Precisam-se de engenheiros
Alta demanda e baixa oferta de mão de obra acirra disputa por profissionais de engenharia dentro e fora dos grandes centros urbanos do país
Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2013 às 17h25.
São Paulo - Eles estão sendo considerados a cereja do bolo. Possuem uma formação acadêmica que reúne raciocínio lógico e analítico com a capacidade para detectar problemas, avaliar cenários e desenhar soluções. Tudo isso fez os engenheiros profissionais terem lugar cativo no mercado financeiro por muito tempo, o que continua sendo verdade.
Porém, o que mudou recentemente é que os engenheiros contam com mais oportunidades para atuar em sua área de formação, devido ao crescimento da indústria e dos setores ligados à infraestrutura. Empresas de praticamente todos os segmentos da economia disputam acirradamente essa mão de obra, que está aquém das necessidades do país, que deverá fechar o ano com 7% de crescimento do PIB.
Oportunidades não faltam, seja para quem ainda está na faculdade, seja para quem já está na estrada. A consultoria paulista em recursos humanos Ricardo Xavier detectou um aumento de 16% no número de vagas que exigiam graduação em engenharia entre janeiro e outubro deste ano em relação ao mesmo período de 2009. Foram 6 985 vagas nas regiões de São Paulo, Campinas (no interior paulista), Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Salvador.
São exemplos como o da fabricante Michelin, que vai contratar 30 engenheiros para a expansão da fábrica de pneus em Itatiaia, no Rio de Janeiro, até o fim de 2011. A empresa enfrenta dificuldade em achar engenheiros de projetos e manutenção. O motivo é a concorrência com as fábricas que estão se instalando na região de Resende, no estado do Rio de Janeiro, e em Santa Cruz e Campo Grande, na cidade do Rio.
O setor de petróleo e gás também sofre do mesmo mal. Nesse caso, a explicação está na recente formação do mercado. “Até pouco tempo atrás, só existia a Petrobras, que contratava sozinha praticamente os poucos que se especializavam nessa indústria. Hoje, a gente coloca um profissional numa companhia e corre o risco de ele sair poucas semanas depois para uma concorrente que paga mais”, diz a consultora de recursos humanos Jacqueline Resch, do Rio de Janeiro.
A situação é tão crítica que tem empresa abrindo mão da experiência em troca do desenvolvimento de potenciais, como é o caso da norueguesa Statoil, especializada em perfuração de poços de petróleo. “A demanda é sem dúvida maior do que a oferta, mas eu acho que é um desafio para as companhias e para o país trabalhar no desenvolvimento de pessoal. A gente não vê essa situação de forma pessimista. Prefiro vê-la com viés otimista”, diz Fernando Carvalho, diretor de RH da Statoil.
A empresa anuncia para 2011 a abertura de pelo menos 15 vagas. Somente os planos de expansão da Petrobras preveem criar 12 720 postos de trabalho para engenheiros até 2014. Além dela, o mercado de exploração e produção de petróleo no Brasil tem outros atores de peso, como a própria Statoil, as americanas Chevron, Exxon, Devon e El Paso, a anglo-holandesa Shell e a espanhola Repsol.
Desde que começou a formar seus próprios engenheiros ferroviários por meio de cursos de pós-graduação, a América Latina Logística (ALL) tem registrado um crescimento de 10% no número de inscritos a cada ano. Pudera, a companhia cresce a uma média de 10% ao ano e tem contratado 30 engenheiros anualmente desde 2006.
O mercado de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica também vive um bom momento na área de projetos e operações. “Basta lembrar que o crescimento do setor energético brasileiro é proporcional ao do PIB e, se as projeções estiverem certas, isso pode representar um crescimento de pelo menos 5% ao ano”, diz Caio Arnaes, especialista em recrutamento da divisão de engenharia da Robert Half.
Desde 2002, as regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste vêm ganhando destaque na economia e na participação do PIB, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Diante dessa realidade, que deverá se acentuar nos próximos anos com a necessidade de grandes obras de infraestrutura em todo o país, ter flexibilidade para migrar para outras cidades ou regiões é uma boa dica para quem quer investir nessa carreira.