, vi que estava no caminho certo, mas que a competição seria grande. Por isso continuei me especializando”, afirma.

Apesar da publicidade gerada pelos eventos esportivos, a prefeitura carioca também aposta na consolidação da cidade como destino do turismo de negócios. Por isso, durante a Copa a cidade também sediará a Rio Conferences, encontro de executivos, investidores e autoridades do setor público.

“A Copa é bem mais do que as semanas dos jogos. Enquanto estiver aqui, o executivo terá imersão nos setores econômicos de seu interesse”, diz Marcelo Haddad, presidente da Rio Negócios, agência de promoção de investimentos para o Rio.

A arrancada da indústria automotiva

Em menos de um mês, o polo automotivo que transformou nos últimos anos a região sul fluminense vai receber mais uma marca de peso. A Nissan chega ao município de Resende com investimento de 5,3 bilhões de reais e capacidade de produção de 200 000 veículos por ano.

Já são 1 850 profissionais contratados. “Temos um plano de recrutamento mensal. A estimativa é chegar a 2 500 trabalhadores na unidade. Há grande procura por engenheiros e planejadores de produção”, diz Vera Gobetti, diretora de recursos humanos da Nissan.

Para os cargos de coordenação, são estimados salários de 8 000 a 11 000 reais. Nos níveis de gerência, a remuneração varia de 11 000 a 17 000 reais. Mas os investimentos não param por aí. No meio do ano, na vizinha Itatiaia, a Jaguar Land Rover abre as portas de sua primeira fábrica nas Américas.

São 750 milhões de reais em investimentos até 2020, com estimativa de produzir 24 000 veículos por ano e gerar 400 empregos na fase inicial. Até 2020, o número de postos de trabalho poderá dobrar. A última a se instalar na região, no ano passado, foi a Hyundai Heavy Industries.

Localizada em Itatiaia, a unidade especializada em escavadeiras hidráulicas, pás carregadeiras e retroescavadeiras já gerou 500 empregos, com previsão de chegar a 1 500 até 2020. Outras três montadoras operam no polo: Man Latin America (Resende), Peugeot Citroën (Porto Real) e Neobus (Três Rios), ao lado de fornecedoras de partes e peças, como Michelin, Faurecia e Tachi-S.

Tantos investimentos se refletem no enriquecimento dos municípios da região. De 2007 a 2012, a receita dessas cidades cresceu 53,2%, ante 45% no resto do estado. Porto Real, sede da Peugeot Citroën desde 2009, viu sua receita dobrar em cinco anos e hoje oferece transporte público gratuito aos moradores. A cidade registrou a maior renda per capita nacional em 2012, de 8 782 reais.

O polo automotivo está situado entre Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, uma localização estratégica para escoar a produção e contratar mão de obra qualificada vinda dos três estados.

Rio, capital da cultura

O Rio de Janeiro é a capital brasileira da televisão e do cinema. Dos dez filmes nacionais de maior público dos últimos 16 anos, nove foram produzidos na cidade, que também abriga dois dos quatro maiores complexos televisivos da América Latina: o Projac, da TV Globo, e o RecNov, da TV Record.

Não por acaso, o Rio também concentra 1 800 das cerca de 6 000 produtoras de audiovisual brasileiras e encabeça a lista das maiores remunerações pagas aos profissionais da indústria criativa. Na capital fluminense, a média salarial desses profissionais é de 7 275 reais, ante 4 693 da média nacional.

Desde 2011, a produção audiovisual, em particular, recebeu um empurrão da chamada Lei da TV Paga, que determina que os canais fechados de entretenimento devem exibir, durante a semana, 3 horas e meia de conteúdo brasileiro.

Paralelamente, o Polo Audiovisual do Rio, que terá novo comando neste ano, deverá passar por uma revitalização orçada em 100 milhões de reais. Com as obras, 5 000 metros quadrados de estúdios serão reformados e outros 11 000 metros quadrados serão construídos.

Sinal da vitalidade da indústria cultural na região é o Rio Content Market, realizado neste mês na cidade com executivos brasileiros e estrangeiros de mídias digitais, broadcast e mobile de mais de 30 países. No ano passado, 50 milhões de dólares em negócios foram fechados após o evento.

Neste ano, foram 900 projetos inscritos, com público estimado de 3 000 pessoas. Mas nem toda a atividade se concentra na capital. Em Barra do Piraí, no sul do estado, funciona desde 2009 um polo audiovisual que qualifica mão de obra da área, com vistas em transformar a cidade em referência no setor.

O polo conta até com um núcleo de animação 3D, para estimular o ofício entre os jovens da região. Além disso, a Feira Literária Internacional de Paraty (Flip) é um dos eventos mais importantes do país no segmento. Desde 2003, o encontro atrai um público de 25 000 pessoas, com palestras, shows e exposições. O evento gera quase 1 000 empregos e 14 milhões de reais para a cidade.

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